{Maeve}
Encaro o espelho enquanto arrumo a coroa na cabeça. Estendo a mão para pegar um colar, a caixa com o entalhe de uma adaga na tampa chama minha atenção e a abro vendo os objetos que guardei.
Um pequeno entalhe de asas me faz sorrir leve, o mesmo entalhe que vi sobre a mesa da sala da mansão Villassa uma vez. O cordão preto o prende enquanto o movo entre meus dedos.
Damien me deu este colar em uma noite enquanto dizia:
- Sabe, sempre te observava escondido enquanto admirava meus entalhes. Este foi um que fiz pensando na noite em que te encontrei. Eu o deixei sobre a mesa e você ficou o admirando por tanto tempo, que pela primeira vez queria dar algo a alguém. É seu, anjo. Assim como meu coração. E meu pau. Eu sou inteiramente seu.
Ele sorria tão lindamente e sinceramente, que desejei guardar aquele momento eternamente.
Meu peito aperta e sinto a dor se alastrar por meu coração quando encaro a caixa onde guardo uma lembrança daqueles que perdi. Minha mão se fecha sobre o pequeno entalhe e uma respiração cortada sai de meus lábios.
A eternidade parece apenas um grão quando se vive nela.
- Por que colocou o colar dentro da caixa? - pergunto para o híbrido que sai do closet arrumando o terno. A coroa em sua cabeça o faz parecer gracioso e ao mesmo tempo horripilante, o olhar maléfico e o sorriso de lado mostrando as presas.
- Eu nem mesmo vi onde coloquei, estava mais focado em você... Nua. - pisca, parando atrás do meu corpo e encaro seus olhos divertidos pelo reflexo do espelho.
Arqueio uma sobrancelha.
- Você sempre está mais focado no meu corpo nu, Damien.
Ele assente sorrindo, orgulhoso com o fato.
- Posso? - estende a mão em minha frente e entrego o colar.
Seus dedos gélidos tocam a pele do meu pescoço e suspiro. Ele beija minha nuca e depois arruma o cabelo. Seus olhos cinzas voltam-se para os meus pelo espelho e ele sorri.
- Vamos? - seus braços me rodeiam em um abraço pela cintura. - Temos uma festa para comparecer.
Sorrio segurando seu braço e caminhando para fora. As portas do grande salão são abertas, os guardas nos acompanham na entrada e Damien faz um sinal para os dispensar. O povo está espalhado conversando, governadores reunidos e mais relaxados enquanto riem.
Paramos em frente aos tronos, e quando vou sentar no meu, Damien me puxa para seu colo. Sorrio arqueando uma sobrancelha enquanto me ajeito em sua perna, o decote do vestido preto mostrando a pele da minha perna. Damien joga a cabeça de lado fazendo a coroa deslizar um pouco. Uma mão rodeia minha cintura e a outra fica apoiada na lateral do trono, suas presas aparecendo no sorriso sarcástico.
- Gosto de te ter perto. - seus lábios vão para o meu ouvido, sussurrando enquanto sua mão desliza para minha coxa - Você está deslumbrante, meu amor, tão linda e destrutiva quanto um tornado - posso imaginar seu sorriso malicioso, os lados puxados e os olhos brilhando ardentes com volúpia.
Seguro sua mão, acariciando o anel em seu dedo e sorrindo.
Nunca irei me cansar disso. De escutar a música tocando envolvente e observar os pés das pessoas moverem em uma dança animada. De ver como o reino evolui e como todos estão felizes.
Capturo Kayle pelo olhar, com o vestido tão colorido quanto seu cabelo que não está mais tão curto. Dominic sorri para ela e lhe entrega uma flor, piscando enquanto Kay cora e dá uma resposta ao vampiro que o faz rir. Fazia um tempo desde que os tinha visto pela última vez em sua casa na floresta de encantamentos, cuidando da estufa e com um jardim ainda maior.
A pequena Illy corre pelo saguão e seu vestido azul balança em ondas, sua pele marrom brilha com o sorriso aberto e largo, o cabelo curto e repleto de cachos cai por seus olhos enquanto ela ri. Galmor pega a filha no colo sorrindo igualmente largo, Muriel sorri leve se aproximando e prendendo a fita nos cabelos espalhados da criança.
Illy perdeu os pais biológicos em uma batalha. Muriel cuidou dela durante muito tempo antes de adotá-la oficialmente e casar com Galmor, indo morar no castelo. E mesmo sentindo falta de meu irmão muitas vezes, encarando-o aqui com sua família, sei que ele está realizado e feliz.
Ian está ao lado de Dain, sério e com a postura de um guarda. O caçador tem o cargo de guarda de confiança de Damien, e o homem tem conquistado a minha também. Ian perdeu muito, e tem se recuperado. Sei que ele visita o túmulo de Trix quase todos os dias porque Damien às vezes o acompanha. E talvez ele demore para amar novamente, pode ser anos demorados da vida de um imortal, mas sei que um dia ele sentirá novamente, e saber que ele tem a Damien me tranquiliza.
Uma música lenta começa a soar pelo salão, as luzes apagam e as velas acendem deixando o local sombrio e quente.
- O que acha de dançar no inferno, anjo? - o sussurro do híbrido causa uma corrente elétrica por meu corpo e sorrio.
Levanto, sua mão segurando a minha quando me guia para o centro do salão e segura firmemente minha cintura, puxando-me para si e deixando nossos rostos próximos, nossas bocas quase encostando-se fazendo-me suspirar em seus lábios.
Nossos pés se movem em uma dança lenta, deslizando pelo chão como se flutuassem, Damien sorrindo e os olhos apenas nos meus, como se o restante do mundo tivesse deixado de existir.
Somos o mundo um do outro.
A névoa desliza de meus pés enquanto piso, nos rodeando levemente como uma brisa suave.
Perdemos muito ao longo do caminho...
Damien me gira, puxando-me de volta para si e mordiscando meus lábios entre as presas.
Mas também ganhamos tanto. Novas amizades, novos recomeços, novos amores.
Encaro os olhos de Damien e me perco nele, permito meu coração abrir-se e o deixo entrar, meus pensamentos de antes já não existindo mais, e o medo não podendo atrapalhar o amor.Eu mudei.
E talvez o mundo humano tenha me devolvido algo que o Submundo me tirou.
Minha humanidade.
O amor.
E minha mente, que um dia fora uma mente sombria, e hoje tem um ponto de luz.
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Dark Mind
FantasyUma garota desperta na floresta, sem memória, sem nome, sem passado e sem ninguém em quem pode confiar. Ajudada por Nickolas e Elisa, ela começa a descobrir coisas sobre si mesma e sobre o mundo que até então não lembrava serem reais, como as criatu...