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Abria a porta de casa com a cabeça erguida, o ar de quem sabe do que está fazendo e das consequências de seus atos, quem via de fora até acreditava, mas só Deus sabe o nervoso que passava internamente, imaginando qual seria o nível da ira de meu pai- Isso são horas?!- Foi a primeira coisa que me disse, quando dei de cara com ele no corredor da cozinha, okay, talvez estivesse no nível 8.

- São nove da manhã?- Respondi a ele fingindo normalidade, mas não pareceu muito convincente.

- E acha pouco? Onde passou a noite?

- Na minha casa, senhor Patrick- Olhamos para trás, Harry respondeu a pergunta por mim calmamente.

- Max não te avisou?- Perguntei- Ele sabia que estava com Harry.

- Avisou sim- Disse sério, e os braços vestidos com uma camisa social amassada se cruzaram, fuzilando nós dois - Talvez esteja na hora de termos uma conversa Harry, de homem pra homem- Tirou os óculos, a coisa realmente estava feia.

- Pai pelo amor de Deus- Revirei os olhos- não tem nenhuma criança aqui, achei que já soubesse disso.

- Está tudo bem, Alana- O enfermeiro Repousou a mão em meu ombro- seu pai só quer conversar- Apaziguando a situação, seu rosto se fez amigável e concluí que estivesse calmo, até demais diga-se de passagem.

Respirei fundo olhando os dois no curto espaço do corredor, convencida de que nada tiraria a ideia dessa conversa desnecessária da cabeça do meu pai, me dei por vencida- Está bem, eu vou tomar um banho,- Encarei o homem de meia idade- mas, mais tarde também teremos uma conversa, de pai pra filha- E saí dalí sem mais.

                               ... ... ...

Na cozinha ele me pediu pra que me sentasse, e graças a Deus não estávamos sozinhos, Max nos acompanhava.

Tentei me manter o mais calmo possível, afinal, era só o Sr Patrick, não estaria tão chateado comigo assim, não é?- Harry, sabe que tenho muito apreço por você, não sabe?- Cruzou as mãos sobre o balcão.

- Sei sim, e fico muito feliz por isso, é recíproco.

- No entanto- pigarreou - dormir, com a minha filha não foi bem, o que eu esperava que faria- Arqueou uma das sobrancelhas.

- E seria o que então?- Max mordeu a maçã, sentando na banqueta ao meu lado.

- Hora!- Se indignou, e eu engoli seco por aquilo- que fosse com calma, fizesse as coisas como manda as normas e falasse comigo primeiro- Os punhos cerrados se apoiavam no mármore escuro - E aí, com o meu consentimento ficassem aqui em casa.

- HA HÁ!- O rapaz gargalhou- Em que ano o senhor vive!? Jesus isso nem existe mais pai, estamos no século vinte e um não na década de oitenta.

Os dois começaram a debater na minha frente, ao mesmo tempo que soava cômico era extremamente desconfortável- Está bem, está bem- Chamei a atenção dos dois, mas não ouviram- Senhores...- A discussão continuava, o jeito foi elevar meu tom- Por favor!

Agora sendo o centro das atenções, me recompus na frente do pai de Alana, que pareceu não gostar muito da minha interrupção- Desculpe- Cocei a garganta- Senhor Patrick, achei que aprovasse meus sentimentos por sua filha.

- E aprovo Harry, mas Alana é uma menina e...- O interrompi.

- Mulher, Alana é uma mulher senhor Patrick.

- Isso Harry, fala pra ele o que eu digo sempre, Alana não é mais uma criança, será que é tão difícil assim aceitar?- Arregalava os olhos enquanto mastigava a fruta.

- Quando vocês forem pais, vão entender o que estou falando- Cansado, Patrick respirou fundo antes de prosseguir- O que quero dizer, é que nenhum dos relacionamentos dela deram certo, nem mesmo com Liam que era seu melhor amigo, ela é muito ingênua ainda e... Qualquer carinho que receber, ainda mais nesse momento, vai acabar confundindo as coisas- O homem gesticulava nos explicando seu ponto de vista, mas a sua frente, eu e Max trocamos olhares desentendidos.

- Está me dizendo, que Alana se aproximou de mim por carência?- Indaguei, e o vi ficar em silêncio, novamente encarando seu filho, tentamos ao máximo conter a risada- Desculpe senhor Patrick, mas essa é coisa mais ridícula que já ouvi.

- Pai, fala a verdade, porque está tão chateado com o fato da Alana gostar de Harry?- Ouvir outras pessoas confirmando seus sentimentos por mim, era sempre maravilhoso.

- Acabei de explicar a vocês Max!

- Está subestimando sua filha!- Fui incisivo- Ela é inteligente, esperta, já sabe se cuidar e me ama! Assim como eu a amo e já provei várias vezes pra todos- Se fez um silêncio no cômodo, e me dei conta de ter me alterado além da conta com meu, espero, futuro sogro, quando somente o crack da mordida de Max pode ser ouvido- Sinceramente, acho que não fez esse alarde todo quando Liam ficou com ela, e não entendo porque age dessa forma agora. - Senhor Patrick ajeitou a coluna respirando fundo, limpou os óculos e nos encarou- A menos, que não seja este, o real motivo.

- Tudo bem...- Desviou o olhar- eu sei que já é uma mulher, e que se amam...

- Mas?...- Max Indagou.

- É que... Você tem Taylor, que é uma graça de menina e vocês vão formar a vida de vocês, já a sua irmã não tinha ninguém, era óbvio que aquela fachada com Liam não iria durar então nem me preocupei mas, - Ouvimos com atenção- sei que com Harry é diferente, eles vão namorar depois evoluir pra um casamento, morar junto e essas coisas e aí...- Fungou- Eu vou ficar sozinho nessa casa- Os olhos marejados me deram dó, agora toda a implicância fazia sentido- Sem vocês, sem sua mãe.

- Pai...- Max se levantou indo dar um abraço em Patrick, num gesto simbólico apertei suas mãos sobre o balcão gelado.

- Não vou roubar sua filha Sr Patrick, ela será sempre presente e essas coisas de casamento levam tempo- Ri um pouco nervoso- tenho certeza de que Max também não vai te abandonar, assim como eu também não- O rosto ruborizado pela emoção, forçou um sorriso a nós dois- Ela já passou por tanta coisa... Nós na verdade, não acha que ela tem o direito de ser feliz?

Piscando atrás das lentes de grau, o homem balançou a cabeça positivamente- Tem toda razão Harry.

- Então, agora oficialmente como o senhor desejava- O encarei- me daria a mão de sua filha em namoro?

                         ... ... ...
                         

Meu enfermeiro inesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora