02 - Dias de luta

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Marjorie

Assim que chego na lanchonete, já
começo a ajudar a Dona Quitéria lavando tudo, arrumo as mesas e cadeiras e vou pra cozinha ver se o Senhor José precisa de ajuda.

Quando me dou fé o movimento começa com tudo, ajudo anotando os pedidos, a servir e também com os pagamentos.

Estava servindo uma mesa quando vejo Natiele e sua amiga Damaris vindo na direção da lanchonete, elas sentam em uma mesa no lado de fora, as duas me olham e dão uma risada.

Vou até lá com toda paciência e educação do mundo, mas a minha vontade mesmo é de dar na cara das duas.

- Quero o prato do dia e uma coca com gelo e limão. - Natieli fala sem me olhar.

- Eu quero a macarronada e um suco natural de limão. - anoto tudo e quando estou saindo escuto uma delas falando

- Ver se não demora viu fofa. - respiro fundo, contando até 10 e vou até a cozinha levar os pedidos delas.

Assim que feito, levo e vejo a Damaris olhando pro prato com uma cara feia

- Eu pedi macarronada com salsicha e não carne moída. - a ridícula não disse nada sobre o acompanhamento

- Você não explicou sobre o seu prato, então entendemos como carne moída. - tento ser mais educada possível

- Pode levar lá e trocar agora. - ela pega o prato e joga com tudo em cima de mim, fazendo sujar toda a minha blusa.

- Tá tudo bem aqui meninas? - Dona Quitéria fala se aproximando

- Essa imprestável que não sabe anotar nada direito. - Quitéria me olha e eu entendo que é pra eu ir lá pra dentro.

Ela pega outro prato e leva até as meninas, que me olham debochadas, vejo que a Quitéria está vindo na minha direção.

- Infelizmente vou ter que descontar da sua parte o prato que ela não quis.

- Você sabe que a culpa não foi minha. - ela me olha sério

- Eu sei! Mas não posso sair no prejuízo e lembre-se cliente tem sempre razão. - respiro fundo e vou até o banheiro me limpar.

Por sorte as duas quengas comeu e foi embora, continuei meu trabalho e parece que hoje trabalhei 48 horas seguidas, de tão casada que estou.

Ajudo a Dona Quitéria com a limpeza e vou direto pra minha casa, não posso demorar se não a jararaca vem de graça e eu faço o possível pra não irritar, se não quem paga o pato sou eu.

Chego em casa e vou pro banheiro, tomo um banho e pego um vestido soltinho que tenho, um dos poucos, mal tenho roupas direito.

Vou pra cozinha e começo a fazer janta, faço arroz, feijão, bisteca e salada de alface.

Espero as duas chegar e já são 20:00 horas da noite, coloco a comida das duas e diversas vezes já pensei em por veneno e acabar com tudo isso logo.

- Soube que estressou a Damaris hoje. - Natana fala me olhando sério

- Eu acho bom trabalhar direito, se perder esse emprego aí que vai ficar sem comer. - dou uma risada irônica

- Não vai fazer tanta diferença então. - ela se levanta e como já era de se esperar me dar um tapão em meu rosto, me pega pelos cabelos e me joga ao lado de fora no chão, pega a corrente e me prende.

- Pra aprender, vai ficar sem a porra do papelão. - ela saí batendo os pés e tranca a porta com tudo.

Me ajeito ali do jeito que dá pra não me machucar, deixo as lágrimas caírem, tento entender o por que de ter que passar pro tudo isso tão nova, todos os dias torço pra acordar e tudo isso ser apenas um pesadelo, sem perceber acabo pegando no sono.

(...)

Acordo e vejo que ainda está de madrugada, não tenho celular então não sei exatamente o horário, começo a sentir os pingos da chuva e era só oque me faltava, fico bem encolhida ali tentando ser molhada o menos possível, mas é atoa, sinto um frio muito grande e começo a me tremer.

A chuva dura a madrugada toda, quando para já está amanhecendo, começo a espirrar e é só oque me faltava ficar doente.

Espero mais algumas horas até a Natieli vim me soltar, vou até o banheiro sentindo meu corpo todo doer, escovo meus dentes e faço um coque no cabelo.

Sinto que minha garganta está ficando inflamada, então pego 10 reais que tenho guardado e aproveito e pego o dinheiro do pão, vou até a farmácia compro o remédio e logo em seguida vou na padaria, paro no meio do caminho e como um pão rapidamente, torcendo pra ninguém ver.

Sinto muita dor na hora de engolir, mas se eu não como agora, só vou comer na terça-feira afinal, hoje é domingo.

Chego em casa e vejo as duas sentadas no sofá assistindo todo mundo odeia o Cris, esquento o café, o leite, pego a manteiga e deixo ali em cima da mesa.

- Já está tudo pronto. - falo com dificuldade e começo a tossir

- Vai tossir pra lá garota, quero ficar doente não. - Natana me olha com cara de nojo

Prefiro ir pro lado de fora e fico ali sentada esperando as duas sair, normalmente de domingo elas passam o dia na rua, batendo perna.

Entro e começo a limpar toda a casa, já deixo o feijão de molho e tiro o frango pra descongelar.

Sinto meu corpo todo estranho e percebo que vou ficar doente, também todo dia com banho gelado e ontem tomei aquela chuva toda.

Pego o remédio que comprei e escuto alguém batendo na janela vou até lá e vejo a Isis.

- Trouxe comida. - Isis é uma vizinha, tem a minha idade e é amiga da Natiele, mas ao contrário dela e da Damaris, ela me ajuda bastante

- Não precisava se preocupar. - começo a comer e faço uma careta

- Tá tão ruim assim? - ela faz uma cara engraçada

- Tô ficando doente, minha garganta tá doendo. - ela coloca a mão na minha testa e me olha séria

- Você tá queimando de febre. Acho melhor aproveitar e ir pro médico, tomar uma injeção, afinal aqui você nem tem direito de ficar doente. - ela fala com uma voz triste

- A clínica da família, de domingo é fechado Isis e eu não posso sair do morro, se não é pior. Vou tomar um remédio e descansar um pouco já já passa.

- Qualquer coisa você me grita, ok? - concordo com a cabeça e ela vai embora.

Pego uma coberta fina que tem ali e vou pro meu cantinho, deito e fecho os olhos, sinto minha cabeça doer e torço pra isso passar logo.

VENDIDA NO MORRO DO AMOR Onde histórias criam vida. Descubra agora