Uma voz distante me chamava. Ela se tornava cada vez mais alta, porém continuo encarando um ponto qualquer do enorme salão principal até sentir um fraco tapa em meu rosto. Em resposta, tenho um leve espasmo e projeto os braços para frente como forma de proteção, apesar de reconhecer que seria inútil levando-se em conta a minha força. Então, ao ter uma percepção melhor do ambiente, percebo estar lavando o piso do salão. Cherly estava ao meu lado com os braços cruzados e uma expressão nada amistosa.
— Er... Acho que passei tempo demais no meu devaneio, não é?
— Imagina. Eu só fiquei preocupada porque pensei que sua alma tinha saído do corpo. — ela ironiza. — O que deu em você, Diane? Desde hoje de manhã parece que está no mundo da Lua.
— Nada demais.
— Não pode mentir para a sua amiga. Isso é feio.
Apreensiva, mordo o lábio desviando o olhar. Eu nunca tive uma amiga para falar sobre garotos, então me sentia um tanto quanto envergonhada por iniciar esse assunto. Além do mais, não se tratava de uma pessoa qualquer, era do príncipe que estávamos falando. Por isso, olho para os lados certificando-me de que somos as únicas no salão e conto sobre a minha última noite com o Christian. Depois do beijo, ele se despede com um sorriso gentil deixando essa boba escritora sorrindo no jardim. E, desde então, estou suspirando pelos cantos.
Cherly escutava tudo alternando suas expressões conforme relato os acontecimentos. Os seus olhos quase saltam das órbitas quando narro o beijo e cubro a boca dela antes que um grito estridente ecoe por todo o palácio. Quando a empregada acalma os ânimos, segura as minhas mãos e comenta:
— Você virou a concubina dele, Diane!
— O que?! Não, não! Eu já disse que não sou nada disso! — exclamo totalmente indignada com a sua colocação. Tornar-se a concubina de Christian seria um tiro final em minha autoestima. Uma vozinha teimosa em meu interior diz que eu mereço mais do que isso. — Eu senti que havia um sentimento naquele beijo.
— Amor?
— Acho que é cedo para deduzir isso, mas quem sabe.
— Céus, eu ainda não acredito que minha amiga beijou o príncipe!
Rapidamente, pressiono o dedo indicador nos lábios em um pedido discreto de silêncio. Cherly o entende e assente com a cabeça.
— Perdão, eu me empolguei. Mas então, o que vocês são? Amantes?
— Eu não sei, mas prefiro não pensar muito nisso. — admito abaixando o olhar. — Deixarei que o príncipe decida, ele é a melhor pessoa para isso.
— Realmente. Você é muito avoada, tenho medo que complique a situação.
Uma risada escapa dos meus lábios e concordo silenciosamente.
— Eu posso ver seus olhinhos brilhando, isso é bom. A sua felicidade é a minha felicidade, Diane.
— Obrigada, Cherly.
A minha amiga — e agora digo com convicção essa palavra — abre um sorriso genuíno, apertando minhas mãos com ternura. Eu nunca recebi o apoio singelo de ninguém, exceto pelas poucas vezes em que Bryan me apoiava em meus novos livros, mas não se comparava ao pilar que Cherly tem sido para mim. E pensar que eu dei pouco destaque à essa personagem incrível na obra.
— Não está na hora de dar os remédios ao seu sogro? — ela questiona com um sorriso de canto e dou um leve tapinha em seu braço, rendendo em uma risada descontraída da sua parte. — O que? Eu só disse a verdade.
— Ora...
Mas ela estava certa, por isso trato de ajudá-la o mais rápido possível antes de correr para a cozinha onde preparo o chá e os remédios caseiros.
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Velorum
RomanceUm pedido. Duas almas conectadas. Uma nova realidade. Natasha Martin é uma escritora que perdeu o seu ânimo após seu livro, Velorum, ser alvo de críticas negativas. Depois de retornar para o apartamento, decepcionada com uma descoberta do seu namora...