CINQUENTA E CINCO

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- Mas se a gente fizer tudo que esse clientes querem, vamos enlouquecer - comentei com o Eduardo e dei risada.

- Sempre que a gente trabalha com esse tipo de demanda, acabam vindo esses clientes e esse tipo de problema - ele estava de bom humor e acho que pela primeira vez nossa conversa estava realmente leve - Gabi, sei da situação, mas você acha que consegue vir ao escritório depois de amanhã? Na sexta?

- Claro, consigo sim - suspirei e pensei em tudo de desagradável que já havia rolado entre nós - Posso te perguntar uma coisa?

- Lógico, fala aí - respondeu com curiosidade no tom de voz.

- O que rolou com você? Terapia, igreja, paixão, namorada? Parece outra pessoa, e isso já tem um tempo - ele riu do outro lado da linha e eu acompanhei.

- Acho que um pouco de tudo, tirando namorada, e uma boa dose de bom senso, eu consegui ver o mal que tava te causando e ia acabar prejudicando sua vida profissional a toa - refleti e fiquei em silêncio por um tempo - Gabi?

- É, você foi babaca demais comigo, e aquilo tava quase passando do limite - comentei e ele assentiu com um "uhum".

- Seu namorado e pai do seu filho deve me odiar muito - suspirei, lembrando do pai do meu filho, e só queria que tudo ficasse perfeitamente bem entre a gente, como era o costume, a sensação de que estava tudo mal, acabava comigo.

- Bom, foi uma barra que passei, mas espero que tenha ficado no passado e vida que segue, todos nós estamos em uma outra fase - senti meus olhos lacrimejando com tudo que passava pela minha cabeça, esses hormônios ainda vão me matar, muitas vezes era horrível.

- Você é muito especial, Gabi - ficamos em silêncio, eu não tinha o que responder na verdade - Uma pessoa especial, tipo, pessoal e profissionalmente, isso que quis dizer.

Nesse momento, o Giorgian entrou no quarto e jogou a mochila na cama, me olhou com um sorriso e veio até mim.

- Edu, eu vou desligar agora, tabom? - ele concordou e se despediu também - Beijo, tchau.

Olhei para cima, sorri para o Giorgian e ele estava com a cara fechada, e essa mudança rolou em questão de segundos.

- Que foi? Ganhar por sete gols também te deixa mau humorado, vida? - dei uma leve risada e passei a mão no abdômen dele, e continuei recebendo um olhar sério do mesmo - Aí, desisto.

- Só não desiste do seu chefe, inclusive ele foi de pior do mundo a "Edu" e manda até beijo - fez aspas com as mãos ao falar o apelido dele.

- Nossa relação não pode ter saído da merda, ele ter tomado vergonha na cara e parado com qualquer tipo de assédio? - falei com tom mais alto de indignação - As pessoas mudam, Giorgian.

- Você tá sendo a prova disso - eu ri, e levantei jogando o travesseiro nele, que me olhou e o segurou.

- Eu mudei? Tem certeza? Desde que contei da gravidez você ficou mais distante, não conversamos direito mais, sem contar que são quinze dias sem você contar pra ninguém sobre o filho que vai ter, parece que não tá dando a mínima - obviamente comecei a chorar, e ele ficou me encarando com expressão de assustado - Eu mudei?

- Eu tenho ciúmes dele - falou baixo como se estivesse confessando algum segredo.

- Jura?! - respondi irônica, isso estava claro há tempos, e eu atribuía razão a ele nesse aspecto, mas não era o ponto da discussão neste momento - E o resto do que falei, não importa? Você só se incomoda com o fato de eu falar com uma pessoa do meu trabalho no telefone e ignora tudo que eu tô falando e sentindo?

- Eu quero contar pra todo mundo em um momento especial - limpei minhas lágrimas e senti a raiva tomar conta de mim.

- Que momento especial? Passou seu aniversário, o meu, e nem a sua própria mãe sabe, até a minha que ficou hospitalizada há pouco tempo já sabe - parei de falar alto, sentia meu corpo e minha mente cansados dessa situação.

- Eu vou contar, os caras do time já sabem, meus amigos já sabem - o olhei com mais indignação ainda.

- Giorgian, você tá escolhendo viver seu momento pai longe do meu momento mãe, tá com raiva de mim ou não tá feliz? Eu não consigo mais te entender, eu vou surtar - coloquei as mãos na cabeça, sentindo ela rodar e ele sentou na cama me abraçando.

- Todas respostas erradas, tô junto com você e muito muito feliz - me abraçou e depois de algum tempo, retribui o gesto e decidi mudar de assunto por um momento, pelo bem da minha própria saúde e do meu baby.

- Jogou muito hoje, parabéns - ele deitou meu corpo na cama, e colocou a cabeça no meu peito.

- Não fiz o gol do meu hijo - revirei os olhos.

- Não importa, não muda que jogou demais - suspiramos ao mesmo tempo - E pode ser hija.

- Tô sentindo que não - colocou a mão direita na minha barriga.

Passei a mão pela sua cabeça enquanto mil coisas passavam pela minha.

- E eu tô sentindo que a gente tá se perdendo um do outro, nossa conexão - ele me olhou e negou com a cabeça.

- Não, sirena - me encarou com a expressão séria, mais uma vez - Eu que tô errando, mas isso vai mudar.

- Porque? - perguntei sentindo meus olhos marejarem novamente.

- Porque precisa mudar.

- Porque você tá errando? - ele ficou em silêncio por alguns segundos.

- Eu sempre quis tudo isso, mas na hora acabou me assustando um pouco, não tem a ver com você e isso vai mudar - segurou meu rosto, me obrigando a encará-lo - Eu te amo, te quiero, i love you - sorri de leve.

- Te amo mais - seguimos com o olhar fixo um no outro e perguntei o que sentia que deveria perguntar, mesmo que não quisesse ouvir a resposta - Você me traiu nesses dias?

- Gabi - percebi que ia ficar irritado, mas passou as mãos pelos próprios olhos e negou com a cabeça várias vezes - Sei que tô saindo, festas, amigos e toda essa merda, mas eu não faria isso, eu te respeito.

Apenas assenti e pedi licença para levantar da cama. E ele veio atrás de mim até o banheiro.

- Vou falar o que deveria desde que cheguei - o olhei curiosa enquanto tirava o short que eu usava - Me perdoa?

- Sim - me aproximei e o beijei, pedi passagem com a língua e ele cedeu, colando meu corpo na pia do cômodo - Mas eu não vou te dar quantas chances você quiser, e isso é uma promessa.

- Eu vou fazer as coisas do jeito certo - passou a mão pela minha orelha.

- Não tem jeito certo, não tem um manual de instruções - ele riu baixinho e assentiu, concordando - Só não me mágoa, principalmente nesse momento - pode até ter soado como um pedido desesperado, mas foi o mais sincero possível.

- Eu te prometo - me beijou novamente, e eu me entreguei ao amor da minha vida, por mais uma vez.

Sirena | De ArrascaetaOnde histórias criam vida. Descubra agora