Lírio

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— Mamãe, podíamos viver aqui para sempre, não é? — uma miniatura de Levi dizia enquanto balançava em um balanço pendurado no galho de uma enorme árvore.

— Você gostou daqui, meu amor? — Kuchel perguntou e olhou para o filho, depositando o livro que estava lendo na colcha que estava estendida no chão, debaixo da grande árvore também.

— Muito. Estamos longe do papai e do barulho da cidade, é tão calmo aqui — Levi continuava se balançando olhando para o campo de flores grandes que havia ali.

Estavam em uma casa de campo alugada por temporada. Como o pai de Levi e marido de Kuchel viajaria a trabalho, a mulher achou por bem tirar um tempo para ela e o filho, longe da cidade e dos holofotes do mundo da música que sempre os envolvia. O pequenino estava em ascensão, então sempre que a imprensa tinha a oportunidade tirava fotos ou marcava entrevistas com a criança, pois o talento e dom eram notáveis.

Kuchel suspirou fundo com a fala do filho, triste e sentindo coração apertar. Levi ainda que fosse pequenininho, sendo uma criança fofa demais, era atento a tudo o que acontecia e sabia que ele não gostava do próprio pai, pois o mesmo somente lançava palavras horríveis e negativas ao próprio filho e por mais que ela tentava intervir ou falasse outra hora para ele não o fazer, apanhava e coisas piores.

Não queria aquilo para o filho nunca na vida, queria apenas uma família feliz e normal – coisa que ela nunca teve –, seu antigo lar também foi conturbado e na primeira oportunidade que teve de sair da casa dos pais, o fez; no entanto, não teve tempo o suficiente de conhecer o pai de seu filho e agora estava em uma relação difícil demais de sair. As ameaças eram constantes e temia que Levi se machucasse no processo, pois seu marido era louco o bastante para fazê-lo e até pior: temia que seu filho fosse tirado de seus braços. Tremia apenas de pensar na possibilidade.

— Quem sabe no futuro não moremos em local parecido, meu amor.

— Eu gostaria. Aqui ou perto do mar, assim eu poderia brincar todos os dias na água.

— Eu gostei da ideia de morar na praia — ela sorriu. — Pensou no que a mamãe perguntou para você antes de dormir ontem?

— Sobre meus sonhos, mamãe? — Levi parou o movimento com as perninhas e desceu do balanço, indo até o colo da mãe e sentando-se de frente a ela, sentindo os braços longos e finos circularem seu corpo pequeno.

— Sim, sobre seus maiores sonhos — ela sorriu.

Kuchel era uma mulher que sempre incentivou o filho a seguir com aquilo que acreditava e queria fazer, mesmo que Levi fosse pequenino já mostrava uma personalidade de uma pessoa forte e que sabia o que queria, tudo isso misturado com a beleza de uma criança inocente e fofa que estava descobrindo aos poucos o mundo.

Levi tinha seus quatro aninhos e ainda era tão pequeno e adorável que Kuchel jurava que o apertaria a qualquer momento. As bochechinhas coradas com um tom natural devido a pele pálida demais e os olhos felinos azuis como os seus eram um combo que arrancava suspiros de todos, quando abria a boca e mostrava que além da beleza natural era educado, conquistava qualquer pessoa.

Kuchel sorriu pensando nisso, apertando as bochechas coradinhas entre os dedos e Levi soltou gargalhadas gostosas no processo.

— Mamãe, isso dói — ele disse de forma brincalhona. — Mas eu pensei sim! Tenho três sonhos — ele fez o três com os dedinhos pequenos e Kuchel se perguntou se os dedos do filho seriam longos e finos como os seus eram.

— Hum, então conta para a mamãe qual são os seus sonhos, meu amor.

— Tá bem! — ele ajeitou-se melhor no colo de Kuchel e começou. — Eu queria muito tocar para a rainha um dia — ele disse, erguendo um dedinho e sua mãe arqueou as sobrancelhas em surpresa.

O Nosso Fio VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora