TRINTA E SEIS

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Liguei para minha mãe e ficamos no telefone durante mais ou menos duas horas e a minha cabeça rodava, rodava e sempre chegava a mesma conclusão, por mais que eu evitasse ao máximo entrar em surto pela situação.
No momento, estava com a minha irmã na casa do Victor, pai do filho ou filha deles, teríamos essa confirmação do sexo em breve.

- Gabi, para de chorar por favor - o garoto me entregou o segundo copo de água em menos de 15 minutos, até que julguei ele mal, não parece tão babaca.

- Eu tô tentando - respirei fundo e coloquei o copo na mesa novamente, fechei os olhos e senti mãos tocando nas minhas.

- Você sabia que isso poderia acontecer, é a vida - a Manu afagava minhas mãos e me encarava com a maior paciência do mundo, parecia até outra pessoa.

- Literalmente, é a vida - Victor abriu os braços ao lado do corpo como se aquilo fosse óbvio e eu revirei os olhos para os dois.

Eu deveria entrar em contato com meu namorado o mais rápido possível para avisar que eu acho que estou esperando um filho dele, mas eu simplesmente não conseguia.
A única coisa que se passava pela minha cabeça era que eu não queria ter esse bebê, independente de qualquer coisa, a situação me apavorava. Situação que eu e o Giorgian causamos juntos de forma consciente e irresponsável, mas o que eu poderis fazer agora? Minha mente pensava em mil formas de contar isso a ele, nenhuma parecia agradável para mim, a reação dele talvez não fosse ruim, mas a minha por si já estava péssima e não sei se melhoraria.

- Porque você não faz esse teste pra ter certeza disso logo? Pelo amor de Deus - Manoela deu outro chilique repetindo essa frase.

- Pelo jeito que eu tô e por tudo que eu tô sentindo, sei que só pode ser isso, eu já disse! - falei no mesmo tom que ela e senti meus olhos marejarem novamente.

- Pode ser outra coisa, podem ser várias coisas, você que fixou nessa ideia do nada - ela me respondeu e eu a encarei indignada.

- Mas ela disse que eles quase nunca se protegiam, amor - Victor falou com minha irmã e eu agradeci pela clareza.

- Obrigada por repetir, parece que ela não ouviu - Manu encostou no sofá e apoiou as mãos na barriga já grandinha dela.

- Fiquem aí supondo as coisas e surtando sem nem saber o que tá rolando - levantei irritada, peguei minha bolsa e me despedi do meu novo cunhado favorito, pelo menos ele tá me defendendo.

- Tchau, Manoela - acenei e passei direto - Você tá insuportável.

- E você tá maravilhosa, super certa - ela fez o que faz de melhor comigo, foi irônica.

Apenas bufei ao lado de fora eu caminhei em direção a saída.

- Acho que minha cabeça vai explodir - comentei comigo mesma enquanto caminhava em direção ao meu prédio

A Manu praticamente se mudou, mas continuo com fácil acesso a ela, para nossa sorte. Talvez hoje não seja uma sorte, eu sei que estressei ela com meu pequeno surto sobre algo que eu realmente estou supondo, mas com muito fundamento pra crer que se trata de uma realidade.
Assim que entrei no meu prédio e cheguei no andar em que morava, vi o Giorgian parado na porta com os braços cruzados.

- Porque você anda sumindo assim, do nada? - ele questionou com a voz alterada assim que viu no elevador.

- Deixa eu chegar perto pra gente conversar, pelo menos - ele negou com a cabeça visivelmente nervoso.

- Eu não quero um relacionamento assim - eu estava tentando abrir a porta, quando ele disse isso a chave quase caiu da minha mão trêmula, depois de um bom tempo consegui destrancar.

Entramos e assim que fechei a porta ele continuou de pé em frente a mesma enquanto eu sentei no sofá. Minha cabeça estava rodando e eu preferi não ficar de pé.

- Sei que tenho mania de recuar quando tenho algum problema - ele ficou em silêncio - Mas não é porque eu não te amo, isso não muda nada do que eu sinto.

Ele me olhou um pouco surpreso, talvez pela declaração indireta e em uma circunstância nada boa. Mas não deixou de ser uma declaração de amor.

- Você me deixa de lado sem saber o que aconteceu, pode ser que uma hora mude o que eu sinto - ele colocou a mão em cima do peito para fazer referencia ao seus sentimentos.

- E eu já te fiz deixar de gostar de mim? - ele riu sem vontade alguma e me encarou.

- Não gosto de você há muito tempo - minha boca secou e meu coração palpitou, não sabia onde ele queria chegar falando dessa forma - Eu te amo desde o dia que você foi no estádio me assistir pela primeira vez, e me apaixonei no primeiro beijo que a gente deu - ele se declarou enrolando um pouco com o sotaque mas eu entendi tudo.

Não poderia ter outra reação que não fosse chorar. Assim que ele percebeu, sentou ao meu lado e acariciou meu cabelo.

- Obrigada por ter aparecido na minha vida, jogador - falei fungando o nariz de choro em seu pescoço.

- Porque você tá chorando tanto? - ele segurou meu rosto, colocando uma mão de cada lado e me fez encará-lo diretamente. Eu precisava falar a verdade logo.

- Eu acho que tô grávida - falei rápido e tirei as mãos dele do meu rosto.

Ele ficou em silêncio e depois balançou a cabeça várias vezes, parecia estar processando as coisas.

- Mas aí eu repito - ele gesticulava mais que o normal - Porque você fa chorando desse jeito? Eu quero isso, você sabe, achei que seria depois mas não faz diferença, eu quero muito.

Ele sorriu e me abraçou novamente, eu me sentia mal por não conseguir ficar feliz. E isso piorava absolutamente toda a situação. Estava incapaz de esboçar um sorriso em meu rosto com a situação.

- Eu entendo isso ser bom pra você, de verdade - comecei a explicar os meus sentimentos em relação a isso - Mas eu não consigo ficar feliz.

- Nem um pouco? - neguei com a cabeça e percebi que ele murchou completamente, me soltou e coloquei as mãos em seu cabelo, assim como fazia quando ficava nervoso.

- Não é o momento pra mim, não é a fase da minha vida em que eu queria um bebê pra cuidar - falei rápido tudo que passava pela minha cabeça e sabia qual seria a reação dele, tinha pelo menos uma breve ideia.

- Você fala como se fosse a pior coisa que poderia acontecer - ótimo, agora os dois estavam tristes.

- Nem todo mundo sonha em ter filho - ele me olhou com as sombracelhas franzidas e com expressão de indignação.

- Mas fizemos amor sem proteção muitas vezes, você sabia do risco - me joguei no sofá de vez, afundando.

- Isso não é sinônimo de vontade de ser mãe - falei baixo e ele me encarou novamente - Eu não quero esse bebê, se ele realmente existir.

- Eu não vou ter essa conversa - ele levantou num pulo e virou de frente para meu corpo no sofá - Não é uma escolha.

- Não é uma escolha sua - pontuei sua frase e vi o rosto dele ficar vermelho.

Eu provavelmente nunca teria coragem de fazer algo, caso ele realmente esteja aqui comigo, mas quis ser franca com ele e expressar exatamente tudo que estava sentindo.
Eu nunca fingi felicidade ou tristeza, não faria isso em uma situação como essa.

- Gabriella - ele falou meu nome em tom de repreensão - A gente fala depois sobre isso - ele me respondeu e virou as costas.

- Você quase nunca me chama de Gabriella - respondi ainda na mesma posição em que estava antes.

- E você nunca me deixou tão chateado assim - engoli seco e assenti para mim mesma, já que ele nem me olhava mais - Vamos ao medico amanhã! - ele não perguntou, apenas afirmou.

Ele saiu do meu apartamento claramente muito irritado, tanto que bateu a porta.
Apenas me encolhi e deitei no meu sofá, queria que ele me engolisse para não ter que pensar em mais nada.

Sirena | De ArrascaetaOnde histórias criam vida. Descubra agora