Capítulo 55

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Raven e sua equipe nos encontraram algumas horas depois. Ele estava com Polar e o cavalo do duque, alegando ter passado em Aryan e encontrado o reino em um completo caos. Eleonor contou sobre o ocorrido para o espião e disse que seus soldados encontraram o cocheiro morto na estrada.

O espião usou suas habilidades para nos localizar em meio àquela floresta densa. Tentei informar sobre o estado do duque, mas estava tão fraca que acabei desmaiando. Tudo ficou escuro e as vozes, gradativamente, foram tomadas pela escuridão.

Ao abrir os olhos, estava no meu quarto em Icarus e havia uma bandeja com remédios na cômoda. Sentei com dificuldade na cama, passando os dedos entre os fios emaranhados do cabelo.

— É um alívio vê-la acordada.

Viro o rosto em direção à dona da voz, encontrando o sorriso acolhedor de Agatha junto com as leves rugas no canto de seus lábios. Ela aproximava-se após pegar a bandeja e entregava um copo com um líquido verde para mim. Após uma breve troca de olhares, bebo de uma vez o remédio caseiro sem ocultar a expressão de nojo. O sabor é amargo e parecia rasgar minha garganta.

— Por quanto tempo fiquei desacordada?

— Um dia e meio.

Uma imagem vem à minha mente: Lorcan sangrando sobre a neve. Dou um sobressalto da cama, mas a visão escurece e preciso me apoiar na mulher.

— Diane, você tem que- descansar!

— Como está o Lorcan?

— Acalme-se primeiro e depois-...

— Diga-me como ele está! — exclamo com uma leve tremedeira em meu corpo, um misto de preocupação e medo. Não iria chorar como antigamente, mas era inevitável essa angustia em meu peito. — Por favor...

Agatha conduzia-me novamente para a cama e acaricia meu rosto com ternura. Ela tinha um olhar tão amável que, sem ao menos perceber, minha respiração se acalma.

— Ele está bem. O corte foi superficial e já está devidamente tratado. Agora, o senhor De'Ath se prepara para a guerra.

A sensação de desespero retorna aos poucos, tornando o ambiente sufocante até a porta ser aberta de forma brusca. Quando encaro a feição preocupada do duque, abro os braços em um pedido indireto. Ele atravessava o quarto em uma fração de segundos antes de se jogar em meus braços, apertando-me carinhosamente.

Agatha sorria diante da cena, despedindo-se com um aceno tímido.

Lorcan afastava o rosto, tocando minha bochecha com a ponta dos dedos, sem luvas. Percebi que, aos poucos, ele estava aceitando as próprias cicatrizes. Não havia vergonha ou receio em mostrá-las.

— Você não pode ir à guerra, Lorcan. Eu não posso perdê-lo.

Um sorriso fraco formava-se em seus lábios, quase imperceptível. O duque apoiava a sua testa na minha, fechando os olhos enquanto continuava o toque sutil em minhas bochechas, passeando os polegares com delicadeza.

— Eu ficarei bem. Nenhuma guerra irá me afastar de você. E eu preciso proteger Icarus.

Assinto em silêncio. Ele continuava a falar sem interromper a carícia em meu rosto e o toque de nossas testas.

— As tropas de Velorum estão perto das fronteiras. Eu e o meu exército precisamos marchar até eles.

A minha garganta seca e o aperto mais ainda no abraço.

— Quando será?

— Amanhã.

Aquele quarto estava muito pequeno e diminuía cada vez mais. A angustia de perdê-lo consumia o meu peito, mas não iria demonstrar fraqueza. Confiava nas habilidades de Lorcan e agora era uma guerreira de Icarus. E guerreiros não enfrentam batalhas com receio, e sim ânimo. Por isso, deposito um beijo demorado e afetuoso na testa do duque para transmitir todas as minhas vibrações positivas.

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