Meu enfermeiro inesperado

⁵⁴

Eu não sabia o que era ficar assim a um bom tempo, o suficiente para me esquecer de como era a sensação de noite em claro e coração ansioso. Os olhos se recusaram a fechar as pálpebras madrugada passada, assim como o estômago recusou os alimentos pela manhã.

Por várias vezes me peguei sorrindo no quarto, as paredes cochichavam os motivos dele aparecer a cada meia hora involuntariamente. Passei o dia a ver o céu azul a beira da piscina, comentava com o Sol sobre a vida ser boa e valiosa e só parei quando lembrei de me aprontar para o jantar.

Tenho quase certeza de ter visto Max me olhar estranho ao me encontrar no corredor, mas não liguei, nem um pouco, estava apressada demais pra aquilo. Cantei para o box do banheiro embaçado segurando o shampoo, e talvez eu tenha demorado mais do que o previsto no banho.

Começar uma nova vida com toda certeza me deixava excitada, poderia fazer tudo diferente e certo dessa vez, do meu jeito, no meu tempo, da maneira que achava melhor, e o primeiro dia de muitos seria mais do que bom... Seria com Harry.

Iria ser bom distrair a mente depois de tanta informação, mais um irmão, menos um amigo. Não que fosse difícil não me distrair com o enfermeiro, fazia isso facilmente só de vê-lo ou lembrar de seu belo rosto, do nariz perfeitamente reto e sorriso quase totalmente alinhado não fosse pelo dois primeiros que se faziam maiores, eu achava fofo, pensava o mesmo sobre as covinhas nas bochechas ou dos olhos que se fechavam quando gargalhava.

Mas gostava mais de vê-los abertos, quando me levava a outro plano sutilmente quando quisesse, porque me encontrava neles a salvo de todo o resto do mundo, enchia os pulmões de oxigênio sem medo de me enjoar de seu perfume fresco, era uma das formas de o guardar dentro de mim.

O vestido cor creme quase branco havia se encaixado perfeitamente ao corpo, modelo ombro-a-ombro era franzido assim como o busto. Com uma fenda que começava no início das coxas, o tecido leve descia até os joelhos delicadamente estampado por pequenas e separadas flores, talvez fossem dentes de leão.

A parte da cintura funcionava como um bustiê dando sustentação aos seios, na frente do espelho puxava as duas fitas de cetim que cruzavam as costas, apertava dando início a um laço. Havia comprado para usar no baile de formatura, mas nunca fui, enfim o usarei para uma ocasião digna dele, brilhava levemente, não só ele, meus olhos também.

Os pés usavam o salto dourado aberto, da mesma cor eram feitos os brincos que peguei na penteadeira, ao lado deles encontrei o anel prata com a inicial H, tinha tirado do meu dedo quando Harry foi embora por raiva, mas agora...

Segurei a jóia olhando a peça- Fique com este, vai estar comigo em qualquer lugar que for- Ele disse no dia em que me entregou de presente, coloquei no meu polegar, vou usá-lo hoje.

                            ... ... ...

  - A gente bem que poderia pegar um cineminha hoje né- Era a folga de Taylor, trabalhava tanto que mal tínhamos tempo pra nós dois. Fazia cafuné na sua cabeça deitada em meu colo.

- Está tão bom aqui - Respondeu- juntos no sofá vendo reality de culinária.

Assistia a televisão enquanto a acariciava, não que fosse ruim ficar juntinho no sofá da sala com ela, mas sentia falta de fazer coisas de namorados, okay, não éramos oficialmente mas agimos como se fossemos, e nesse caso achava justo o meu ponto- Eu gosto mas...

- Mas?- Indagou sem se mover.

- Queria fazer alguma coisa diferente com você, sei lá ir ao parque, sujar seu rosto de sorvete e te ver fingir surpresa- Gargalhou virando o rosto pra me olhar.

- Max, mas até a gente se arrumar vai ser nove da noite- Ergui as sobrancelhas.

- E daí? Depois do filme a gente vê alguma coisa pra fazer na cidade.