Capítulo 13

341 43 608
                                    

A breve conversa com o duque ainda ecoava em minha mente. Lorcan agia com total convicção de que estava fazendo a coisa certa, mesmo que isso envolvesse matar pessoas à sangue frio. Tudo bem que para ser um vilão não é necessário moralismo, mas algo na forma como o duque se expressava me deixou intrigada. Ele comentou que há pessoas que sabem dos erros graves do rei, mas elas estão mortas ou em seu ducado.

E mesmo não sendo da minha conta, desejei investigar sobre esse mistério em Velorum. As pessoas da capital amavam o rei Erick e, com certeza, sofreram com sua morte. Contudo, nenhum membro de outro ducado ousou comparecer no funeral, exceto os nobres que faziam parte do conselho do reino — dentre eles, o próprio Lorcan.

Segura essa curiosidade, Natasha. Você só precisa ficar aqui por nove meses, tente ser o mais invisível possível.

Suspiro pesadamente enquanto volto a limpar o chão. Com a morte de Erick, retornei ao mero cargo de empregada, e não mais cuidadora. O balde e o esfregão já me esperavam ansiosamente no início do dia. O palácio estava mais movimentado do que o normal pois muitos líderes de outros condados ou ducados se instalaram na noite passada, pois havia uma reunião no dia seguinte. Como novo rei de Velorum, Christian não podia perder tempo em reafirmar as antigas alianças políticas do pai.

Era admirável todo o seu esforço para continuar o legado do último rei, mas partia o meu coração vê-lo passar por toda essa pressão sem sofrer pelo luto. Ele não tinha tempo para lágrimas e lamentações. O reino precisava de um novo pilar e Christian o seria sem pensar duas vezes.

— Eu odeio esse clima pesado. — comenta Martha ajoelhando-se ao meu lado, começando a esfregar o chão. — É como se a luz tivesse sumido para sempre do castelo.

Assinto com a cabeça e viro o meu rosto em sua direção. A empregada tinha um semblante triste, longe do seu habitual sorriso descontraído. Sempre que eu a vejo, lembro do final trágico que a espera na obra. Mas isso vai mudar, eu vou salvá-la.

— Eu imagino que o príncipe esteja arrasado.

— Sim, mas ele está dando tudo de si para se manter forte. As pessoas estão sendo compreensivas com a sua dor, até mesmo os reinos vizinhos se ofereceram para ajudá-lo caso seja preciso.

A minha atenção volta para a esponja em mãos, esfregando o piso até conseguir ver meu próprio reflexo nele.

— O príncipe é forte. Ele vai conseguir lidar com tudo isso. — admito. — Mas não acha cruel que sua maior obrigação seja o reino e não à si mesmo?

Martha assente com pesar.

— Infelizmente, ele é o rei. E como o líder supremo do reino, não pode ser egoísta.

Eu estava verdadeiramente triste com a situação. O jovem com o sonho de ser livre acabara de estar acorrentado por suas inúmeras obrigações como rei. É incrível como um único título pode mudar drasticamente a sua vida, tornando-se a sua benção ou a sua maldição.

Quando terminamos a limpeza, Martha se dirigiu aos fundos para ajudar outra empregada no jardim. Enquanto isso, vou para o segundo andar entrando na sala de reuniões do rei. A enorme mesa de madeira de formato oval estava entre as cadeiras de alta qualidade. A mobília medieval com um toque único de luxo cercava todo o ambiente.

Eu queria saber sobre o destino de Velorum mas, por ser uma mera empregada e secundária na trama, não posso agir de forma direta. Por isso, aproveito que a reunião ainda não começou e a sala se encontra vazia para encontrar alguma pista.

De forma cuidadosa, abro a gaveta mexendo em alguns papéis em busca de uma informação útil. A maioria se tratava de cartas de outros reinos, anotações sobre a situação econômica de Velorum e relatórios de seus subordinados. Nada que pudesse me ajudar de fato.

VelorumOnde histórias criam vida. Descubra agora