Capítulo 05

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Após alguns minutos, nos despedimos de algumas pessoas e formos embira. Alessandro dirigia o carro com maestria, demonstrando sua habilidade e conhecimento das ruas da cidade. Sua postura confiante e focada no volante transmitia uma sensação de segurança, mesmo em meio às palavras difíceis que eu estava prestes a pronunciar. Com uma voz calma e determinada, dirigi-me a ele,

— Senhor Russell... — faço uma pausa. — Com uma voz calma e determinada, dirigi-me a ele — Acho que é hora de seguirmos caminhos separados. — comecei, escolhendo cada palavra com cuidado. — Acredito que seja adequado procurar uma nova assistente.

O silêncio se instalou no interior do veículo, pesado como um manto denso. Eu sabia que aquela conversa seria difícil, mas era uma verdade que eu não podia mais adiar. Encarei a estrada, mas podia sentir seu olhar fixo em mim, aguardando uma explicação.

— Eu decidi renunciar ao meu cargo. — continuei, minha voz soando firme e resoluta. Ele ergueu uma sobrancelha em surpresa, e nossos olhares se encontraram por um breve momento, trocando uma conexão fugaz antes de desviar novamente.

— Por que isso de repente? — ele perguntou, sua expressão carregada de confusão. Desviei o olhar, buscando uma resposta em meio à enxurrada de emoções que me invadia. Não seria fácil explicar o que estava acontecendo dentro de mim, mas eu sabia que precisava compartilhar a verdade.

— Por razões pessoais. — respondi, minha voz mais baixa do que eu gostaria.

O semáforo à nossa frente mudou para verde, e ele voltou sua atenção para a estrada. Durante o resto do trajeto até minha casa, um silêncio incômodo prevaleceu entre nós. Eu esperava talvez um esforço de convencimento ou um pedido de reconsideração, mas suas palavras curtas e diretas mostraram que ele aceitara minha decisão.

— Ok. Faça como quiser. — ele disse, sua voz séria e focada. E foram essas as últimas palavras que trocamos durante aquele percurso. Eu senti uma mistura de tristeza e alívio se instalar em meu coração, enquanto observava a paisagem passar rapidamente pela janela.

Embora deixar para trás uma parte tão significativa da minha vida fosse doloroso, eu sabia que era hora de seguir em frente. Era hora de explorar novos caminhos, de buscar meu próprio crescimento e felicidade. A estrada à frente pode estar repleta de incertezas, mas eu estava determinada a enfrentá-la com coragem e confiança. Afinal, a vida é uma jornada cheia de surpresas, e eu estava pronta para abraçar o desconhecido e descobrir o que o futuro me reservava.

(...)

No dia seguinte, a cozinha do setor encontrava-se em um silêncio tranquilo quando Sandra Rufino, secretária do Majid, expressou surpresa:

— O quê? Você está se demitindo? — Mantive meus olhos fixos na xícara de chá à minha frente, respondendo de forma evasiva:

— Razões pessoais. — Sua reação foi instantânea, abrindo a boca e apoiando a mão na cintura enquanto processava a informação.

— Alessandro Russell sem Helena Grace? Nunca imaginei! — Ela refletiu, claramente impressionada.

Concordei com ela, incapaz de discordar. Foram sete anos trabalhando na empresa, ascendendo do cargo de assistente administrativo ao de assistente pessoal do CEO. Nesse período, cresci consideravelmente, tanto profissional quanto pessoalmente. Agora, chegara o momento de seguir em frente e buscar novos desafios. Sentia gratidão por tudo que havia conquistado até então e sabia que a experiência adquirida me seria valiosa em futuras oportunidades.

— Mas estou certa de que encontrará uma nova assistente incrível. — Comentei para Sandra, saindo do devaneio e voltando ao presente enquanto preparava o chá. Agora era hora de encarar o futuro com entusiasmo e experiência, ciente de que tudo que aprendi até ali me preparou para o que viria adiante.

— Já não sei se posso afirmar isso. — Ela olhou para a bandeja.

— Como assim?

Enquanto eu organizava a bandeja com habilidade e destreza, Sandra me observava com respeito.

— Olha só... — ela apontou para a bandeja enquanto comia um biscoito. — Não vejo nenhum assistente fazer algo assim, Helena. Acredito que ele não conseguiria viver sem você.

Rio, negando com a cabeça, grata pelo elogio. No entanto, sabia em meu íntimo que aquilo era apenas o esperado de mim. Afinal, havia ocupado o cargo por tanto tempo que as tarefas se tornaram automáticas. Mas, então, Sandra disse algo que me fez refletir: "Acredito que ele não conseguiria viver sem você." Aquelas palavras ecoaram em minha mente enquanto percorria a empresa em direção à sala de meu chefe, observando o chá dançar dentro da xícara a cada passo. Pausando por um momento diante da porta, olhei-a por alguns segundos antes de inspirar profundamente e entrar. Apesar de todas as conquistas que tivemos juntos, estava pronta para seguir em frente e enfrentar novos desafios. Foi difícil, mas finalmente consegui dizer a ele que estava deixando a empresa...

Ao adentrar sua imponente sala, deparei-me com uma vista deslumbrante da cidade através das amplas janelas. Ele estava lá, em pé, contemplando a paisagem enquanto fumava um cigarro. Respirei fundo e caminhei com confiança em direção à sua mesa, sentindo o som dos saltos ecoarem pelo ambiente.

Deixei a bandeja de chá na mesa, ajeitei rapidamente o cabelo antes de erguer meus óculos e juntar as mãos à frente do corpo. Nossos olhares se encontraram quando sorri, mas ele permaneceu sério, observando-me atentamente. Ele apagou o cigarro e virou o rosto na minha direção. Por um momento, nossos olhares se fixaram, criando uma tensão palpável no ar. Em seguida, ele se dirigiu à mesa, fazendo um barulho alto com a cadeira ao sentar-se. Imediatamente, peguei o tablet.

— Consertar a cadeira? — Ele arqueou uma sobrancelha ao me encarar. Desviei o olhar da tela do celular para ele. — Sei o que passa pela sua mente, Grace. — Um meio sorriso surgiu enquanto ele amassava o cigarro no cinzeiro.

— Queria enviar um presente para a senhora Lawton.

— Uma caixa de chocolates é sempre uma opção segura. — sugeri. — Mas se quiser algo mais exclusivo, uma cesta gourmet com delícias e bebidas requintadas seria uma escolha interessante. Ou até mesmo uma garrafa de vinho especial. Seria uma surpresa marcante e inesperada. — Ele me observou, pensativo por alguns segundos, ponderando minhas sugestões. Finalmente, ele suspirou e concordou.

— Gosto da ideia da garrafa de vinho. Parece mais pessoal e especial. Vamos fazer isso.

Concordei e anotei os pedidos no tablet. Senti um leve alívio por ter ajudado na escolha dos presentes, sabendo que esses detalhes eram importantes para impressionar e manter boas relações comerciais.

— Obrigado, Helena. Você sempre tem as melhores ideias. — Ele me elogia.

— Estou sempre aqui para ajudá-lo, senhor. — Sorri, ciente de que essas palavras não eram meramente protocolares, mas uma expressão sincera do meu comprometimento com o sucesso de nossa empresa.

— Sobre o que você mencionou ontem... Você não está falando sério. — ele comentou. Respirei fundo e virei-me lentamente para encará-lo.

— Estou falando muito sério desta vez. — Ajeitei uma mecha de cabelo atrás da orelha e observei quando ele voltou a encarar a parede de vidro, pensativo.

Quando nossos olhares se encontraram novamente, senti a confiança pulsando em minhas veias.

— Seriam os horários? Finais de semana? Folgas? Salário?... — Ele começou a listar várias possibilidades.

— Não, senhor.  Agradeço por tudo que fez por mim. — Respondi com firmeza, sabendo que essa era a escolha certa para mim. — Se está preocupado com a entrevista, não precisa se preocupar. Enviarei o anúncio de emprego ainda hoje e farei a seleção dos currículos pessoalmente. Tudo o que precisa fazer é comparecer à entrevista final. — Concluí, desviando o olhar.

Ele bufou e girou a cadeira em direção à janela, indicando que nossa conversa havia chegado ao fim. Saí de sua sala sentindo uma sensação de realização e renovada confiança, sabendo que havia tomado a decisão correta de seguir em frente e buscar o melhor para mim.

O Tubarão de Terno [Em breve atualizações]Onde histórias criam vida. Descubra agora