De volta em casa

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Ando até o carro me apoiando em Enzo, pois minha perna ainda não está recuperada do tiro que levei, percebo que ele está um pouco relutante em tentar falar comigo, é como se ele estivesse com medo de eu o xingar caso tente falar algo, permanecemos em silêncio todo o caminho para casa, subo e vou para meu quarto com a ajuda de Enzo.

- Vai falar de um vez ou vai ficar só me olhando? - Pergunto o olhando com o canto do olhos.

- Me perdoe, isso é tudo culpa minha... - Enzo fala olhando para o chão, sem ter a coragem de olhar em meus olhos.

- Quando for falar comigo olhe para mim!

- Rafa, eu... - Assim que seus olhos encontram o meu, vejo seu medo e sua pena por mim.

- PARA! Você não pode me olhar é falar comigo sentindo pena de mim. Nos estamos passando pela mesma perda, para de tentar levar tudo isso para você!

- Mas eu... - Seus olhos se enchem de lágrimas.

- Enzo, eu não estou te culpando ok?! Eu não culpo você, mas eu vou ficar realmente irritada, se você começar a fazer o que todos estão fazendo, se você ficar me olhando com pena, aí sim eu não irei te perdoar! - A cada passo que dei até entrar no meu quarto, recebia um olhar de pena, esses olhares que eu sempre odiei receber.

- Ok, me desculpa, eu só...Eu devia ter chegado a tempo, eu nunca erro ou perco a cabeça, mas quando vi você naquele estado, eu me senti perdido, eu... - Enzo acaba se entregando a sua dor, e quase cai de joelhos no chão.

- Ei, tá tudo bem! ta tudo bem.- Digo me ajoelhado a sua frente e o abraçando.-  Já estou em casa, e vou ficar bem, assim que minha perna se recuperar, eu irei acertar as contas.

Quem estou querendo enganar, com essa casca grossa?! olhar para Enzo e Thomas me faz pensar sobre o bebê que até alguns dias eu nem sabia que havia em mim, mas por outro lado, sei que apesar de isso ter acontecido comigo e com Thomas por conta do amor pisicotapa que a maçã azeda sente por Enzo, sei que não foi culpa dele.

Ele nem sabe ainda que foi ela, e ele nunca faria algo para colocar a minha vida e principalmente a de Thomas em perigo...

- Senhor, Thomas não quer comer, tentei de tudo para o convencer.

- Ok, eu vou lá!

- Deixa que eu vou.

- Rafa sua perna ainda não está recuperada!

- Deixa eu falar com ele!

Vou devagar até o quarto de Thomas, que se recusa a abrir a porta para mim, David me contou que Thomas não queria me ver, com medo de eu querer ir embora, ele acha que eu me machuquei por culpa dele, e que eu não gosto mais dele por isso.

- Thomi por favor, abre a porta para a mamãe!

- Não, mamãe vai entrar e dar tchau para Thomi, não vou deixar você me dar tchau para ir embora!

- Eu não vou embora! Thomi mamãe precisa de um abraço seu para sarar, por favor, não vai me dar um abraço?

Thomas abre a porta devagar e me olha, seu rosto está inchado de tanto chorar, vê-lo neste estado só aumenta a minha irá!
Ele é só uma criança é foi sequestrado, na cabeça dele, se ele não fosse só uma criança, não teria sido sequestrado e assim eles não teriam me machucado.

- Thomi, nada disso que aconteceu foi culpa sua! As pessoas que são más, você não tem nada haver com isso.

- Mas se Thomi tivesse dado um jeito de fugir mamãe não teria se machucado feio para salvar Thomi.

- Feio? Você não acha que minha perna está estilosa, parecendo a perna de uma super heroína guerreira?

- Verdade! mamãe é uma super heroína, e quando Thomi crescer ele vai ser o super herói da mamãe!

- Você já é Thomi.

A calça de Thomas possui uma correntinha, que acidentalmente é precionada em minha ferida quando ele me abraça.
Seguro o gemido de dor que quase escapa pela minha boca, finjo estar sorrindo, mas ficar tanto tempo abaixada, já havia forçado um pouco o machucado, e agora que a correntinha finca bem em cima dele, a abre novamente. sinto ela sangrando...

- Thomi vamos ver se tia Zoe fez uma comida gostosa pra mamãe? - Diz David percebendo o que aconteceu.

- Vamos!

Tento me levantar devagar, minha perna está sangrando e doendo bastante, não consigo a encostar no chãoe quase caiu, por sorte Enzo chega bem na hora e me segura!

- David passou por mim e me avisou, você fala de mim, mas sempre fingi ser forte  o tempo todo.

- Eu tô bem! - Digo me apoiando nele.

- Você "tá bem"?! a sua perna está sangrando, vamos vou te levar pro hospital. - Diz Enzo me pegando no colo preocupado.

- Não, Thomi vai chorar.

- Ok, vem, vou limpar a ferida.

- Ok!

Enzo me leva até o quarto e me coloca sentada em cima da escrivania com cuidado,  ele retira devagar o curativo, enquanto tira os gases ele olha para mim, sempre que fecho um pouco mais o olho, ele percebe que estou com dor e para por alguns segundos.
Ele passa o remédio e refaz todo o curativo com cuidado, quando termina ele coloca um adesivo de patinho.

- Adesivo de pato, sério?

- Eu gosto de patos!

Ele me pega no colo, me ajudando a ficar em pé com cuidado e nos descemos devagar até a  cozinha, Enzo me carrega no colo até chegarmos na parte de baixo.

- Tem certeza que nao quer que eu compre uma cadeira de rodas para você?

- Tenho! além do mais, para que uma cadeira de rodas se tenho você para me carregar?!

- Você está tirando proveito do seu marido?

- Esses são o direitos de sua esposa!

- Você tem razão. - Diz rindo.

Nos sentamos na mesa e percebo que tia Zoe fez os meus pratos preferidos. Ela me olha com carinho e um sorriso acolhedor, como se estivesse me dando boas vindas de volta a casa, diferente dos outros, seu olhar não trás sensação de pena, mas sim amor.

Esta sou eu!Onde histórias criam vida. Descubra agora