6

117 16 60
                                    

     Termino meu banho matinal saindo enrolada na toalha e olho por entre as roupas procurando algo para vestir

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

     Termino meu banho matinal saindo enrolada na toalha e olho por entre as roupas procurando algo para vestir. Pego um vestido da cor creme — posso dizer que a cor mais escura que há entre essas peças — e uma sapatilha. Em frente ao espelho encaro o reflexo sem cor e penteio o cabelo o desembaraçando. Passo a língua nos lábios para eles não ficarem secos, meu olhar vai da minha imagem para a estatueta do anjo. Ainda não perguntei sobre ela para Nickolas, mas, se parar para pensar, não perguntei muitas coisas a ele.

     Na cozinha, encontro a senhora sentada lendo um livro com a capa marrom desbotada, as letras do título costuradas com um tipo de linha dourada, não consigo lê-lo, pois Elisa fecha o livro virando a capa para baixo. 

     — Acordou cedo. — Ela sorri. 

     — Pensei em dar uma volta na cidade — digo e ela assente.

     — Nickolas me contou o que houve ontem, sinto muito por não descobrir nada. — Sua expressão é verdadeiramente triste.

     — Elisa, já pensou que posso não recuperar a memória? — Apoio-me na mesa e a mulher desvia o olhar para baixo, como se já tivesse pensado na hipótese. — Bem, eu precisaria me estabelecer e... — Faço uma careta — Recomeçar.

     Recomeçar

     Isso está muito parecido com desistir, e eu não sou uma desistente. Fiz um juramento, e nunca vou deixar de procurar minhas memórias.

     — O que quer dizer? — A senhora me encara com suas grandes íris azuladas. 

     — Procurar emprego, me estabelecer na cidade, um lugar para morar... — cito e ela levanta rapidamente.

     — Mas pode morar aqui, os aluguéis são caros. Nickolas nem vai ter que opinar eu quem cuido da casa mesmo! E tenho certeza que ele iria adorar sua companhia! Menina, você está tentando se recuperar de um trauma, não pense nisso por agora. 

     — Elisa eu odeio depender das pessoas e...

     — Não, eu me recuso a deixar você trabalhar nesse estado, ainda está de recuperação — ela diz e acabo rindo, um riso verdadeiro, por um momento, rio sem me importar com o passado ou segredos.

     — Elisa eu já estou boa. — A senhora bate o pé e nega.

     — Não, sempre diz que está bem e depois algo acontece. — Ela pega meu rosto entre as mãos e analisa meus olhos. — Você está pálida demais, nenhuma pessoa pálida desse jeito é saudável. — Suas mãos enrugadas soltam meu rosto e correm por entre os legumes, já pegando uma faca para cortá-los. 

     — Vou fingir que você não chamou minha aparência de nada saudável. — Cruzo os braços e ela ri.

     — Vai ficar, não é? — Seu riso morre dando espaço para um olhar sério e perdido. — Sabe menina, faz muitos anos que não tenho de quem cuidar, e você parece alguém que ainda vai precisar muito de um ombro para se apoiar e alguém para afagar seus cabelos. — O olhar carinhoso de mãe está presente, dando um claro indício de sabedoria. 

Dark Mind Onde histórias criam vida. Descubra agora