Capítulo 06

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Após enviar os requisitos e exigências para o departamento de RH, aproveito os preciosos minutos em que o Sr. Russell não me atribui nenhuma tarefa e me dedico a elaborar uma versão final dos critérios do cargo. Com dedos ágeis, digito cada detalhe, garantindo que esteja tudo correto. Após uma breve revisão, sinto-me satisfeita com o resultado. Clico com determinação no botão "enter" e envio o documento.

Esticando-me na cadeira, espreguiço meu corpo e solto um bocejo involuntário. Enquanto alcanço minha garrafa de água, desatenta, a tampa escorrega de minhas mãos e cai no chão. Inclino-me para pegá-la, movendo-me com desajeitada pressa. Ao endireitar meu corpo, meu olhar se depara com o sr. Russell parado diante de mim. Sinto um susto repentino, minhas pupilas se contraem involuntariamente.

— S-Senhor... Russell... — Gaguejo ao me levantar precipitadamente, desajeitada. — Precisa de algo?

Ele me encara por longos segundos, estreitando os olhos enquanto mantém os braços cruzados sobre o peito, como se estivesse tentando me desvendar. Desvio meu olhar momentaneamente, intimidada, mas logo o encaro novamente, piscando repetidas vezes enquanto forço um sorriso. Quanto tempo ele vai continuar a me observar assim?

— Comerei em minha própria casa. — Sua voz é séria e seca.

— Claro!

Concordo rapidamente, observando-o sair do setor. Meus olhos seguem suas costas até que ele desapareça de vista. Então, me jogo na cadeira, soltando um suspiro de alívio. Olho para a garrafa de água em cima da mesa e a seguro, dando alguns goles. Em seguida, fixo meu olhar em um ponto vago no espaço à minha frente.

Consulto o relógio de pulso para verificar as horas e, decidida, me levanto, pego minha bolsa e meu blazer. Decido aproveitar meu horário de almoço e seguir até o banco para resolver algumas questões relacionadas a um empréstimo que havia solicitado. Após alguns minutos de espera, sou finalmente atendida. Dirijo-me a uma mesa onde uma funcionária está sentada e me posiciono à sua frente, entregando-lhe um envelope contendo uma quantia em dinheiro vivo.

— Boa tarde! — Cumprimento, abrindo minha bolsa e entregando o envelope à moça. — Este é o último pagamento do empréstimo que contratei aqui. — Sorrio, aguardando que ela conte o dinheiro. Enquanto ela realiza a contagem, meu celular começa a vibrar dentro da bolsa. Retiro-o rapidamente e vejo o nome do Sr. Russell na tela. Atendo a chamada, levando o aparelho ao ouvido.

— Sim, sr. Russell?... — Sorrio, porém, meu semblante se torna sério. — O quê? Agora?... — Respiro profundamente. — Está bem...

Encerro a chamada, aguardando que a moça termine de contar o dinheiro. Poucos minutos depois, nos encontramos na entrada da empresa.

— Pensei que iria para casa sozinho. O que aconteceu de repente? — Pergunto curiosa, enquanto nos acomodamos em seu carro.

— Surgiu uma solução. — Ele responde.

— Desculpe? — Fico confusa, fitando-o atentamente. Ele mantém um olhar sério, fixado na estrada, perdido em seus próprios pensamentos. Observo-o por alguns instantes antes de voltar minha atenção para a estrada à nossa frente.

(...)

Minutos se passaram e chegamos à sua residência. Ao adentrar sua sala, ele para abruptamente, fazendo com que eu colida contra seu peito involuntariamente. Desajeitadamente, dou um passo para trás, encarando-o de cima a baixo enquanto franzo a testa.

— Você me conhece bem e sabe que não sou dado a segundas chances, Grace. — Ele aponta o dedo indicador na minha direção.

— Claro. — Fitando seu dedo, ajusto a alça da minha bolsa e volto a encarar seus olhos.

— Mas para você, quero oferecer uma oportunidade...

— Perdão? — Fico confusa, piscando várias vezes.

— Essa oportunidade não se repetirá, então você deveria me agradecer. — Sua fala é pausada, e ele faz uma pausa dramática. — Eu vou promovê-la a diretora! — Ele sorri enquanto eu o encaro, boquiaberta. Essa era uma reviravolta que eu não esperava.

— Senhor Russell... — Começo a falar, tentando encontrar as palavras certas, mas antes que eu possa concluir minha frase, ele me interrompe.

— Não se preocupe, você poderá contratar uma secretária. A partir de agora, trabalhe com todo o seu potencial.

— Senhor... — Tento retomar a palavra, mas mais uma vez sou interrompida.

— Posso afirmar que você não encontrará outra oferta como essa. E também, não encontrará um chefe tão... — Ele desvia o olhar, esfregando o indicador no polegar, em busca das palavras certas. — incrível como eu! — Seu olhar volta para mim. Eu o encaro, arqueando uma sobrancelha diante de sua audácia.

— Senhor Russell, eu agradeço, mas... — Antes de completar a frase, uma voz nos interrompe.

— Alessandro! — Nós nos viramos na direção da voz e observamos sua mãe se aproximando para abraçá-lo. Em seguida, ela me cumprimenta educadamente. — Como você está, querido? Tem se alimentado bem? — Ela passa a mão em seus braços e em seu rosto.

— Sim, estou bem.

Caminhamos até a mesa de jantar. Raramente seus pais o visitavam, já que Alessandro mal tinha tempo de vê-los. A empregada serve nossa comida enquanto sua mãe e seu pai conversam animadamente. Meus olhos se voltam para Alessandro, que permanece calado, cortando a carne em seu prato. Ele leva o garfo à boca. Ele nunca foi muito dado a conversas, sempre recluso e solitário, como um tubarão nadando em águas profundas por anos a fio. Meu olhar desce até sua gravata, que está levemente torta. Solto os talheres sobre o prato e me inclino em sua direção.

— Licença...

Com cuidado, arrumo sua gravata enquanto ele continua a comer. Ele para de mastigar e me encara por um momento. Assim que termino, nossos olhares se encontram por alguns segundos antes de eu voltar para meu lugar, recolhendo uma mecha de cabelo atrás da orelha. Seus pais apenas sorriem enquanto continuam a conversar, e eu volto a comer, com o olhar fixo no meu prato.

O Tubarão de Terno [Em breve atualizações]Onde histórias criam vida. Descubra agora