QUARENTA E TRÊS

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Duas semanas se passaram desde que voltamos de São Paulo, na casa da minha mãe. Foi um fim de semana muito intenso, muito maluco na verdade, nem sei como nós conseguimos sair ilesos a qualquer discussão mais séria, mesmo com tantos acontecimentos. Era ótimo poder contar com alguém que sabia que iria me proteger e estava sempre disposto a interceder por mim em situações que me deixavam vulnerável, mas a parte ruim disso tudo continuou: Giorgian queria que eu saísse do emprego, eu não consegui achar outro para me pagar pelo menos 60% do que recebo e optei por aguentar mais um tempo o Eduardo, até mesmo porque depois do nosso último episódio, que contei para o meu namorado, nada aconteceu.
Nenhuma novidade, estou com a cabeça a mil e desabafando com a minha irmã, grávida de 5 meses, sobre toda a situação enquanto ela come um monte de pão de queijo.

- Ainda tem desejo nessa fase da gravidez? - ela mostrou o dedo do meio e seguiu comendo, nem respondi - Enfim, eu não sei se quero conversar com ele sobre isso porque não sei como essa conversa se desenrolaria, sabe!? É complicado.

- Vocês vão morar juntos mesmo? - pensei e assenti.

- Acho que sim, se ele realmente quiser, eu vou, mas não falou mais sobre isso também - peguei um pão dos que ela comia, e recebi uma cara feia em resposta, gravidez deixa as pessoas malucas mesmo.

- Você tentou falar sobre isso? - ia responder mas minha irmã levantou a mão e respondeu - Não, não falou nada porque você já deve estar pensando que ele não quer mais ou que não vai dar certo ou qualquer outra merda - continuei calada e olhei para minhas unhas, ela estava errada? - Gabriella, fala com ele, acho que até ele mesmo precisa que parta de você.

- Sim, senhora - suspirei e peguei meu celular para deslizar pelas minhas redes sociais e ver se algo de interessante acontecia. Não iria discutir sobre isso, meu silêncio admitiu ser um bom conselho, por mais difícil que seja para mim - Como tá sua vida de casada?

- Na maior parte dos dias, uma maravilha, as vezes um verdadeiro caos - levantou as sombracelhas como se estivesse refletindo sobre minha pergunta - Você vai viver isso na pele e me entender.

- Vamos ver, Manoela, vamos ver... - continuamos a conversa por mais algum tempo e resolvi ir até a casa do Giorgian mesmo sem que avisasse, até hoje não fiz isso e não sei se seria bom ou ruim.

(...)
Bati na porta e demorou para que ele atendesse, mesmo sabendo que eu já estava lá, pois o condomínio obviamente sempre o avisa.

- Si mamá, te llamo luego y hablamos más - ele conversava pelo telefone em espanhol, pelo que entendi com sua mãe, depois de alguns segundos, se despediram.

- E aí, meu bem? - me inclinei para dar um selinho e ele retribuiu segurando minha mandíbula, estendendo o beijo por alguns segundos a mais.

- As vezes eu esqueço, mas você precisa conhecer minha mãe, ela vem aqui em casa semana que vem - fingi que não fiquei nervosa e assenti sorrindo.

- Ah, a gente pode combinar algo pra ser um momento legal entre nós - ele concordou com a cabeça e voltou a jogar videogame, o que provavelmente já estava fazendo desde que voltou do jogo.

- Porque quando o Flamengo não ganha, você mal fala comigo? - perguntei com cuidado pois sabia que derrotas e empates me deixavam com um homem mau humorado ao meu lado.

- Porque não sou a melhor companhia - respondeu de forma simples, me deixando até um pouco surpresa.

- Mas eu quero estar sempre com você - coloquei a mão em seu braço - Mesmo quando você não tá bem, relacionamento não é feito só de bons momentos - ele assentiu, mas sem me dar muita atenção, o que me irritou um pouquinho.

- Eu vou tentar - respondeu depois de se concentrar na partida da TV em que fez um gol, revirei os olhos.

- Tá tudo bem, fora seu trabalho? - perguntei porque ele continuou com um jeito mais fechado, que eu não estava habituada e nem queria aprender a ficar.

- Eu te pedi uma coisa há 15 dias - tão certo como o mau humor pós não vencer o jogo, era que eu ouvisse isso hoje.

- Eu vou fazer isso, só não agora, eu ainda não me organizei o suficiente - expliquei rapidamente.

- É por dinheiro? - perguntou me olhando, pela primeira vez desde que sentamos neste sofá.

- Não quero o seu - respondi com firmeza e ele revirou os olhos.

- Eu não vou aceitar que você continue com ele - abri os braços assim que ele disse isso, demonstrando que eu não podia fazer nada naquela situação - Você me prometeu, e se continuar lá, essas coisas não vão parar e eu não quero isso.

- Ele não fez mais nada depois da última vez em que conversamos - falei acompanhando o tom dele, que subiu um pouco.

- Ah, então agora tá tudo bem, só precisou chegar no ponto de você chamar ele de assediador - riu em forma de deboche e eu cruzei os braços.

- Eu não vim aqui pra isso - olhei para a TV, enquanto ele me encarava, invertendo os papéis de minutos atrás.

- Você é teimosa demais - pegou na minha mão direita e colocou entre suas duas mãos - Sai de lá e fica aqui comigo - pediu olhando nos meus olhos.

- E eu vou viver de quê? Do nosso amor? - ele soltou minha mão e passou as suas pelo cabelo, claramente irritado.

- Primeiro faz isso, e depois você se organiza - encarei minhas próprias unhas, assim como fazia em momentos que ficava nervosa/ansiosa - Esse não é o único emprego pra você.

- Eu sei que não, eu só não queria ser dependente de ninguém, eu nunca fui - desabafei com frustração e fui sincera com ele.

- É só pelo tempo que você precisar colocar sua vida no lugar, e eu não vou deixar você se sentir mal nessa situação, a gente tá junto - eu assenti e dei um meio sorriso para ele.

Eu poderia até falar que ele não manda na minha vida e fazer o que eu pretendia, mas ele não estava errado, algo pior poderia acabar acontecendo se eu continuasse no escritório. Sem contar que eu deveria achar errado que meu namorado adotasse outra postura depois de tudo que eu contei para ele. Então apenas o abracei e pensei em como faríamos isso.

- A gente resolve tudo isso nessa semana então - minha cabeça estava um completo turbilhão, apenas o abracei, ficando de joelhos no sofá.

- Dorme aqui hoje? - neguei com a cabeça.

- Tenho nem roupa, amor - ele desceu a mão esquerda para minha bunda e a apertou com uma força até exagerada - Ai, Giorgian - reclamei fazendo uma careta.

- Você não precisa de roupa comigo - ri e neguei com a cabeça novamente.

- Você não sabe ouvir não, já percebeu? - comentei e ele levantou as sombracelhas.

- Não tô acostumado com isso - o soltei enquanto encarava com expressão de tédio.

- Pois pode aprender então, eu tenho muita coisa pra resolver por lá, uruguaio - finalizei a conversa, realmente era verdade, se eu fosse fazer todo o programado, estaria cheia de tarefas.

Ele me olhou com a carinha do gatinho de botas do shrek e eu não aguentei, fui em direção a sua boca e o beijei, que retribuiu. Parei o beijo apenas para olhar meu celular que apitou.
Se tratava de uma mensagem da minha mãe sobre uma matéria envolvendo advocacia desportiva, que era sobre a atuação dentro do meio esportivo. Tive um leve estalo naquele momento, provavelmente foi um dos meus devaneios porque ele chegou a estalar os dedos na frente do meu rosto, me fazendo despertar.

- Eu acho que sei o que eu posso fazer, na verdade - ele fez uma careta de quem não estava entendendo nada e assentiu.

- Depois você me explica, tá bom? - apenas assenti e em seguida ele continuou - Agora você me ajuda com isso aqui, por favor.

Me provocou abrindo a calça e apertando o próprio pau, que estava duro o suficiente pra eu desistir de ir para o meu apartamento e o agarrar de novo.

Sirena | De ArrascaetaOnde histórias criam vida. Descubra agora