Capítulo 33

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Após retornar ao ducado de Icarus, Lorcan se trancou no escritório com Njal e Katlyn para os informar do resultado produtivo da reunião. Enquanto o vilão fazia suas jogadas, decido ir ao estábulo matar minha saudade da Polar. A égua trotou em minha direção com ânimo, pedindo carinho ao empurrar o focinho largo contra a palma da mão. Ela era tão dócil comigo como se tivéssemos estabelecido uma conexão inquebrável.

— Eu também senti sua falta. — murmuro acariciando sua crina macia. — Tanta coisa aconteceu comigo. Às vezes, penso que o Christian é egoísta e só pensa em seus próprios problemas. Mas ele é o protagonista e isso não devia acontecer, certo? Digo, protagonistas são perfeitos. Ao menos, eu o criei para ser...

Polar olhava no fundo dos meus olhos e, por um instante, sinto que está me aconselhando silenciosamente. Sorrio em resposta e espero um dos funcionários do celeiro ajustar os equipamentos para, enfim, poder montá-la.

A sensação de cavalgar pelo vasto campo gramado da mansão é revigorante. Polar trotava em círculos mantendo um ritmo constante. A brisa batia em meu rosto, jogando algumas mechas para trás. Então, quando ninguém está vendo, arrisco-me a aumentar um pouco a velocidade e começo a rir com as cócegas do vento contra meu corpo. Queria continuar apreciando essa sensação de pureza, como se fosse uma ninfa da floresta em contato com a natureza.

Porém, lembro daquele dia onde o maldito senhor Rudson passou a mão em meu corpo.

Instantaneamente, puxo as rédeas e Polar parava de maneira brusca soltando um relincho como resmungo. O meu corpo tremia e a respiração estava desregulava. A sensação repulsiva das suas mãos em cada parte de mim me causava calafrios e reviravoltas no estômago. Então, virei o rosto para o lado vomitando o meu café da manhã.

Pensei que havia esquecido daquele episódio, mas a minha mente apenas esteve ocupada demais para pensar no ocorrido.

Desci às pressas da Polar a entregando para o primeiro empregado à vista. Em seguida, corri em direção ao meu quarto aos tropeços enquanto as lágrimas atrapalhavam a visão. Só queria sumir para sempre e apagar essas lembranças. Sem querer, acabo esbarrando em alguém recuando alguns passos. Não consegui pedir desculpas por causa do nervosismo e a tremedeira.

— Inspire profundamente. — dizia a voz masculina e firme do outro lado. Não soube identificar se era uma ordem ou um conselho, mas obedeci. — Isso. Continue assim. Agora, me diga, quantos anéis Flinch tinha em seus dedos?

Que diabos de pergunta é essa?

O meu olhar permanece focado no chão, apesar de estar prestando atenção nas suas instruções. Em minha mente, revivia as lembranças da reunião com o rei Barton e o seu conselheiro. Forcei a memória ao máximo visualizando a imagem das mãos dele sobre a mesa, batucando os dedos com inquietude.

— Seis anéis...

— Correto. Sua memória é invejável, Diane.

Ergo a cabeça para o semblante neutro de Lorcan. A minha respiração já havia voltado ao normal sem ter percebido. Talvez seja um efeito do seu exercício de concentração ou a sua voz cause essa sensação inexplicável de paz. As lágrimas ainda rolavam por minha face, mas não estava sendo engolida pela angústia daquelas memórias traumatizantes. Tudo girou entorno dos olhos azuis do duque e como eles conseguiam me prender, arrastando-me para longe da realidade.

— Eu... Eu estava...

— Não tenho interesse em saber o que se passava em sua mente. — respondia com rispidez, erguendo o queixo em sinal de indiferença. Mas pude jurar ver um brilho de alívio em seu olhar. — Apenas a controle. Dome o monstro que a destrói e o torne o seu maior aliado.

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