Capítulo 25

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Eu precisava salvá-la.

Martha demonstrou ser uma amiga compreensível e uma pessoa incrível. Por isso, o meu peito doía ao lembrar do seu triste final na obra: assassinada por um espião de Lorcan. De acordo com minha narração, ela será morta enquanto retorna para o seu quarto após a feira na capital. O espião enviado será descoberto e terá que matá-la para ocultar a sua presença.

A vantagem é que possuía conhecimento sobre esse acontecimento, mas interferi tanto na linha do tempo, tentando ocupar o lugar da protagonista, que temo não possuir nenhum controle sobre o futuro.

De qualquer forma, preciso fazer algo para evitar que ela e o espião se encontrem.

Uma parte positiva dentro de mim torcia pela continuidade do clima de paz. Porém, tudo mudou quando todos no castelo demonstraram uma súbita euforia. Os guardas dos portões enrijeceram suas posturas. Christian surgiu na entrada desfilando com sua roupa militar de tonalidade branca e a coroa de ouro, perfeitamente colocada sobre seus fios loiros que reluziam no Sol. Desta vez, poucas empregadas comentaram sobre a sua beleza divina, pois o foco estava na cena de horror à poucos metros dos portões do castelo.

Três corpos foram jogados na frente da entrada. Todos com os ossos retorcidos em posições que, particularmente, duvido que o corpo humano seja capaz de fazer. Os dentes faltando em suas bocas e o sangue seco no canto dos lábios. Imediatamente, lembro-me da conversa com Lorcan.

— Ele era um espião do reino vizinho. No código militar, arrancar os dentes é um recado para o inimigo: "Nós podemos calar o seu soldado da mesma forma que podemos dizimar seu exército."

Havia sido o duque. Sem sombra de dúvidas, aquele homem ardiloso e cruel mandou esse silencioso recado.

Em uma ordem firme, Christian dispensou os curiosos e chamou quatro guardas para recolherem os corpos e outra empregada para limpar o sangue da entrada. De maneira receosa, ousei me aproximar dele e questionar:

— Eles eram os espiões enviados para Icarus, certo?

Christian pareceu surpreso com minha dedução, mas estava abalado demais para perguntar como eu sabia sobre esse código.

— Sim. Pelo visto, Lorcan já estava esperando por essa abordagem.

Um passo à frente. O vilão sempre fazia suas jogadas prevendo o contra-ataque de Christian. O rei apertava os punhos ao lado do corpo, respirando pesadamente. Podia imaginar o sentimento de impotência que o atormentava. Ele queria manter o seu povo seguro mas o seu maior inimigo era, ao mesmo tempo, seu aliado e amigo de infância.

— O que fará?

O olhar dele ainda estava focado nos corpos sendo arrastados quando respondeu:

— Redobrar a segurança no castelo e nas ruas de Velorum. Temo que minha atitude precipitada o irritou.

— Não o punirá pelas mortes?

Um longo suspiro escapa dos seus lábios.

— Infelizmente, não é possível. O erro foi meu. Duvidei da confiança de Lorcan e ele tinha todo o direito de revidar.

— Mas seus homens morreram! — exclamo atraindo alguns olhares curiosos em nossa direção, mas ignoro por causa do sangue fervendo. — Ao menos, não permita que ele venha ao baile nesse final de semana.

— Eu estaria o confrontando duas vezes seguidas, Diane.

Covarde. Christian estava agindo como um completo covarde para evitar a fúria do vilão. Para alguém que faria qualquer coisa por seu reino, ele estava recuando demais.

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