Capítulo 49

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O olhar dele vacilou por breves segundos, desviando-se para o chão. As mãos apertaram com força a amurada e consigo ver os músculos se contraindo contra o tecido de veludo do seu terno. A sua respiração estava pesada e, silenciosamente, temi que o homem tivesse um ataque de pânico naquele momento. Contudo, precisava de uma resposta mesmo já sabendo a verdade. Precisava ouvir dos seus lábios. Dos seus lindos e delineados lábios. Calma, Natasha. O foco não é esse.

— Por que fez o pedido?

Lorcan respirou fundo, como se reunisse toda a coragem entorno de si. Os seus olhos voltaram-se em minha direção e havia certa tristeza em seu semblante. Arrisco-me a dizer que tinha um misto de receio também. Talvez ele pensasse que eu fosse me afastar com a sua resposta.

— Eu não sei. Na hora, foi a única coisa que eu consegui pensar. Depois de ser odiado por todos, no fundo... Eu só queria... — a sua voz falhou e, novamente, o seu foco tornou-se os próprios pés, cobertos por aqueles belos e brilhantes sapatos sociais. — ... Que alguém me visse de uma forma diferente. Mas como você sabe?

Ao proferir a pergunta, percebo que ele me encarava de canto. Agora, é a minha hora de ser sincera. Ou, ao menos, em partes. Não podia contar que era a escritora de Velorum, criadora desse universo. Duvido muito que o duque levaria essa informação tranquilamente e, depois de saber que ele estava disposto a arrancar a cabeça da possível autora, o silêncio é a melhor opção.

— Eu também fiz o pedido à estrela.

Lorcan piscava rapidamente os olhos, incrédulo.

— Você... Como...

— Estava em um momento difícil, sentindo-me a pessoa mais solitária do mundo e... — dou nos ombros rindo forçado. — Cá estamos.

— A lenda dizia sobre outro mundo. Você é daqui?

Queria ser sincera mas, infelizmente, não podia. Pelo menos, não por completo.

— É difícil explicar mas peço que, por enquanto, seja compreensivo e não pergunte nada.

— Não sei o que dizer, Diane...

— Natasha. Esse é o meu verdadeiro nome.

Passei muito tempo como Diane que, às vezes, esquecia quem eu realmente era. Talvez, no fundo, Natasha e Diane sejam a mesma pessoa, mas de mundos diferentes. Porém, temia perder a minha identidade e, por isso, queria que ao menos Lorcan me chamasse pelo meu verdadeiro nome.

Ele não expressou nada, nem surpresa ou confusão. Poderia perguntar o porquê de ter ocultado o nome real, mas parece que havia respeitado o meu segredo. Afinal, como um guerreiro ardiloso, não duvido nada que possuía os seus próprios segredos.

— Natasha... — ele proferia com aquela voz rouca e arrastada. Um arrepio percorreu todo o meu corpo, ao mesmo tempo que sentia uma inquietude em meu interior. Céus, esse homem é um perigo. — O que fará?

Imediatamente, identifiquei o que havia nas entrelinhas da sua pergunta. Lorcan deixou a escolha em minhas mãos. Podia dar as costas e fingir que toda essa loucura de estrela não passou de uma mera coincidência. Ou iria encarar a realidade e o fato de estarmos ligados de alguma forma.

— Eu quero estar ao seu lado, Lorcan. É só isso que eu sei. E você deseja o mesmo?

O seu corpo virava-se completamente em minha direção. O olhar tão penetrante que atravessou minha alma, conectando-a com a sua.

— Eu não poderia desejar outra coisa mesmo se quisesse. Não quando me sinto vazio longe de você.

Os nossos olhares estão conectados. O silêncio instaura-se pelo local por longos segundos, já que ainda estávamos ingerindo as informações recentes. A pessoa à minha frente é a minha alma gêmea. No começo, pensei ser o Christian e criei altas expectativas de como iríamos nos relacionar. Mas agora? Só quero deixar rolar, sem preocupação alguma. Essa pode ter sido a jogada mais sábia ou mais desastrosa do destino. E tínhamos muito tempo para descobrir.

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