CINQUENTA E SEIS

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Eu não me sentia 100% bem desde a hora em que acordei. Fiquei na cama jogando um joguinho bobo no celular e com sintomas bastante incômodos.
Amanhã é o fatídico dia em que o time do meu namorado enfrentará o meu time do coração, posso dizer que estou feliz e nem que estou triste. Só sei que seria estressante assistir junto dele, que seria a realidade pois está com algumas dores na lombar e não foi viajar para São Paulo com o resto do time e comissão técnica.
Ele chegou já há algum tempo e ficou na sala jogando PlayStation, não vou reclamar dele ter me ignorado, mas ao mesmo tempo, fez falta porque deixa de demonstrar o mínimo neste caso, preocupação.

- Giorgian Daniel - chamei sua atenção que pausou o jogo na mesma hora e me encarou com os olhos atentos e curiosos - O que você tá sentindo pra não ter ido?

- Não me chama assim, só serve na hora de brigar - reclamou como de costume, afinal, não usei um apelido carinhoso, revirei os olhos e ele continuou - Muita dor nas costas, não sei o que aconteceu.

- Entendi, se precisar de algo, me chama - respondi preocupada, mas decidida a demonstrar apenas as mesmas coisas que ele.

- E nosso bebê? - perguntou quando eu estava saindo de perto.

- Tem uma mãe antes de ter o nosso bebê - minha paciência estava por um triz.

- Gabi, você entendeu - respondeu seco e continuou parado, aguardando por uma resposta.

- Além da mesma dor que você, que é constante, tô com enjoo e cólica - ele me olhou com um semblante sério e ficou pensativo.

- Não seria melhor você ir ao médico? - eu sabia que a cólica não deveria persistir depois de 3 semanas de gravidez, e eu já estava com praticamente 6 semanas.

- Talvez seja melhor mesmo - respirei fundo pois não queria ir ao médico, mas realmente a necessidade falou mais alto neste caso.

Quando sai dos meus pensamentos e o olhei, tinha tirado a pausa do videogame e voltado a prestar toda sua atenção a televisão. Revirei os olhos e fui até nosso quarto trocar de roupa, melhor que falar algo e acabar discutindo por besteira.

Coloquei uma roupa que há muito tempo não usava, mas era discreta com a minha barriguinha, estava tirando fotos no espelho e me avaliando através do mesmo, quando recebi uma mensagem de um número desconhecido.

"(Número Desconhecido): Gabi, tudo bem? Nossa filha nasceu.
(Número Desconhecido): Sua sobrinha!!
Gabriella: victor? me passa o endereço do hospital agoraaaa"

Meu coração acelerou de uma forma bizarra, parecia que o sentia bater fora do peito, e na mesma hora peguei minha bolsa e a roupa que comprei para a Catarina, minha sobrinha, sair da maternidade. Meu plano era estar presente nesse momento desde as contrações, fiquei chateada porque não foi possível, mas não menos animada para conhecê-la o mais rápido possível.
Fui correndo até a sala e o Giorgian estava jogado no sofá, com o jogo pausado mais uma vez e com sua atenção voltada dessa vez ao celular. Respirei e contei até 10 porque eu prometi a mim mesma que evitaria qualquer estresse entre nós, mesmo que a distância entre nós esteja só aumentando de acordo com as atitudes dele.

- Amor - ele levantou os olhos em minha direção - Minha sobrinha nasceu - sorri com os olhos marejados e ele também abriu um sorriso.

- Verdad? - assenti com a cabeça e o agilizei para irmos o mais rápido possível.

- Vamos logo, meu cunhado já passou o endereço da maternidade e eu tô muito ansiosa.

Ele levantou na mesma hora e se arrumou em cerca de 8 minutos, o que era um verdadeiro milagre pois geralmente ele acabava levando mais tempo que eu para se arrumar para sair.

- O quê? Mãe? - foi a primeira pessoa que eu vi assim que entramos na sala de espera, ela estava de amarelo e com os olhos vermelhos, provavelmente por conta do choro - Não sabia que estava no Rio, meu Deus como eu precisava te ver.

Ela não respondeu nada, apenas nos abraçamos muito forte e me senti em casa. Sensação que as vezes me fazia uma falta enorme, mesmo que estivesse ao lado de outra pessoa que amo durante esse tempo.

- A gente pode entrar? - assim que a questionei, um médico apareceu e nos cumprimentou.

- Duas pessoas podem ir para a sala nesse momento - vi o Victor atrás do médico e o abracei, parabenizando pela paternidade e ele retribuiu o gesto.

Eu e minha mãe nos olhamos e começamos a caminhar até a sala, eu estava radiante e muito ansiosa. Me virei para explicar ao Giorgian que ele poderia ir depois, mas o observei encostado na parede do local, segurando seu celular e digitando concentrado no aparelho. Meu sorriso quis se desmanchar, mas eu não iria permitir. Não agora.

- Vamos, mãe - a puxei pela mão, seguindo o médico.

- Tá tudo bem por ali? - apontou discretamente com a cabeça para trás, sabia que ela falava do meu namorado, eu apenas dei de ombros.

- Como você repara em tudo? - ela repetiu meu gesto com os ombros e sorriu sem mostrar os dentes - Não é hora de falarmos sobre isso, se é que eu tenho algo pra falar já que nem sei o que tá acontecendo.

Ela assentiu e logo em seguida o médico abriu a porta e entramos. A primeira cena que vi foi a Manu com sua filha nos braços e sorrindo sem parar, o olhando de uma forma que nunca vi olhar para ninguém.
Eu resolvi apreciar aquele momento por mais alguns instantes, e só depois fui até eles, dei um beijo em sua bochecha e quase explodi de amor com aquele pacotinho que agora fazia parte da minha família.
(...)

A Manu só poderia ir para casa dela no dia seguinte. O Victor ficou com ela no hospital e insistiu para que fôssemos todos embora, e que no seguinte eu e minha mãe visitássemos minha sobrinha no outro dia à noite. Achei melhor fazer as coisas da forma que os pais combinaram, afinal esse momento pertence mais a eles que a qualquer outra pessoa, por mais que eu ame minha irmã e a neném.
Assim que fui explicar sobre a situação para o Giorgian, ainda dentro da maternidade, ele apenas assentiu e caminhamos em direção ao estacionamento para irmos embora.

- Acho que vou ficar com a minha mãe por um tempo e depois volto pra casa e cuido do meu trabalho e de outras coisas, tudo bem? - ele assentiu mais uma vez e ouvi seu celular fazer som de notificação mais de uma vez - Não vai olhar?

- Depois - falou baixo e continuou andando.

- Você tá focado nele há pelo menos 1 hora e meia, deve ser algo urgente - ele me olhou com a expressão séria e negou com a cabeça - Será que você pode me responder como uma pessoa normal?

- Quer que eu responda o que, Gabriella? - senti uma pontada leve de cólica por mais uma vez e franzi meu semblante com a dor - Tá tudo bem? - colocou as duas mãos no meu ombro e eu parei de caminhar.

- Acho que não - coloquei as mãos nos meus próprios joelhos, buscando que a dor cessasse, resolveu parcialmente o problema.

- Que dor é essa? - minha mãe agora estava ao nosso lado e perguntou enquanto passava as mãos pelo meu cabelo.

- Aqui - indiquei a região meu minha barriga e ela negou com a cabeça - Não tá forte, mas é um incômodo quase que constante.

- Você tá se estressando nesses dias? - a olhei por um instante e ela entendeu minha resposta sem que eu sequer abrisse minha boca.

- Giorgian - minha mãe o chamou - Vamos levar ela ao hospital agora.

Não era uma pergunta, nesses momentos minha mãe passava a dar apenas ordens e nada além disso. Eu já estava acostumada, ele não, mas mesmo assim apenas passou o braço pelo meus ombros antes de entrarmos os três no carro e ele dirigir em direção ao hospital em que eu realizava o pré natal.

Sirena | De ArrascaetaOnde histórias criam vida. Descubra agora