Eu precisava de um tempo do trabalho, conversei com Giorgian a respeito das minhas férias e queria ficar em São Paulo durante algum tempo com meus amigos e minha família.
Liguei por vídeo para meu namorado que estava na concentração antes do próximo jogo. Eu achei que tudo ficaria bem, mas essa conversa não estava sendo tão tranquila quanto deveria.- Corazón, minhas férias serão só no fim do ano, porque você quer tirar agora? - ele falava e gesticulava muito, típico de quando estava ficando nervoso comigo.
- Não, meu amor - eu tentava por mais uma vez falar explicar que minha cabeça precisava de um tempo - Eu só preciso de uma pausa, descansar, sabe? No fim do ano eu vou parar alguns dias também, já te disse.
- Porque precisa de uma pausa? Só faz cinco meses que você tá trabalhando no Rio - suspirei, ele estava certo quanto a isso.
- É desgastante - ele levantou os ombros como se ainda não estivesse entendendo - O Eduardo é insuportável comigo, Giorgian.
- Você fala disso faz um tempo, mas nunca explica de verdade - ele aumentou o tom de voz com certa impaciência.
- Ele.. - eu pensava sem ter a certeza que realmente queria falar algo sobre isso, ontem, mais uma vez, ele insistiu em dar em cima de mim descaradamente.
Eu estava ajeitando algumas pastas na sala dele, aproveitei que estava fora para organizar tudo que eu precisava sem nenhum tipo de contato.
- Eu prefiro que você venha aqui quando eu também estiver, Gabizinha - chegou por trás de mim e colocou uma das mãos na minha cintura, apertando-a.
- Eduardo, olha - me virei de frente para ele e dei dois passos para trás - Vou ser muito sincera, preciso desse emprego, preciso desse salário que é bem acima da média e sempre gostei do escritório em que a gente trabalha - ele assentiu e me olhou dos pés a cabeça - Mas eu não vou tolerar esse tipo de assédio aqui dentro, não queria ter essa conversa, mas já não dá mais pra evitar.
- Que assédio, Gabi? É só uma questão de atração - eu revirei os olhos e ri ironicamente.
- Ninguém pode julgar a atração que alguém sente por outra pessoa - ele assentiu - Mas ficar forçando situações e toques que a outra pessoa não deseja, se chama assédio sim.
- Eu paro com isso, pode ser tudo estritamente profissional - ele deu um passo em minha direção - Mas por favor, vamos sair só um dia pra eu te mostrar... - levantei as mãos e desviei dele para ir até a porta da sala.
- Eu não quero - respondi com a voz mais alta que o normal.
- Só porque tem o jogadorzinho envolvido? - ele era realmente insuportável.
- Não iria querer mesmo se estivesse solteira - ele ficou sem expressão, apoiou sua mão na mesa e ficou me encarando - Se quiser me demitir, faz isso, fica a vontade.
- E aí você vai fazer o que? Voltar pra São Paulo, casar com ele e ser sustentada, desistir do seu trabalho? - respirei fundo e abri a porta para sair.
- Na próxima vez que algo assim acontecer, eu pego as minhas coisas e vou embora, garanto que uma profissional como eu, você não encontra em qualquer lugar - ele encarou o chão e passou a mão pelo cabelo assentindo com uma expressão de deboche - Boa noite, Eduardo.
Eu expliquei o que precisava para o Giorgian, tirando a parte dele aparecer atrás de mim de repente me tocando sem permissão alguma, o que aconteceu mais de uma vez. Resumi toda a história que eu passava quase diariamente e ele estava praticamente gritando.
- Eu tô mandando currículo há um bom tempo, mas as vagas pagam praticamente metade do que eu ganho lá, eu já tô no escritório há mais de um ano contando o tempo de São Paulo - eu falava no mesmo tom indignado que ele, minha irmã estava no nosso apartamento hoje e estava me encarando da sala.
- Você não precisa dessa merda de dinheiro - e chegamos ao ponto em que falamos sem pensar.
- Quem vai me sustentar? Você? Já tá complicado assim, imagina se eu ganhar menos - ele negava com a cabeça - Amor, por favor, me entende.
- Você tá recebendo pelo o quê? Pra ele te falar merda e fazer isso com você sempre que pode? - eu sabia que ele estava certo, mas também me recusava a ficar dependendo diretamente do meu namorado pra me manter, minha mãe e minha irmã não poderiam me ajudar nesse momento, pensar nisso seria tapar o sol com a peneira - Você tá chorando?
- Eu vou sair em breve - quando me dei conta, já estava soluçando em uma videochamada, a que ponto chegou essa conversa.
- Fala uma data - ele estava com a cabeça apoiada nas mãos e toda hora esfregava a barba.
- Eu prometo que vai ser logo - ele assentiu depois de me encarar por um tempo - Pelo menos tenho um dia pra ficar trabalhando de São Paulo, longe disso tudo e pertinho de você.
- Te amo mucho - chorei mais ainda quando ele falou isso - Não faz mais isso com você, eu tô aqui pra te ajudar com qualquer coisa.
- Amo você também - sorri enquanto limpava meus olhos - Obrigada, jogador, mas chega de se estressar, tabom? Você tem um jogo pra se preocupar e se seu técnico descobre que tô te enchendo, me mata.
- Eu consigo me concentrar só no jogo, não se preocupa - eu assenti - Tá melhor depois de falar?
- Sim, bem melhor - realmente estava aliviada depois dessa conversa - De madrugada tá tudo certo para irmos pra São Paulo mesmo, né?
- Claro - ele parecia ter se acalmado também, e eu agradeci porque não queria ser a responsável por um mau jogo dele - Vou direto para minha casa, a gente pode se arrumar lá e ir?
- Pode sim, te encontro lá depois então - ele sorriu - Te amo, se concentra e arrasa nesse jogo sem esquecer que quero meu gol dessa vez.
- O que eu ganho se fizer o gol? - nossas conversas mudavam drasticamente do nada.
- Faz o gol que você descobre - nem eu sabia, mas poderia pensar em algo.
- Beijos, mi sirena - me mandou um beijo com as mãos - Torce por mim.
- Sempre - desligamos a ligação e eu levantei para ir até a sacada esfriar um pouco a cabeça depois disso tudo.
Me assustei com a Manoela me chamando enquanto estava na sacada.
- Tá tudo bem? - ela perguntou com calma já que viu que eu realmente me estressei durante a conversa, só não queria falar sobre o assunto de novo.
- Tudo, relaxa - sorrimos uma para a outra.
Abri meu WhatsApp depois de alguns minutos olhando a vista da cidade.
"Felipe: Sua mãe comentou que vai vir amanhã cedo, na hora do jantar vou estar lá pra te dar um beijo, gatinha!! Até, beijo 😘"
Tudo que eu precisava era do meu ex ficante no jantar em que vou apresentar meu namorado para minha família.
- Qual o problema da nossa mãe, hein? - mostrei a mensagem e eu Manu entendeu tudo que eu pensava naquele momento.
- Ela ama o Felipe, você sabe, boa sorte viu, maninha?! - me entregou o celular e eu fiquei com a maior cara de idiota imaginando o que me esperava amanhã a noite.
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Sirena | De Arrascaeta
FanfictionAté onde o amor pode sustentar uma relação? * Conteúdo meramente fictício.