Capítulo 12

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O rei abriu os olhos, incomodado pela luz invadindo o cômodo. Ele se manteve deitado, mal dando-se conta de que o lobo havia entrado no galinheiro. Lorcan dava o primeiro passo fechando a porta atrás de si e a iluminação da Lua era a única no quarto. O tom azulado entrando em contraste com o preto das roupas do duque.

— É prazer revê-lo, majestade.

Aquela voz gélida cortou o silêncio como uma lâmina atingindo o vácuo. O corpo do rei tornou-se tão tenso e duro como uma rocha. Lentamente, ele virou o rosto em direção ao homem de olhos frios e sem vida.

— Lorcan? O que faz aqui?! Nós fizemos um acordo para que não comparecesse ao baile!

— Regras e mais regras. Elas só são divertidas para pessoas que as cria e não tem que segui-las, como o senhor.

O rumo que a conversa tomaria me fez ter a certeza de que deveria ficar escondida. Talvez o rei me protegesse caso o duque tentasse algo comigo, mas não estava a fim de descobrir. Não quando os olhos de Lorcan possuíam um brilho sanguinário.

O rei tenta se mover em uma tentativa de expulsá-lo do seu quarto, mas só consigo ver o corpo dele remexendo-se na cama. Era uma situação muito estranha, tanto que franzo o cenho confusa. O duque parou ao lado da cama com ambas as mãos repousadas sobre as costas, a face permanecia aquela máscara indecifrável.

— O que... Você...?

A voz do rei saía um pouco trêmula enquanto o monarca ainda tentava, miseravelmente, mover o seu corpo.

— O chá estava delicioso, majestade? Claro que sim, dizem que a erva paralisante é tão doce quanto uma amora.

Nesse momento, eu e o rei estamos com a mesma expressão surpresa. Uma súbita onda de terror me atinge em cheio pois, em momento nenhum, lembro de ter colocado alguma erva com esse efeito no chá de Erick, o que só pode significar que o duque teve acesso à cozinha para colocá-la em minha mistura caseira.

Merda! Eu envenenei o rei sem saber.

A minha vontade era gritar com o maldito Lorcan, mas era inútil confrontar esse homem. A postura dele, sua voz e habilidade em combate eram o convite necessário para qualquer pessoa inteligente manter distância. Eu só podia torcer para que Christian ou algum guarda aparecer antes que o pior acontecesse.

— Você perdeu a cabeça, Lorcan?! — exclama o rei.

— Há muito tempo, majestade.

— Chega de brincadeiras. — repreende-o sério. — O que você está fazendo é contra o que o seu pai desejava.

— A forma como está me estimulando a continuar é única. — ele comenta com sarcasmo. — Tudo que eu desejo é não seguir o mesmo caminho que aquele miserável.

O rei lança algum xingamento antes de desistir de se debater, focando inteiramente no duque que parecia se divertir com a sua situação desesperadora.

— O que planeja fazer?

— Acabar com esse poder vitalício que a sua família possui, mas isso é um objetivo à longo prazo. Por hora, gostaria de saber quais serão as suas últimas palavras.

O nervosismo percorria cada parte do meu corpo e rezei para que qualquer divindade mantivesse a minha presença em oculto. Eu mal conseguia me manter em pé e apertava a coberta contra o corpo com tanta força que sentia as articulações dos dedos doerem.

— Nem ouse fazer isso! — o rei ameaça. — Você recebeu todo o treinamento e apoio para ser um membro de confiança da minha família. Eu confiei em você... Como pôde? Eu te tratei como um filho.

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