Dias depois, Alessandro se ausentou em uma viagem, destinado a entregar uma obra recentemente finalizada. Lembro-me de tantas vezes ter acompanhado o passo firme dele nesses eventos, mas agora, quem compartilharia dessa experiência seria sua nova assistente, Megan Scott. Às vezes, dou voltas sobre se essa decisão de sair foi a certa. Segundo minha irmã, tal inquietação provém do vínculo profundo que cultivei com aquele lugar ao longo dos anos. Acreditava, fervorosamente, que ao romper com o trabalho e abraçar uma rotina nova, finalmente encontraria a felicidade. Mas por que então, este vazio persiste?
Alessandro costumava ocupar cada centímetro do meu tempo, e agora, a ausência dele é uma lacuna que se faz notar de maneira estranha. Jenny, em seus sábios conselhos, sugeriu que eu deveria estudar o que sempre sonhei desde o início. Embora ela quisesse arcar com as mensalidades, por conta de nosso acordo, recusei e insisti em assumir as despesas. A pintura, compreendia eu, dotava o indivíduo com técnicas e saberes para moldar uma expressão mais aguçada, capacitando-o a criar nas superfícies bidimensionais as mais diversas formas.
— Primeiramente, o curso de graduação em pintura é, acima de tudo, uma oportunidade encantadora para vocês poderem ampliar suas técnicas, traduzindo tudo o que sentem em manifestações artísticas particulares. — disse o professor, deslizando vagarosamente pela sala, gesticulando com eloquência. — Por outro lado, é requerido dos estudantes um comportamento disciplinar bastante rigoroso, o que pode, em partes, fazer com que alguns procedimentos fiquem metódicos e contínuos, influindo no potencial do artista. — eu o observava atentamente, tomando nota de cada palavra. — O graduando em pintura costuma colocar muita emoção e sentimento em seus trabalhos. Dotado de uma sensibilidade sem igual, é capaz de retratar detalhes que muitas vezes, passam despercebidos por aqueles que não têm essa capacidade de percepção. — ele parou diante de sua mesa, apoiando-se nela com gravidade. — Ser um pintor não é simplesmente combinar cores! É reunir sentimentos, sejam eles bons ou ruins, e transformá-los em mensagens para o público. Aqui, vocês vão aprender: oficina de criação, desenho artístico, história da arte, teoria da pintura, teoria da percepção, análise da composição, conservação e restauração, exposição individual e, por último, a pintura em si. Para ser um bom pintor, é necessário, acima de tudo, enxergar com os olhos da alma, buscar detalhes ainda desconhecidos e descobrir formas e cores que encantem e mostrem verdade! — eu acenei com a cabeça, absorvendo suas palavras.
O toque do sinal anunciou o fim da aula. As cadeiras começaram a ranger com o movimento das pessoas que se erguiam. Observando-as, levantei-me também, recolhendo minhas coisas e pegando minha bolsa. Ao chegar em casa, fui recebida com afeto pela minha cachorrinha, acenando o rabinho com entusiasmo. Larguei a bolsa no sofá e dirigi-me ao banheiro. Após abaixar a calça, libertei-me. Após a limpeza, notei a mancha de sangue, indicando que, finalmente, aqueles dias haviam chegado.
Descartei o papel no lixo e decidi tomar um banho. Enquanto a água escorria, minha mente vagueava pelos momentos compartilhados com Alessandro, um sorriso espontâneo despontando nos lábios. Minutos depois, deixei o chuveiro, envolvendo-me numa toalha, e retornei ao quarto. Depositei as roupas sujas no cesto e, ao abrir a gaveta da cômoda, peguei uma calcinha e um absorvente.
Acomodada em um pijama, dirigi-me à cozinha para preparar o jantar. Optei por um miojo, uma opção rápida, econômica e descomplicada. Enquanto a água aquecia, liguei a televisão, sintonizando-me com as notícias do mundo. Repentinamente, um sinal anunciou a chegada de uma mensagem no celular.
Alessandro: Boa noite. — um sorriso brincou em meus lábios com o modo como ele me chamava, uma pitada de sarcasmo, mas tão característico dele.
Eu: Boa noite, senhor Russell.
Alessandro: Está em casa? — sentei-me no sofá, mordendo a unha, ao ler sua mensagem.
Eu: Sim, por quê?
Alessandro: Poderia abrir a porta para mim?
Li aquelas palavras com completa surpresa. Olhei para a porta e, ao abrir a porta, vi Alessandro, de pé, desviando os olhos da tela para mim. Ele sorriu, um daqueles sorrisos cativantes que só ele possuía, enquanto guardava o aparelho. Sem hesitação, encurtei a distância entre nós, pressionando os lábios contra os seus. Ele correspondeu, envolvendo-me com as mãos em minha cintura. Ao afastar nossas bocas, olhei em seus olhos.
— Aconteceu algo? — perguntei, seguindo-o e retirando seu blazer.
— Sim. — ele se virou em minha direção. — Estava com saudades de você. — nos encaramos por um momento. Sorrio, negando com a cabeça. Minha cachorrinha, aproximou-se.
— Oi pra você também. — Enquanto observava os dois, um pensamento flutuou em minha mente: a água no fogo!
— Ai meu Deus, esqueci da água! — corri até a cozinha e desliguei o fogo.
— O que estava fazendo? — ele perguntou, se aproximando.
— Estava esquentando a água para fazer macarrão instantâneo.
— Sabe que isso é veneno não é? — ele franziu o cenho.
— Eh, eu sei. Mas não como direto. Além disso, se você for parar para pensar tudo que consumimos é veneno.
Virei-me e abri o armário, estendendo a mão para pegar o macarrão. De repente, senti algo atrás de mim. Olhei para cima, encontrando sua mão ágil pegando o pacote com facilidade. Enquanto nossos olhares se encontravam, uma tensão elétrica percorreu o ar. Alessandro não hesitou, selando nossos lábios num beijo impetuoso.
Respondi com a mesma intensidade, envolvendo minhas mãos em seu pescoço. Seus dedos pressionaram minha cintura, e ele levantou minha coxa, prensando-me contra a bancada da cozinha, enquanto seus lábios encontravam meu pescoço. Mordi o lábio inferior, acariciando seus cabelos. Senti sua mão explorar a borda da minha calça, até que a realidade retornou: eu estava naqueles dias. Interrompi o momento.
— Hoje não... — engoli em seco, abrindo os olhos.
— Por quê? — ele afastou uma mecha de cabelo do meu rosto.
— Porque não posso. — olhei para ele, o silêncio pesando entre nós.
— Ahh... — Ele faz uma pausa, deslizando a mão pelos meus braços.
— Então... — Me desvinculo dele. — Você já jantou?
— Não. Acabei de deixar a Megan na casa dela.
— Ahh... — concordei com um aceno lento. Gostaria de jantar aqui? — perguntei.
— Só se não comermos macarrão instantâneo.
— Ok, então... — olhei para a televisão, onde passava um comercial de comida. — O que acha de pizza!? — Voltei a encará-lo.
— Pizza?
— Sim, pizza! Podemos pedir também um refrigerante. — meus olhos brilharam.
— Eu não como pizza.
— Mas hoje, vamos! — passei por ele, indo em direção à sala. Peguei meu telefone e abri o aplicativo de delivery. Fiz o pedido de uma pizza média e duas latas de refrigerante. — Prontinho! Agora é só aguardar. Enquanto isso... — envolvo minhas mãos em volta do seu pescoço e o beijei.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Tubarão de Terno [Em breve atualizações]
RomanceEmbarque em uma cativante jornada nas páginas deste livro, mergulhando na história de Helena Grace, uma jovem determinada que almeja construir uma carreira de sucesso em Seattle. Ao conquistar um emprego como assistente pessoal na renomada "Engineer...