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  Foi como previsto, não precisamos esperar muito pra ver de longe os faróis iluminarem a pista escura, que até então só os postes clareavam mal.


Os policiais ao lado das viaturas se encontravam a postos, apontavam as armas firmemente para o carro vermelho cada vez mais perto. Mais cedo nos entregaram um colete a prova de balas por precaução, Max e eu observamos o veículo em alta velocidade, estava tão ansioso, poderia jurar que sentia o coração bater na garganta.

- Parem imediatamente! Vocês estão cercados!- o delegado gritou com o megafone.

Algo estava errado, pela distância entre nós e a velocidade deles, precisavam parar imediatamente ou iríamos colidir.

- Ele está rápido demais- Max gritou para o delegado.

A duas viaturas de distância, o pai de Alana começou a ficar nervoso.

- Mandem eles pararem! AGORA!- berrou.

Estavamos no início da ponte, abaixo dela o rio corria escuro e quase imperceptível.

- Atenção todos a postos!- Apoiados nas portas dos carros, os policiais engatilharam as armas.

- O que estão fazendo?!- Questionei ao delegado a minha frente.

- Preciso forçar a parada deles, vão atirar nas rodas.

- Quê?! Não! Podem balear Alana no carro, e nessa velocidade o carro perderia o controle!

Ele me olhou engolindo seco, pousou uma de suas mãos em meu ombro.

- Não temos outra escolha Harry- Balancei a cabeça negativamente- se eles não pararem vão atropelar todos nós, não dá tempo de sair está me entendendo?

Continuei negando, o carro se aproximava mais e nosso limite acabava pouco a pouco, num ato de desespero peguei o megafone das mãos do delegado sem que ele esperasse.

Corri passando por todos, ficando a frente das viaturas brancas e na mira dos policiais, frente a frente com o carro em alta velocidade. Acima de nós helicópteros sobrevoavam gravando tudo, o vento batia forte balançando as peças de roupa em meu corpo sem cessar.

...

- Mande a banda parar de tocar, vai!- Taylor me apressou.

A notícia do sequestro de Alana havia se espalhado em proporções enormes, a mídia fazia a cobertura ao vivo em todos os canais, chegou a ponto dos clientes pedirem para aumentar o volume da televisão.

Andei rápido até a banda que fazia a música ambiente - Parem de tocar, os clientes querem ouvir a TV- eles fizeram o que pedi, no fim das contas todos estavam curiosos pra entender todo o noticiário, era a desculpa que eu precisava pra saber como Max, Harry e Alana estavam.

No outro lado do salão, Taylor estava apreensiva assistindo, nós dois sabíamos mais do que ninguém alí o que aquilo significava pra as pessoas que amamos.

Se fez silêncio no recinto, todos ficaram vidrados na tela, ouvindo com muita atenção a repórter no helicóptero.

- Estamos ao vivo, sobrevoando e acompanhando a perseguição policial aqui em Saint Augustine, Recapitulando se trata de um sequestro da jovem Alana Stanford, temos a informação de que ela teria dezoito anos, e estava se recuperando de um acidente em casa quando foi sequestrada supostamente pelo seu ex namorado.

- É um momento de tensão, um rapaz acabou de se colocar a frente da barreira policial - a câmera focou na rodovia dando um zoom no rosto da pessoa, era Harry com um megafone, mas que droga ele pensa que está fazendo?!- O carro do sequestrador está em alta velocidade, e o medo da polícia é de uma possível colisão desastrosa.

Nas mesas, os clientes arregalavam os olhos, outros tapavam a boca espantados, minha reação foi ir até minha colega de teatro.

- Que merda Harry está fazendo Louis? - Sussurrou- Max também está lá, e se esse carro atropelar todos eles?

Não tinha muito o que dizer, abracei ela - Vamos esperar que tudo dê certo Taylor...

                         ...

As luzes azuis e vermelhas piscavam pelo asfalto cinza, coloquei o megafone a frente da boca e gritei como se minha vida dependesse daquilo, porque na realidade era exatamente isso.

Alguém veio me puxar, era um policial, me desvencilhei dele andando um pouco a frente, berrei como nunca antes.

- NIALL PARE A DROGA DESSE CARRO AGORA!! SE ALANA MORRER, EU JURO QUE ME CERTIFICO DE MATAR VOCÊ, ONDE QUER QUE SE ESCONDA SEU VERME!

- Senhor volte agora mesmo!- o policial puxava meu braço.

- VAMOS SEU IMBECIL! FAÇA ALGUMA COISA CERTA NESSA SUA VIDA DE MERDA!

O carro estava perto demais agora, não tinha como fugir.

- Harry!- ouvi Patrick chamar, mas era tarde.

O policial me jogou no chão caindo sobre mim, numa tentativa desesperada de me salvar do atropelamento eminente, tudo se passou lentamente diante diante dos meus olhos. O megafone foi lançado longe a luz do carro era forte em meu rosto e quando esperei que passasse por cima de mim sem dó, houve um barulho.

Niall tinha virado o carro para fora da ponte, bateu no concreto de proteção quebrando-o, eles caíram no rio.

- ALANAAA!! NÃO!!!- Custava acreditar no que via, o policial já havia saído de cima de mim e voltado ao delegado correndo.

Levantei estarrecido, as lágrimas já tinham tomado conta do meu rosto, saí correndo até o parapeito quebrado - Harry pare!- alguém chamou, não dei ouvidos, nada mais importava agora além do fato que, se ninguém fizesse nada naquele momento Alana morreria afogada, e eu não assistiria aquilo acontecer de braços cruzados.

Estava disposto a tudo por ela, lá em baixo o rio estava calmo e dava pra ver o carro vermelho afundar aos poucos, sem que eu percebesse Sr Patrick apareceu do meu lado.

- Harry pare agora! Vai morrer!

- Não! Alana vai morrer se não fizer nada Sr Patrick!- pegou no meu braço.

- Já chamaram o resgate venha, estou tão desesperado quanto você- o rosto vermelho de tanto chorar, denunciava seu estado mesmo que não dissesse nada.

- Disse ao senhor que cuidaria de sua filha, não disse?- ele confirmou- não vai dar tempo da ambulância chegar e salvar ela, preciso que confie em mim.

Os policiais já vinham correndo quando nos viram perto demais do abismo- Eu confio Harry.

Foi o que me bastou- nem que eu morra, ela não morrerá.

O olhei uma última vez, respirei fundo, e pulei no rio.

                            ...

Meu enfermeiro inesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora