QUARENTA E SEIS

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Jamais imaginei que iria curtir tanto sair com uma famosa, sempre tive a impressão de endeusamento e inacessibilidade em relação a essas pessoas. E era justamente sobre isso que falávamos.

- Mas pensando assim, você namora um jogador que também é famoso - me olhou pensativa.

- Ele é diferente, a gente se conheceu de um jeito tão natural que nem me toco disso as vezes - respondi.

- Vocês são muito lindos juntos - ela falou após beber seu drink até o final

- E finalmente assumimos nosso relacionamento - não sabia se ela lembraria do que me falou sobre postar uma foto nossa.

- Eu vi - sorriu, ela lembrou - Te admiro por viver mais a vida real que a online, isso é raro demais hoje em dia.

- A vida pelo celular me deixa mais ansiosa, e eu não vejo necessidade de expor toda hora meu relacionamento, sabe?! - ela assentiu.

- Qualquer outra pessoa já teria postado 5 fotos no storie e me marcado nos primeiros dez minutos desse nosso date aqui - riu alto.

- Fica tranquila comigo, eu gostei de como você é, tô nem aí pros vários milhões de seguidores - falei e pedi outro drink.

- Eu sei, confio em você - não sabia se ela queria falar algo ou só se distrair mesmo.

- Tá tudo bem? - me aproximei e fiz essa pergunta, que queria fazer já ha um tempo.

- Eu só queria a companhia de uma amiga um pouco mais real - colocou a mão direita no meu ombro e sorriu - Eu tô bem, sério, é pra gente beber e dançar - levantou e eu fiz o mesmo.

- E esquecer do estresse dessa vida - ela levantou as sombracelhas e concordou com a cabeça.

A música do bar aumentou e começou a tocar funk, nos olhamos e começamos a dançar.

- Quando eu casar, você pode ser a madrinha - quase gritou no meu ouvido.

- Você só me viu duas vezes, mas eu aceito mesmo assim - rimos e bebi o 12° ou 17° drink daquela noite, tinha perdido as contas.

Nós curtimos a noite, como eu não fazia há um bom tempo.

- A última vez que eu me senti exatamente assim... - pensou.

- Foi naquela festa na casa do seu boy - nos abraçamos e começamos a cantar uma música do Thiaguinha que tocava.

- Amiga - apontou para minha bolsa transversal que mostrava uma luminosidade - Alguém te chamando.

Peguei meu celular na bolsa, apertei olhos para tentar enxergar alguma coisa e ele quase caiu no chão. Acho que todos os drinks que bebi resolveram bater de uma vez só.

- Ela tá bem - quando percebi a Rafa estava falando com a pessoa que me ligava, ela continuou falando por mais um tempo e desligou.

- Que horas são? - perguntei.

- 21h30 - me deu algo que parecia ser uma bala, porque era doce, e sentamos ao lado se fora.

- Chegamos aqui 16h e pouco - nos entreolhamos e rimos - O que me namorado queria?

- Tava preocupado porque mandou mil mensagens e nada - dei um gole na minha água - Ele começou a falar em portunhol, espanhol, sei lá que língua - dei risada da cara dela.

- Ele fala desse jeito quando tá nervoso, já aprendi a decifrar nesses meses.

- Intimidade - suspirei e assenti.

- Amor - senti meu olho lacrimejar e encostei minha cabeça nos ombros dela.

- Choro de cachaça eu respeito - ri e senti minha cabeça rodar.

Comecei a encarar a pessoa a minha frente. Assim que minha visão desembaçou, percebi que era o Giorgian ou alguém muito parecido com ele.

- Eu acho que quero vomitar - respondi sentindo minha pressão baixar, situação típica de quando estava bêbada, e dessa vez tinha exagerado.

Senti os braços do Giorgian na minha cintura e apaguei, simplesmente fechei os olhos e saí de sintonia.

(...)
Senti meus olhos extremamente pesados e o corpo todo dolorido, assim que abri os olhos, vi as paredes brancas que eram provavelmente de um quarto de hospital.
Estava sozinha, olhei em volta e me levantei bem devagar.

- Plena segunda feira e você entrando em coma alcoólico, Gabriella? Não teve adolescência? - ouvi a voz da pessoa que mais me perturbava há 21 anos.

- Me erra, Manoela - até minha garganta doía ao falar - E a Rafaella?

- Ficou aqui até agora pouco, mas tinha compromisso profissional e viu que você tava bem - falava enquanto comia alguma coisa rosa - Mandei ela ir.

- Mandou - ri - Você é muito mala, e meu namorado?

- Ele que te trouxe e me ligou, foi para o treino e disse que passa aqui mais tarde.

- Como assim mais tarde? Eu vou embora daqui, tô bem já - levantei meu corpo da cama aos poucos.

- O médico vai passar aqui antes, vou chamar ele - caminhou até lá fora lentamente, até porque estava carregando uma barriga de grávida quase sete meses.

Procurei meu celular e o encontrei na bolsa ao meu lado, mandei mensagem para a Rafaella avisando que eu estava bem já que ela havia pedido exatamente isso no áudio que me enviou, e aproveitei para respondeu ao Giorgian.

"Gabriella: desculpa e obrigada por cuidar de mim, já acordei e tô bem, bom treino ♥️"

Fiquei sentada na cama, esperando e me recuperando dessa vergonha que eu passei com quase 25 anos de idade.

- Gabriella - ouvi uma voz masculina e sorri simpática em direção a médico.

- Oi, Doutor, sei que é praxe conversar depois da ficar uma noite aqui, mas é que tô com muita pressa pra resolver algumas coisas - ele ficou sério me olhando com uma prancheta na mão - Tá tudo bem comigo, né? - perguntei preocupada.

- Tudo bem sim, com a senhora e com o bebê também - falou sério, me encarando.

- O quê? - fiquei o encarando e sentindo minha cabeça entrar em looping.

- Imaginei que não soubesse, já que está aqui por excesso de bebida, mas fizemos os exames - me entregou alguns papéis.

- Acho que vou desmaiar de novo - a Manu correu até meu lado, me dando apoio com seu corpo, não é possível.

Sirena | De ArrascaetaOnde histórias criam vida. Descubra agora