— Elisa? — chamo entrando na cozinha. A mulher está debruçada sobre o balcão, parecendo aflita e pensativa. — Elisa? — repito estranhando sua expressão.
A senhora arregala os olhos virando, sua boca se puxa numa tentativa falha de sorriso.
— Ah, menina, eu estava quase terminando o almoço, e... — Seus olhos se fecham e ela suspira indo até o fogão.
— Está bem? — questiono colocando a mão em seu ombro. Ela assente e depois nega, franzo a testa. — O que está havendo?
— É que você... Eu não... — tenta falar várias vezes, mas simplesmente não consegue formular as frases.
— É pelo que fiz durante a luta? Comer órgãos? — A bruxa arregala os olhos e gagueja engasgando com a própria saliva. — Acredite, Elisa, eu não consegui controlar, foi maior do que eu. Foi como um instinto, como se eu precisasse me alimentar — tento explicar, mas nem mesmo eu compreendo.
— Não, tudo bem. Só fiquei... Chocada. — Olha-me colocando as mãos em meu rosto. — Eu só me preocupo demais, tenho medo no que esses instintos podem te transformar.
— Em um demônio, Elisa. Porque é isso que eu sou — digo, um pouco decepcionada, é como se ela se recusasse a aceitar esse fato.
É por isso que não devemos mostrar nosso lado bom para as pessoas. Quando se vê o bem, se espera o bem. E isso eu não posso dar.
— Eu tenho uma dúvida. — Desvencilho-me do seu toque, mudando de assunto. Ela assente como quem diz que posso continuar. — Quando entrei na mente daquele bruxo, vi uma conversa. Millen está por trás disso, e está tentando fazer um feitiço para contactar o mundo espiritual. — A senhora fica estática, o olhar esbugalhado fixo em meu rosto. Posso jurar que começa a tremer.
— Então nem mesmo precisamos nos preocupar, é impossível que ela consiga. — Vira para os armários, mexendo em vários objetos, mas sem pegar nenhum, apenas revira tudo como se procurasse nada em específico.
— Mesmo que ela não consiga, ainda tem um motivo para tentar, e é isso que precisamos descobrir. Talvez se conseguíssemos…
— Não! — grita, virando de súbito para mim. — Não vamos mexer com o mundo espiritual, não vamos mexer com o equilíbrio da magia e da natureza, Maeve. — Arqueio as sobrancelhas, surpresa pela sua explosão, e até por ela me chamar pelo nome tão rispidamente.
— Certo, se é perigoso desse jeito, eu não faço nada. — Estranho seu comportamento, ela suspira aliviada. — Não estou com muita fome, vou subir e tomar um banho, ainda estou suja de sangue e quero estar pronta para conversar com Nickolas quando ele chegar.
— Tudo bem, menina. Vai lá. — Sorri voltando ao seu estado normal.
Saio do cômodo passando pelo corredor e indo até a escadaria. Cada degrau é uma pergunta sobre o porquê dessa reação de Elisa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dark Mind
FantasyUma garota desperta na floresta, sem memória, sem nome, sem passado e sem ninguém em quem pode confiar. Ajudada por Nickolas e Elisa, ela começa a descobrir coisas sobre si mesma e sobre o mundo que até então não lembrava serem reais, como as criatu...