UM

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03 de Janeiro de 2022 - São Paulo

- Mãe, eu sei que a senhora tá com medo da minha viagem pro Rio mas é uma oportunidade única, eu não posso recusar a chance de finalmente alavancar minha carreira.

Minha mãe estava irritada e falava sem parar sobre o quão perigoso seria eu sair de São Paulo para passar uma temporada trabalhando no Rio de Janeiro. Eu sinceramente não aguentava mais ouvir ela se lamentando, mas assim ela permanecia.

- É outra cidade, Gabi, longe da sua família, amigos, o Astolffo e tudo que você mais ama - insistiu minha mãe.

Eu já havia avisado da viagem há meses, é o exato dia do voo e ela ainda não se conformou. Tentei pela milésima vez:

- Esqueceu de uma das coisas que eu mais amo nessa lista: meu trabalho como advogada, e eu não irei morar lá, serão alguns meses e pronto, voltei! Sem contar que em 1 hora ou menos a senhora pode ir me visitar...por favor, para mãe - eu implorei dessa vez.

- Não tem mais o que falar, posso desejar boa sorte e te esperar voltar ansiosamente - choramingou.

Abracei-a forte mas não por muito tempo porque chega de lágrimas nessa casa. Fui pegar minhas malas para deixa-las na frente do elevador, peguei minha bolsa de mão, me certifiquei de que não estava esquecendo nada e aí parti para o momento que sabia que acabaria comigo: a despedida do Astolffo, meu gatinho de estimação de 8 anos de idade, vulgo amor da minha vida.

- Mamãe te ama, meu bebê, eu volto logo, prometo, você e sua vó vão piscar e eu estou de volta - quase chorei enquanto me despedia e abraçava meu filho de 4 patas, olhei para minha mãe e ela continuava com cara de quem implorava pra eu não ir, me levantei e abracei ela pela última vez naquele dia - Te amo demais, mãe!

(...)

Abri os olhos e senti um leve enjoo, com certeza por conta do avião que estava pousando e eu jamais me acostumaria com essa sensação. Olhei pela janela em seguida e até me esqueci da má sensação com a vista da cidade maravilhosa, sempre fui apaixonada pelo Rio de Janeiro, nunca imaginei que moraria aqui por conta do trabalho, eu tava muito feliz e com medo na mesma proporção, afinal, o desconhecido é desconfortável para mim, até demais, confesso. O Rio era um paraíso a ser explorado, o que será que essa cidade iria me oferecer?

Estava no táxi indo para o meu apartamento alugado e recebi uma mensagem no meu grupo de amigas do whatsapp, avisei que tinha chego e lembrei de fazer o mesmo para a minha mãe:

"Grupo das encalhadas:
Luana - Gabriellaaaaa, você tá no RJ e pelo amor de Deus, se jogaaaa! Não fica no apê comendo e vendo série o dia todo. APROVEITA ESSA CIDADE.

Aline - Tem uma balada famosérrima e bem frequentada por aí que se chama Vitrinni!! Vai na minha que é sucesso, primeiro dia tem que ter chave de ouro.

Gabriella - tô cansada só de ouvir vcs falando, gente do céu! Eu vou chegar e ver se minha irmã topa fazer algo, ainda tenho mala pra desfazer. Preguiçaaaa."

Bem, eu não sou a pessoa mais agitada do mundo, amo ficar em casa fazendo nada e comendo tudo; se não estou nessa provavelmente estou trabalhado. Mas curto uma balada ou outra as vezes, minhas melhores amigas tentam mudar isso me incentivando a sair mais. Não é má ideia, até porque não pretendo morrer solteira e infelizmente um homem não vai brotar na minha porta.

Assim que desci do carro minha irmã estava me esperando na portaria. Entrei no apartamento e comecei a organizar minhas roupas no quarto que ela me deixou ficar.

Manoela já sabia como a mamãe estava:

- Primeiro a filha preferida dela vem pro Rio pra fazer faculdade - revirei os olhos para a suposição de preferência dela - Depois a filha nerd vem atrás por conta do trabalho, ela vai deserdar a gente, Gabriella.

Sirena | De ArrascaetaOnde histórias criam vida. Descubra agora