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- Muito bem, vamos beber - Havia pego uma garrafa de vinho na geladeira, e colocado sobre o balcão. Do outro lado, meu pai encheu uma taça e guardou o resto de volta ao freezer - Ei! Eu também quero- Disse enquanto me sentava na banqueta.

Continuando com o preparo do jantar, virou-se de costas a mim enquanto fritava alguma coisa na frigideira- Não pode beber ainda, e além do mais, acabou de tomar remédio, não, nem pensar- Emburrada apoiei o cotovelo no mármore.

O cheiro estava maravilhoso, já dando sinais de fome, minha barriga roncava- Cadê a mãe ein? Poxa ela não apareceu nem no hospital...- Ele parou de mexer. Eu sabia que meus pais sempre foram muito ocupados, mas, mesmo assim meu pai estava lá comigo, e também fazia visitas em Saint Augustine, me parecia no mínimo indelicado pra não dizer estranho.

- Filha...- Desligou o fogo da panela, parecia apreensivo e receoso virando-se a mim. Meu pai andou devagar até se sentar ao meu lado, o olhava esperando uma resposta plausível pela ausência dela - Esperamos você ficar melhor, pra podermos conversar com calma - Deixando minhas muletas apoiadas na diagonal, pegou minhas mãos.

- Conversar sobre o que?- Franzi o cenho- Não vai me dizer, que a mãe tá grávida?- Enclinei a cabeça, e vi seus ombros relaxarem enquanto soltou um breve riso - Ela tá no hospital?

- Não filha - Me encarou- quero que faça um esforço pra se lembrar agora, está bem?- Sem entender muito, concordei- Eu tinha ido buscar sua mãe no trabalho, você... Estava em casa com Harry quando liguei.

Enquanto ele dizia, me peguei tentando lembrar e associar a informação a alguma memória - No caminho de volta pra casa, um motoqueiro apareceu... Atirando em nós dois- Arregalei os olhos o encarando, mas não demorou muito até que entendesse.

- Alana estamos indo ao hospital!- Eu estava no quarto com Sr Styles, meu pai tinha me ligado.

- Vocês... Foram pra o hospital - Disse a meu pai, meu peito subia e descia com minha respiração levemente acelerada. Ele me encarava com atenção, segurava meus dedos com carinho, alisavam minha pele ansiosos.

- Isso, está se lembrando?

- A cirurgia foi muito delicada, a bala atingiu em cheio o coração, ela teve uma parada cardíaca- A mão de Harry me apertava no braço, e meus olhos não escondiam as lágrimas- tentamos reanima-la três vezes, mas infelizmente, sua mãe veio a óbito.

- NÃO! PELO AMOR DE DEUS NÃO! - Com a boca entreaberta e os olhos sendo tomados por lágrimas, eu lembrei.

- A mamãe morreu.

                             ... ... ...

Estava na sala com Max, os pés do garoto passavam o braço do sofá, totalmente esticado, e com um dos braços atrás da cabeça dando apoio, ele jogava o controle pra cima, pegava-o e jogava novamente, claramente entediado - É bom estar em casa, sabe, não ter que ouvir termos técnicos e pessoas sofrendo pelos corredores- Disse, sem me olhar diretamente.

Gostava do humor dele, e pensar que um dia tive total certeza em odiá-lo, não era pra menos pelo que fez com a irmã. Não sei o que fez com que tivesse chegado aquele ponto, mas não parecia em nada com o rapaz que conheço agora - Tenho que concordar, quer dizer, tirando o fato de que sou enfermeiro e essa não é minha casa- Max riu lingeramente - é bom estar de volta.

- Harry, sabe que é da família agora né?- Me olhou ainda deitado, no sofá menor me ajeitei - Mesmo que não seja meu cunhado, o que é uma pena pra você - Gargalhei ouvindo o resto- virou um irmão pra mim, e um filho pra o meu pai - Cruzei as mãos, e genuinamente feliz, sorri a ele, era bom saber que me queriam por perto, que eu era tão importante pra eles quanto eram pra mim - não sei se percebeu mas... Você conseguiu juntar essa família e isso é um feito histórico,  valeu de verdade cara.

Meu enfermeiro inesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora