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{Maeve}

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{Maeve}

     Eu me sentia completa. Eu lembrei, lembrei de cada momento de dor, de sofrimento, lembrei de cada fio de felicidade, lembrei de amigos, família. Lembrei de tudo o que passei. E lembrei quem sou.
     Sou uma guerreira, sou uma lutadora, sou uma demônio, sou uma rainha, sou Maeve Catreaits.
     Sei o meu passado e sei o que quero no meu futuro. Sei como lutar, e sei pelo quê vou lutar. Eu sei quem são meus inimigos e sei que posso derrotar cada um deles.
     E quero vingança. Vou matar cada um que tentou me machucar. E vou matar aquele que me fez perder a memória, o mesmo que deu o pó de anjo para Jaul me enfraquecer, o mesmo que está por trás das guerras e mortes que aconteceram, o mesmo que viria amanhã para me matar.
     Estou de volta para tomar o trono e o reino, e o Submundo irá tremer diante do meu poder.
     O sangue espirra em meu rosto quando minhas garras rasgam o abdome de uma demônio, arranco seu coração o largando no chão. Mais três atacam e os jogo na parede usando telecinese, a parede quebra e ouço o som de seus ossos.
     Sorrio de lado.
     Estou lutando em minha verdadeira forma, sinto-me quente, com raiva e a adrenalina percorre cada centímetro do meu corpo. Uso minhas habilidades, sinto o medo emanando e o direciono para os demônios, causando a dor e usando seus pensamentos contra eles mesmos, seus medos, suas memórias, seus piores pesadelos. Faço relembrarem cada dor e ouço os gritos, eles se debatem e se arranham para acabar com o sofrimento. Alguns batem a cabeça até ela sair do pescoço, outros arrancam o próprio coração.
     Em passos lentos vou até Jaul que tenta correr após ver o estado dos seus capangas. Teletransporto-me, paro em sua frente e ele grita, como se visse a personificação do seu maior pesadelo. Sorrio quando agarro seu rosto e entro em sua mente, vasculho, rio, falo, torturo. Cada dor que um dia causou volta mil vezes pior para ele.
     Jaul tem os olhos vazios quando o largo no chão, as lágrimas de medo escorrem, o olhar é perplexo, como uma estátua. Mostrei a ele como seria viver em cada mente perturbada do inferno. Ele não sobreviveu, está morto por dentro.
     Minhas garras crescem e as passo em seu pescoço, o separando da cabeça que rola, e o olhar continua o mesmo.
     Caminho até a pequena criança encolhida no chão, as lágrimas estão escorrendo continuamente enquanto aperta o peito ensanguentado. Ela engasga com o sangue que escorre por sua boca. Nolly está fraca demais para se curar.
     — Nolly — chamo, ela me encara sorrindo, os dentes completamente manchados com sangue — Vou te salvar, vou te curar, precisa ficar focada, não feche os olhos.
     Sua pequena mão rodeia a minha quando toco seu rosto.
     — N-não — sussurra enquanto engasga e mais sangue espirra por sua boca.
     — O quê? — arqueio uma sobrancelha, seus olhos vacilam e apoio seu rosto com a outra mão também, fazendo-a me encarar.
     — Eu não iria conseguir... — puxa ar e engasga novamente, o sangue irá sufocá-la. — Não iria conseguir viver sem lembrar do que eles fizeram. — Mais lágrimas escorrem e sinto um aperto no peito, algo está me perturbando. — Eu não iria conseguir superar.
     — Você vai. E eu vou estar com você. — Meus olhos ardem, tem algo errado comigo, essa dor não deveria estar aqui, mas está.
     — Eu gostaria, mas não posso. Minha família morreu, e eu quero ir com eles. Quero encontrá-los no jardim, o cavalo com asas vai me levar — sussurra com um sorriso nos lábios e nego freneticamente.
     Ajeito seu corpo entre minhas asas, ela suspira.
     — Nolly, aguente firme, diga-me que quer ser salva, eu não vou fazer isso contra sua vontade, por favor, diga. — Sinto meus olhos embaçados.
     — Você já me salvou. — Sorri suave e passa a pequena mão em meu rosto. — Pela primeira vez em muito tempo eu vi alguém que se importou comigo, e aprendi a ser corajosa. Você me salvou. E agora posso ser feliz e brincar nas nuvens.
     A abraço, sinto lágrimas deslizarem por meu rosto, uma sensação dolorosa se aperta em meu peito e tenho vontade de arrancá-lo como aqueles demônios fizeram.
     — A dor vai acabar e o lugar escuro vai embora. Ele chegou para me buscar, vou ser feliz agora, Maev... — sua frase fica incompleta e sua mão desliza do meu rosto, busco seus olhos mas eles não vêem mais.
     — Nolly? — chamo, observo seu sorriso enquanto o olhar está perdido e nebuloso. E eu grito, eu grito porque dói, porque estou com raiva, porque ela era uma criança e merecia mais. Minhas asas nos cobrem como um manto, fecho seus olhos e deixo as lágrimas escorrerem silenciosamente.
     E eu queria poder acreditar que realmente existe um cavalo alado que cuidará dela, que existe um jardim nas nuvens onde ela brinca e que a luz a salvou, porque ela não merecia a escuridão que a tomou.
     Mas não acredito.
     Eu sei que ela irá para o Outro Lado, e estará sozinha, sem ser vista ou ouvida. E ela estará sofrendo novamente, dessa vez pela eternidade.
     Fecho os olhos e respiro fundo. Quando os abro já estou de pé, e o fogo começou a consumir o local, devorando até mesmo o que não pode ser queimado. Dou a costa para o lugar incendiado e saio, explodindo a parede, seguindo para a direção que Drak uma vez me disse.
      Estou indo para Frietin.

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