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Passavam das três e meia, aquela tarde de segunda-feira estava sendo mais agradável do que eu poderia imaginar, momentos do teatro passavam pela minha cabeça enquanto eu observava algumas casas e lojas passarem como borrões pela janela do carro, eu sempre achei que dias frios deixavam a cidade e as pessoas charmosas, não sei porque, mas tinha esse pensamento comigo.

Harry havia ligado o ar-condicionado, a temperatura estava agradável dentro do automóvel que cheirava a couro e menta, o homem estava com um ar sério no rosto, com as duas mãos ao volante e olhos atentos na estrada me parecia muito pensativo.

- Você pensa demais em coisas sem importância- disse sem pensar, e ele me olhou como se tivesse acordado de algum sonho, pude ver seus lábios se curvar em um sorriso singelo.

- Obrigado por lembrar baby- esse tinha se formado nosso mantra nós últimos dias, sua voz saiu rouca e calma, era típico dele, sempre muito educado, calmo, e ...charmoso, talvez essa seja a palavra, talvez Harry fosse como o frio, poético e charmoso.

O carro tinha parado no semáforo, observei algumas pessoas atravessarem a rua com pastas, bolsas, um homem de terno azul marinho, presumo, falando ao telefone e com muita pressa, era como se todos estivessem no automático, agem iguais a robôs, programados a acordar, trabalhar, café, ir para casa dormir e recomeçar o ciclo.

- No que está pensando?- Ouço o enfermeiro perguntar, meu rosto se encontrava franzido, e meu olhar preso a faixa de pedestres a nossa frente.

- O senhor conseguiria viver como um robô?- Perguntei, tenho quase certeza de que ele me olhava mas não me importo com isso no momento.

- Bom, acho que não- soltei um pequeno riso.

- Aí é que tá, acho que todos responderiam a mesma coisa, no entanto, não se dão conta de que já vivem como um- olhei para ele, passava a mão por entre o cabelo, o carro já se encontrava em movimento novamente.

- As pessoas criam uma rotina para que possam viver ao seu modo, não acho que isso seja agir como um robô- volto minha atenção a janela.

- Tá aí, uma palavra que não quero que faça parte da minha vida, rotina, ela faz com que entremos em monotonia, e isso é algo que não desejo para mim- meus olhos passearam da janela ao cinto de segurança e logo após ao Sr. Styles, dirigia atenciosamente, mas seus lábios não o deixava enganar, seu sorriso ainda estava formado.

-Por acaso pega essas coisas da internet? Porque é incrível a facilidade com o que me faz pensar na vida senhorita Stanford- eu não pude conter uma pequena risada, muito menos de o observar, não tinha percebido essa minha digamos...habilidade. Harry virou a esquina e estacionou o carro em frente a uma cafeteria, olhei a fachada de vidro- aceita um café?- virei-me para ele com um sorriso no rosto.

- Não, quem sabe uma rosquinha?- e rimos.
...

Sentados na cafeteria que acabei descobrindo, também era floricultura, muito aconchegante, eu comia a tão querida rosquinha, era maravilhosa, Harry riu quando revirei os olhos logo após morder um pedaço, obviamente eu pedi um chá para o garçom que me olhou confuso, claro, quem é que pede chá em uma cafeteria? O enfermeiro encarou o garoto com uma cara não muito amigável, e o mesmo rapaz me entregou um papel com, provavelmente seu número junto a xícara, seria ironia demais uma pessoa que não gosta de café, amar uma cafeteria?

O homem bebia seu café e me observava abrir o pequeno papel,

Prazer senhorita, me chamo Alison,
Xxxx-xxxx aí está o meu número, se te interessar pode me ligar a hora que quiser.

Meu enfermeiro inesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora