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Perdi as contas de quantas vezes havia batido no volante, me sentia como um vidro trincado, totalmente repartido em várias partes e todas elas carregavam um sentimento diferente, dor, revolta, tristeza e a vontade incontrolável de chorar.

O parabrisa limpava o vidro molhado, mas minha visão continuava embaçada pelas incontáveis lágrimas- Não precisava ser assim Alana- Repetia a mim mesmo, levei o braço as bochechas secando, a cada esquina que virava, me dava conta de que estava realmente me afastando, por um tempo indeterminado, talvez, pra sempre.

Imagens de dias bons com ela vieram a mente, do primeiro passeio ao parque, quando ainda precisava de cadeira de rodas, dela nos meu braços nas escadas - Não me olhe assim, não posso flertar com você, senhorita Stanford- Quantas vezes, tinha imaginado levá-la ao quarto em outras circunstâncias. A visita ao teatro, do seu discurso diante de todos, lembro de olhá-la e pensar, caramba como pode ser tão forte? E ao mesmo tempo tão leve, como brisa em fim de tarde...

Era como me sentia ao seu lado, leve, a parte de toda loucura do mundo, em contrapartida, tão eufórico quanto fim de copa do mundo ao beijá-la. O primeiro foi o mais importante, na cozinha de casa, tão doce e delicada, naquele dia uma parte de mim já sabia, era ela - A minha garota...- Sussurrei com meus olhos cheios - Minha garota! Droga! Droga!

                              ... ... ...

  Passei o dia chorando debaixo dos cobertores, ver a partida de Harry me doía imensamente, mais do que algum dia pude imaginar. As falas martelavam na minha cabeça centenas de vezes - Porque eu te amo! Eu te amo Alana, será que não percebe?- Meu Deus porque tem que ser tão difícil!

Soluçava enquanto meus braços envolviam meus joelhos, não sabia de mais nada a aquela altura do campeonato, se Liam mentia ou era só implicância de Harry por... Me amar.

- Filha?- Meu pai entrou no quarto, elevei meu olhar, enquanto via se aproximar e se sentar ao meu lado - Quer conversar?

Pra que eu não ficasse sozinha, havia saído do trabalho mais cedo.

- Ele foi embora pai - Cruzou os braços  ouvindo complacente.

- E sabe porque ele foi?

Fiquei na dúvida se contava ou não, não tinha certeza sobre sua reação, mas por fim, ajeitei minha coluna na cama e disse:

- Porque... Disse que gostava de mim, e não aguentava me ver com Liam - Encarei minhas mãos cruzadas sobre o tecido.

- Ah então ele te contou- Franzi o cenho.

- Como assim? O senhor sabia?

- Filha...- Sorriu- Todo mundo sabe, até você antes mesmo que te contasse- Ergueu as sobrancelhas, engoli seco.

- Eu, não sei o que sinto, quando estou com Liam, ele parece tão carinhoso e dedicado, hoje mesmo me trouxe o anel de compromisso - Mostrei o dedo- me convidou pra o cinema e tudo...

- Mas?...- Indagou.

Soltei um suspiro frustrado- Mas falta alguma coisa, é tudo muito robótico- Gesticulei- eu tento me lembrar de alguma coisa que tenhamos feitos como namorados, mas nada aparece, e pelo jeito como me trata, me sinto até culpada por não conseguir retribuir todo esse afeto.

- Me disseram - Me encarou- que ele mentiu pra você- Revirei os olhos- e eu sei que não acredita nisso, justamente por ser muito duro, alguém que cresceu junto a você, seu melhor amigo tenha feito uma coisa tão baixa dessa, mas ouça um conselho do seu velho - Riu um pouco.

- O que?

- Se não acredita em nenhum de nós, tire você mesmo essa dúvida, porque de uma coisa tenho certeza- pôs a mão sobre a minha- quando conheci sua mãe ainda na sua idade, nos apaixonamos como nunca e era quente como brasa, contava os minutos pra estar com ela, uma força maior nos prendia um ao outro a qualquer custo...

- Que força?

- Amor filha, amor, tenho quase certeza que sente isso por Harry, não é?- Não respondi- Mesmo que não se lembre de tudo, mesmo que tenha uma ou duas lembranças, algo maior junta vocês dois.

- Talvez...- Umedeci os lábios - de qualquer forma, não esta mais aqui e não tenho certeza sobre Liam, se pelo menos tivesse meu celular.

- A polícia vai devolver em breve, só espere até o julgamento.

- E quando vai ser?- Pisquei

- Daqui duas semanas.

- Está bem - Coloquei os cabelos atrás da orelha- vou fazer o que disse... obrigada pai.

                              ... ... ...

Uma semana depois...

- Pra quem Parecia uma boneca remendada, até que tá se saindo bem - Ouvi meu irmão dizer, encostado na porta do quarto ele me esperava.

- hahaha, muito engraçado - Estávamos treinando o meu caminhar a alguns dias, Max tinha virado meu fisioterapeuta- Tem sorte que ainda não corro.

- E ia fazer o que?- Debochou com os braços cruzados- Me jogar da escada?

Forcei um riso- Reparação histórica, nem é má ideia sabia?

Cheguei até ele sem usar as muletas.

- Ótimo, agora anda até o começo dos degraus, pra eu ver uma coisa- Dei um tapa no seu ombro- Aí!

- Deixa de ser besta- Coloquei o cabelo para trás- quero entrar naquele tribunal plena, sem ajuda de ninguém e com a cabeça erguida, Denis vai pagar por tudo isso.

- Bacana seu discurso de mocinha vingativa, mas o julgamento é domingo que vem e ainda precisa mexer mais esse quadril - Revirei os olhos, dando meia volta foquei minha visão na janela começando a caminhar. Não era difícil, tendo em vista que já estava treinando ainda no hospital, só precisava de mais prática.

Toc, toc, toc!- três batidas a porta, como Harry fazia, virei o corpo na esperança de que fosse ele - Entra- Falei, mas minha feição se desmanchou quando Taylor entrou no quarto- Ah... Oi Taylor- sorri fraco.

- Oi Lana- Trouxe sanduíches pra nós dois- hora do lanchinho- Falou cantarolando.

Lanchinho...

A palavra me trouxe a memória, foi no primeiro dia em que Harry esteve aqui, esperei por ele na porta do quarto enquanto se trocava. O rapaz tinha acabado de sair do banho, somente com uma toalha cobrindo a cintura.

Quando voltou ele disse: Então, vamos fazer um lanchinho? Perguntou com um sorriso. Lembro de questionar o porquê, de me tratar como criança, estava sendo chata mas ele contornou a situação - Alana?

Taylor me chamou de volta.

- Ah, obrigada- Peguei o sanduíche e me sentei na cama- estava mesmo com fome.

- Tá tudo bem? Você tava no mundo da Lua- Max falou da porta.

- Está - desconversei- está tudo certo- dei uma mordida.

                               ... ... ...

Meu enfermeiro inesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora