Capítulo 3

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Tinha descansado o suficiente pra pegar estrada de volta, nunca fui muito fã de levantar cedo então, pra compensar tinha tirado um cochilo.

Até que a casa era bem agradável, meio afastada de tudo mas, aconchegante, a cidade toda dava essa mesma sensação, Saint Augustine é um lugar histórico, talvez seja por isso.

- Vai agora?

Niall voltava do quarto principal, sem camisa procurando pelo controle da televisão.

- Sim, como foi com a sua princesinha da torre?- ri contidamente, gosto de provocar ele, é minha diversão. Levantei colocando minha jaqueta e procurando pelas chaves do carro.

- Foi de boa, ela é marrenta mas isso vai mudar- sentou-se - deixei ela falar com o enfermeiro um pouco, pra acalmar o papaizinho- deu risada.

Mas eu não,

Parei na mesma hora, virando lentamente em direção a ele.

- Deixou ela falar com Harry?- pisquei.

- Sim, ele ligou e ela tava desesperada pra tranquilizar Patrick, deixei ela falar um pouco, o velho não vai achar a gente mesmo, eu não deixei que dissesse nada de importante.

Meu coração começava a acelerar, não acreditava que Niall poderia ser imbecil a esse ponto, meu deus o subestimei.

- Como assim você atendeu! Como ele soube seu número?!- gritei, no sofá o garoto não entendia nada.

- Ligou pelo celular dela, sei lá deve ter visto meu número de outras ligações, porque você tá assim cara?!

Segui até ele, e joguei um copo de água que se encontrava na mesa no chão.

- Idiota! Imbecil! Não vê a merda que você fez?!- seus olhos claros se arregalaram tentando entender- Você confirmou que o número era seu! Deu sua localização de bandeja pra polícia!

- Do que você tá falando!- levantou, fiquei quase que colado nele, olho no olho, minha respiração ofegante era consequência da minha mente fritando, depois de tanto esforço, Niall foi capaz de colocar tudo por água abaixo.

- Presta atenção pelo menos uma vez na porra da sua vida, quando você deixou ela falar no celular, confirmou pra eles que ainda tinha esse número, a essa altura a polícia já te rastreou e tá vindo pra cá, você entende o que fez?- minhas mãos chacoalhavam seus ombros, depois que entendeu a gravidade, ele gritou.

- Merda! MERDA!- andava pela sala, desesperado.

Respirei fundo tentando me conter, achei as chaves do carro.

- Que horas eles ligaram?- ele parou pra pensar.

- Foi de madrugada, bem cedo, umas cinco por aí.

Olhei bem pra ele,

- A gente vai sair daqui, agora! Vamo, vamo traz a Alana!

                                ...

Quanto tempo leva entre uma batida e outra do coração? Um? Dois segundos? Porque esse era o tempo que gostaria de esperar até chegarmos a Saint Augustine.

Era lá que ele batia, acelerado, ansioso, tinha entregado nas mãos de Alana a algum tempo e mal havia percebido, tudo que acontecesse a ela, me afetaria diretamente, e eu não tenho mais controle sobre isso, está além do que poderia expressar em palavras.

A previsão era de chegarmos às nove da noite, com sorte é claro, torcia pra que não tivesse trânsito ou qualquer coisa que nos atrasasse. Estávamos a horas no carro da polícia, Max, eu, o delegado e o policial que dirigia o mais rápido possível,

queria estar no volante.

Na janela, via o Sol se pôr, e foi inevitável pensar no nosso passeio no parque. Lembro de olhar ela dizer sobre como cada pôr do sol era diferente do outro, e pensar "okay Harry, por essa você não esperava não é? Você a subestimou e cá está sua paciente, jogando na sua cara filosofia pura"

Já estava curioso pra saber mais sobre Alana aquela época, mas precisava ir com calma, não tinhamos intimidade, apenas, um laço profissional bem delicado diga-se de passagem.

O cotovelo apoiado na porta, levava meus dedos ao lábio inferior, mexia na carne ansioso, vidrado na paisagem nada mal, linda, poderíamos estar aqui por outras circunstâncias concluí, mas não era o caso.

- Falta muito? - Max quebrou o silêncio.

Olhei o celular, seis da noite.

- Umas três horas Max- respondi virando minha atenção a ele, o rapaz estava impaciente, sua perna balançava elétrica, passou a mão no rosto.

- Meu Deus! assim a gente vai chegar nunca!

- Estamos fazendo o possível Sr Stanford, em breve chegaremos- O delegado disse.

Limitei-me a respirar fundo e olhar para trás, dava pra ver o comboio da polícia, no outro carro Sr Patrick e infelizmente Liam estavam nos seguindo.

Aguenta firme Alana.

                                 ...

- Vamos pra o carro! ANDA ALANA!

Tomei um susto com a entrada brusca de Niall no quarto, meu corpo se encolheu na parede, ainda em cima da cama.

- Pra onde vai me levar?

Ele andava aflito, colocando suas roupas dentro da mala e fechando de qualquer forma, meu coração começava a acelerar, eu não quero ir a lugar algum, não queria nem estar aqui pra começar.

- Pra longe daqui, a polícia tá vindo atrás da gente.

Uma ponta de esperança se acendeu dentro de mim, graças a Deus, tinham nos achado.

- Eu não vou sair daqui.

Niall veio em minha direção, e puxando pelo braço me levou pra fora da cama.

- Escuta aqui vadia, você já fodeu demais com essa porra, vai fazer o que eu mandar entendeu?!

- Deixe eu ficar por favor, não digo onde vocês vão pra polícia nem ninguém, só quero voltar para casa Niall! - seus olhos me fitavam vidrados, por um milésimo de segundo acreditei ter visto uma alma alí, tentei cuidadosamente tocar seu rosto, e consegui, parecia estar se acalmando, não me apertava tanto mais - se você me ama como diz, vai querer o meu bem, deixe eu ficar aqui e você pode fugir.

Piscou, e após engolir em seco balançou a cabeça.

- Não posso, eu preciso de você comigo - e seus olhos marejaram, um sorriso fraco apareceu no seu rosto - olha, eu amo você Alana, e sei que a gente se separou mas, você me ama ainda, eu sei que ama, a gente precisa ficar junto meu amor - e a lágrima caiu.

Niall era um doente.

Meu rosto já estava regado pelo choro a muito tempo, umedeci os lábios.

- Eu não amo você Niall, a gente não vai ficar junto, e me prender não vai mudar isso.

Sua feição mudou completamente, me prendeu na parede, apertou meu rosto e me beijou a força, consegui afastá-lo por um instante.

- SAÍA DE PERTO DE MIM SEU MONSTRO!

Levei um tapa, minha bochecha ardia com a força.

- Vamos, para o carro- me soltou indo em direção ao guarda roupa.

Me recompondo da agressão, senti o metal frio na maçã do meu rosto ainda quente, e então lembrei que estava com o anel de Harry, tirei o rapidamente sem que visse e coloquei no canto da cama, entre o colchão e a parede.

- Vamos!- me puxou pelo braço, levando-me embora junto a ele.

Ao passarmos pela sala, porta e enfim estarmos dentro do carro, pensei mentalmente em Harry, por favor, por favor Harry, lembre-se do que eu te disse.

                                ...
..

Meu enfermeiro inesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora