Velorum

Capítulo 58

— Céus, Diane! De onde tirou tanta disposição? — exclama Tanandra, ofegante.

Estávamos no campo de treinamento na base. O meu corpo ansiava por mais uma troca de golpes, tanto que não me contive ao avançar novamente contra a ruiva. Ela defendia o mais rápido que podia, porém era inútil contra minhas habilidades recém aprimoradas.

Um mês depois da guerra, Velorum retornou ao estado de paz e Icarus, aos poucos, recebia o reconhecimento merecido. Christian espalhou histórias das batalhas gloriosas do ducado e, por isso, as pessoas da capital começaram a criar um sentimento de admiração pelo local.

Apesar da evidente evolução, Christian aconselhou que a coroação fosse na primavera pois ainda estávamos com os ânimos agitados devido à recente guerra. Então, durante todo esse tempo, aperfeiçoei minhas habilidades com espadas e luta corporal. Tanandra e Raven foram meus instrutores no uso de armas enquanto Njal ensinava os golpes corpo à corpo.

Como Lorcan passava a maior parte do tempo na capital, resolvendo questões administrativas antes de assumir como rei, não podia ficar parada. Pelo dia, treinava minhas habilidades físicas. À noite, lia livros sobre estratégia e negociações.

— Tive um bom desjejum, apenas isso.

A ruiva lança um olhar de incredulidade antes de iniciar outra sequência frenética de golpes. Os soldados descansavam ao redor do campo, observando a nossa luta. Njal conversava com alguns alunos, provavelmente os instruindo para o próximo treino.

— Se me permite perguntar, Diane, você e o Lorcan são o quê?

Esquivo do seu último golpe, vendo a lâmina passar à poucos centímetros do meu rosto. Em seguida, revido em um movimento vertical o qual minha amiga defende com perfeição.

Em um mundo medieval, a palavra "namoro" é desconhecida. Lorcan não havia feito nenhuma mensura sobre o nosso relacionamento, por mais que já tenha se tornado impossível disfarçar a nossa troca constante de olhares. E como seu exército é feito pelos melhores guerreiros, era óbvio que notariam esse detalhe.

Negar estava fora de cogitação, mas pensava cuidadosamente em qual termo usar.

— Ele é quem imagino do meu lado no futuro. É a...

— Pessoa mais importante para mim. — completa uma voz masculina conforme seus passos firmes contra o solo se intensificam. Os fios negros de seu cabelo reluziam sutilmente contra os raios solares. A beleza do duque atraía olhares para si mas, como de costume, o homem ignorava toda a atenção ao seu redor. — E a mais radiante de todas. Como uma estrela cadente.

Sorrio involuntariamente com um leve rubor nas bochechas. Lorcan segurava minha mão, inclinando o corpo enquanto depositava um beijo na região. Em seguida, fazia uma breve menção para a jovem ao meu lado. Tanandra curva o corpo em sinal de respeito, bem como todos os soldados no campo.

— Eu gostaria de apreciar seus golpes maravilhosos, mas temos um baile para organizar.

Por um momento, havia me esquecido que o baile de inverno seria na próxima semana. Christian ainda organizaria essa festividade, mas queria a minha presença e a de Lorcan para aprender como preparar um baile.

Assinto para o duque virando-me em direção à Tanandra, dizendo:

— Empate?

Ela ri jogando a cabeça para trás.

— Considerando que seguindo esse ritmo você arrancaria o meu braço? Sim, um empate é mais do que satisfatório.

***

Desci da carruagem em sobressalto, atravessando o jardim real como um foguete. Ao adentrar no palácio, pulo nos braços de Cherly que já me aguardava com um sorriso. Martha se aproxima após largar o balde no chão, participando do nosso abraço.