Capítulo 22

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A carruagem que me esperava nos portões do castelo era preta com detalhes dourados nas portas e nas rodas. Tudo reluzia como ouro. O cocheiro tinha expressões tão rígidas quanto a governanta e trajava roupas cinzas, além de um chapéu da mesma tonalidade com uma pena branca na ponta. Ele sequer olhou para mim quando abriu a porta, mantendo a sua atenção fixa no horizonte.

— Eu vou viajar dentro da carruagem?

Uma expressão de incredulidade correu por sua face em uma fração de segundos.

— Espera-se que sim, senhorita.

Ainda assim, esperei alguns segundos para ter certeza de que não se tratava de uma brincadeira de mal gosto. A sombra de impaciência percorreu os olhos e ele respirou fundo, dizendo:

— Vossa Graça não costuma seguir as regras de etiqueta da família real. Ele as considera... — ponderava as palavras como se buscasse o termo correto em sua memória. — ... Antiquadas. Agora, podemos ir? O meu senhor não me permite trocar palavras fora de Icarus.

É mesmo. As pessoas do seu ducado são extremamente reservadas.

Assinto com a cabeça e entro na carruagem antes de ser jogada à força. O interior é totalmente vermelho, desde o banco macio até as cortinas nas janelas. Enquanto me distanciava da capital, apertava a mala sentindo uma angústia em meu interior. Christian tinha uma intenção nobre ao me mandar para o território do seu suposto rival, mas parte do meu coração doía ao saber que estou sendo usada para os seus interesses. Eu não queria duvidar da conexão que possuo com ele, mas é difícil crer que o mesmo homem louvado por sua gentileza seja capaz de mandar uma simples empregada para o covil do vilão.

Não vou pensar muito nisso, não agora. Tenho outras prioridades no momento.

A paisagem mudava aos poucos. A vegetação perdia a cor vívida do verão, dando espaço para árvores de galhos secos e retorcidos. A vida parecia não existir naquele lugar. Tudo era tão mórbido e assustador. As únicas árvores intactas eram altos pinheiros que compunham uma densa floresta a qual a carruagem adentrou. Eu já estava me preparando para um ataque de ladrões quando saímos da mata. Então, arregalei os olhos diante do enorme muro de pedra de entorno de dez metros separando toda Velorum das terras de Lorcan.

A grama parecia retornar ao tom vívido entorno do muro e um rio percorria no exterior. Havia algumas carroças do lado de fora, onde camponeses recolhiam água enquanto conversavam alegremente. Eu não vi terror ou medo em suas faces, mesmo quando tinham um tirano no poder.

Após receber a confirmação de um dos guardas, adentramos no ducado e o meu queixo quase toca o chão. As ruas eram organizadas de forma simétrica, evitando a colisão das outras carroças ou do povo. O chão inteiramente coberto por pedrinhas regulares de tonalidade marrom e outras bege. As construções das casas eram bem complexas para a época e a maioria possuía dois andares. Entre as ruas, havia bandeiras de roxas e azuis como o céu estrelado. Os comerciantes esbanjavam uma variedade absurda de produtos e eu vi a fartura daquele ducado. Mesmo vivendo entorno da uma terra infértil, o povo de Icarus era rico.

Em cada rua, encontrava-se um soldado monitorando o povo como um gavião de olho nos filhotes de seu ninho. A carruagem parou quando estávamos diante de um castelo no topo de uma colina e, ao sair, admirei a imensidão da construção. O lugar parecia um castelo assombrado por causa das enormes janelas sem portas, dando a visão da escuridão do seu interior. O castelo era basicamente composto por duas enormes torres nas extremidades dos muros, seguidos de outras torres maiores e mais finas atrás de si. Os cinco andares eram proporcionais, como se fossem uma pirâmide. A base larga até a ponta estreita onde, provavelmente, só caberia dois cômodos.

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