Capítulo 64

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Como de costume, o castelo encontrava-se à mil. Mas, desta vez, não era por um bom motivo. A declaração aberta de guerra de Velstand contra Velorum deixou todos os funcionários, até mesmo os mais preparados soldados, em estado de desespero. Lorcan precisou de uma reunião urgente com seu novo conselho de representantes para traçar um plano de guerra.

Por mais que queira participar dessa reunião, precisava treinar. A correria como rainha de Velorum me impediu de seguir com os treinos nessa semana.

Njal é ágil em seus movimentos, jogando o enorme machado com espinhos nas pontas em minha direção. Rapidamente, inclino o corpo para trás vendo a lâmina passar à poucos centímetros do meu rosto. Logo, recupero a postura e avanço com minhas duas espadas. Ele bloqueia com certa facilidade, mas não esperava pelo meu próximo movimento. Abaixo-me recuando as espadas e, pela força exercida, o corpo do oponente pende para frente. Então, encurto a nossa distância e ergo uma das espadas, apontando-a para o pescoço dele.

— Fim de batalha! — exclama Raven, fazendo o papel de "juiz" da luta.

O ruivo abria um largo sorriso, guardando o machado para apertar a minha mão. Os seus dedos grandes e calejados envolvem a palma da minha mão com uma facilidade assustadora.

— Você foi incrível, Diane! Essa é a primeira vez que derrota um de nós.

— O Lorcan não pegou leve comigo no treinamento desse mês.

— E os resultados são bem evidentes.

Quando vou concordar com o comentário de Njal, ouço um grito feminino do outro lado do campo de treinamento. Katlyn havia derrubado um soldado, jogando-o sobre seus ombros. Todos os demais estavam boquiabertos com tamanha demonstração de força e técnica. Em resposta, a mulher apenas bufava revirando os olhos antes de sair do local.

— Hoje é um dia ruim para a Kat. — murmura Raven.

Pisco os olhos, confusa.

— Por que?

— Acho que ela levou um fora, algo do tipo. Kat não costuma desabafar com ninguém.

— Vamos deixá-la em paz. — comenta Njal. — Raven, precisamos ir. Lorcan nos quer em sua sala para repassar o plano de guerra.

O espião cruzava os braços, fazendo bico.

— Mas era a minha vez de treinar com a Diane! Eu iria ensiná-la a lutar sem algum membro, seria divertido.

O meu sangue gela. Njal resmunga antes de colocar Raven em seus ombros como se fosse uma simples pena e seguir para o interior do castelo, sob os inúmeros protestos e ameaças do menor.

Enquanto os observo saírem, penso em um diálogo que tive com Njal onde o ruivo disse que eu deveria dar uma chance à Katlyn. Particularmente, não queria ser próxima de uma pessoa tão arrogante e egoísta, mas algo em meu interior pedia para tentar. Afinal, as palavras do ruivo continuavam a ecoar em minha mente:

"Katlyn não é uma pessoa ruim. O problema é que ela só consegue absorver sentimentos negativos e se permite ser afogada por eles."

***

A arqueira estava no vasto jardim, arrumando o seu colete de couro. O longo cabelo, agora molhado, escorria por suas costas tocando a cintura fina da mulher. A sua pele negra reluzia sob a luz do Sol. O início da primavera dava sinais, principalmente por causa do evidente calor naquela tarde.

Tento ser silenciosa ao me aproximar, mas ela escuta quando piso em um galho seco. O seu corpo vira, quase que instantaneamente, em direção ao som. Então, ao constatar de quem se trata, a expressão de arqueira torna-se tão mortal quando as flechas presas em sua cintura.

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