Capítulo 43

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A mentira de Raven nos levou para a pior situação possível. Enquanto a carruagem nos conduzia para o outro reino, Lorcan havia explicado que ele e o rei de Mandrariam lutaram algumas batalhas lado à lado. Então, os dois criaram um laço de confiança com o passar dos anos. Ao saber do possível golpe, o rei de Mandrariam, William Mourt, não pensou duas vezes em aceitar. Contudo, segundo as informações de Raven, a sua esposa confiava demais no oráculo que usava para consultas semanais. O espião afirmou que a consulta mais recente revelou que "apenas o amor será capaz de trazer vitória na guerra". Preocupada com o estado do marido, a sua esposa, Iris Mourt, decidiu que só apoiaria a aliança se houvesse um sentimento forte envolvido.

— Não acredito que Raven mentiu descaradamente. — resmungo afundando os dedos no meu cabelo enquanto apoiava os cotovelos sobre as coxas. — Tudo para garantir a aliança. E por que logo eu?

Lorcan suspirava com pesar, mantendo-se em silêncio. A terceira pessoa na carruagem estalava a língua no céu da boca, fuzilando-me com o olhar. A presença de Katlyn era assustadora e sufocante mas, de acordo com o duque, ela é a pessoa mais qualificada para nos acompanhar.

Mas eu tinha minhas dúvidas, principalmente quando sentia que à qualquer momento ela atravessaria uma flecha pelo meu corpo.

— Podiam mandar uma carta informando o equívoco do Raven. — Katlyn comenta revirando os olhos. — Não é preciso participar desse jantar.

— Iris odeia mentiras. — responde Lorcan. — Não podemos simplesmente dizer que a enganamos para firmar nossa aliança.

Por um momento, pergunto-me se a preocupação do duque seria em trair a confiança do rei. Pelo visto, os dois são quase amigos — ou talvez amigos de verdade, mas Lorcan desconhece esse vínculo para identificá-lo — e o mínimo erro pode afastar essa possibilidade para sempre.

— São apenas três dias, só precisamos garantir que tudo dê certo no jantar da noite principal. — digo a fim de aliviar o clima. — Não tem como dar errado.

Porém, interiormente, o meu lado negativo dizia: "Boa sorte, você vai precisar."

***

O reino de Mandrariam assemelhava-se ao ducado de Icarus, por causa da terra infértil e as árvores secas ao redor. O reino foi construído entorno de uma enorme muralha de pedra, relativamente próximo de Velorum, tanto que consigo avistar as terras de Christian ao horizonte. Apesar da vegetação mórbida, o interior de Mandrariam é extremamente belo. As construções evoluídas e luxuosas. As pessoas usam as melhores roupas e o comércio de alimentos é regular, mesmo com as limitações do local. Há minas no lado interior e exterior do reino, onde o fluxo de trabalhadores é constante.

O castelo é alto mas relativamente pequeno, possuindo apenas duas torres longas e finas. Contudo, a proteção desse lugar é duas vezes mais fortificada do que Icarus e toda Velorum. A quantidade de guardas ao redor é assustadora e passamos por, no mínimo, quatro vistorias antes de adentrar no palácio.

É surpreendente a beleza desse lugar. As pilastras brancas e longas assemelham-se às construções gregas. O teto é pintado em um dourado atrativo, onde há desenhos de seres celestiais acomodados em nuvens. O piso liso e brilhante possui desenhos dourados, formando arcos e curvas bem construídas. Sinto-me em um palácio de ouro, pois tudo ao meu redor reluz de maneira majestosa. Por um momento, o brilho dos diamantes do lustre cega minha visão.

— Quanto tempo, Lorcan!

O meu olhar foca no anfitrião, o rei de Mandrariam, aproximando-se com um sorriso caloroso. O homem ajeitava o casaco preto que combinava com a camisa branca de bordados dourados. O seu longo cabelo escuro estava preso em um rabo de cavalo baixo. As expressões, acentuadas pelas rugas nas bochechas e canto dos olhos, representavam um guerreiro que viveu muitas batalhas. O cavanhaque e as sobrancelhas grossas traziam um ar de seriedade.

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