Lorcan odiava contato físico à todo custo. Ele foi criado para se sentir desconfortável com o toque alheio, tanto por causa do seu autismo leve quanto pelo trauma na infância. Para um guerreiro, o corpo era um templo intocável. Contudo, no caso do duque, seu corpo já havia sido violado pela tortura de anos atrás. Mas ele ignorou todo o desconforto para me tocar.
Enquanto ia em direção ao escritório do rei, encaro a própria mão com um olhar distante. Por mais que doa admitir, senti um pouco de empatia pelo vilão. Na verdade, nem sempre ele parecia alguém capaz de dizimar exércitos e matar inocentes.
Ao abrir a porta, Christian ergue o olhar indo em minha direção em questão de segundos. O seu abraço é apertado e reconfortante. Por um instante, esqueço do meu questionamento anterior sobre o duque e foco unicamente em nossos corpos colados.
— Ele não te machucou, certo? — questiona ao se afastar.
Pondero se os ferimentos do treinamento contam como machucados mas, no final, nego com a cabeça ouvindo o seu suspiro de alívio.
— Então, como é o ducado dele?
De uma forma incompreensível, sentia-me desconfortável em delatar Lorcan. Mesmo que seja a única medida cabível para impedir as suas atrocidades, as pessoas em Icarus pareciam tão felizes dentro da enorme muralha. Elas estavam protegidas do mundo exterior, apesar de que esse sentimento de proteção vinha com o preço das vidas inocentes ceifadas pelo vilão e o seu exército. Então, para impedir que mais mortes aconteçam, abafo qualquer desconforto e começo a falar:
— O senhor De'Ath negocia os produtos com outros reinos, mas nem todo acordo é sobre a compra de alimentos. Ele está disfarçando o seu real objetivo quando, na verdade, faz acordos ilícitos com outros monarcas.
Christian pisca os olhos incrédulo e gesticula para que eu prosseguisse.
— Eu suspeito que o reino Aryan e Valfem estejam envolvidos, pois encontrei um acordo suspeito em seu escritório. Durante essas duas semanas, também analisei a forma como as pessoas em Icarus vivem e elas não são assustadoras como o restante de Velorum pensa.
O loiro senta no sofá e o acompanho sentando na poltrona do outro lado.
— Eles são reservados e, na maior do tempo, sérios. — dizia Christian apoiando o cotovelo no braço do sofá, repousando a bochecha na palma da mão. — É óbvio que não é motivo para tais boatos, mas aconselho não abaixar a guarda perto deles. Nunca se sabe quando podem atacar.
Contenho a vontade de contar sobre pessoas como Isaac e Arvid que possuem corações puros. Eles não passam de crianças que já sofreram muito por causa do antigo rei de Velorum, vulgo o pai de Christian. Contudo, o silêncio é o melhor a se fazer em momentos como esse, afinal não adiantaria nada ir contra ele.
— Lorcan deseja aumentar o seu exército pois, segundo ele, não possui uma quantidade necessária para cumprir o seu objetivo.
— E qual seria?
— Eu não sei mas tudo indica que seja um futuro golpe. Ele quer ser o rei de Velorum.
Christian deixa escapar uma risada melodiosa dos seus lábios, negando a cabeça como se fosse impossível essa opção. Em partes, a sua reação é compreensível porque ele e o duque eram amigos de infância. E é sempre difícil aceitar que uma pessoa de confiança irá nos trair. Mas Christian, como rei, não pode subestimar o vilão.
— Christian... — murmuro em um tom repreensivo. — O duque não é um tolo. Não deveria dar as costas para esse homem.
— Eu sei, Diane. Mas Lorcan nunca demonstrou interesse pela coroa. E francamente, ele sequer saberia como administrar um reino. Para isso, precisaria ser amado pelo povo e bem... Infelizmente, nós dois sabemos que isso não é possível.
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Velorum
RomanceUm pedido. Duas almas conectadas. Uma nova realidade. Natasha Martin é uma escritora que perdeu o seu ânimo após seu livro, Velorum, ser alvo de críticas negativas. Depois de retornar para o apartamento, decepcionada com uma descoberta do seu namora...