CINQUENTA E UM

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Estávamos conversando sobre a rotina corrida do Giorgian, ele mesmo começou o assunto. Alguns instantes depois, a mãe dele olhou em minha direção.

- Você sabe que seria um desafio ter um relacionamento com um jogador como meu filho, não é? - passou as mãos no braço direito dele, já que estavam lado a lado e vi ele olhar com o canto dos olhos para ela.

- Eu sei que é um desafio, dona Victoria - pela décima vez naquela noite fingi um sorriso - Até mesmo porque nós temos um relacionamento.

- Sim, vocês tem - suspirou e deu outra garfada na comida - Mas um filho, por exemplo, seria complicado para ele neste momento da carreira.

Comecei a tossir porque engasguei com a comida que estava na minha boca assim que ela soltou essa frase.
Giorgian veio até meu lado e me deu um copo d'água, bebi e consegui voltar a respirar normalmente. Algumas pessoas estavam olhando a cena e senti meu rosto esquentar.

- A senhora pode ficar tranquila - a olhei - assim que tivermos um filho, iremos conseguir lidar com tudo da melhor forma possível - respondi devagar e me controlando ao máximo para não pegar minha bolsa e levantar daquela mesa.

- E esses são seus planos para quando, querida? - não sei até que ponto ela queria conversar ou me ofender, essa linha tênue estava quase rompida pelo tom que ela usava na conversa.

- Mãe - ele chamou sua atenção - Sério?

Nem consegui ouvir o que ela respondeu porque senti meu estômago revirando, assim como quando cheirei o perfume dele há algum tempo atrás. Apenas coloquei a mão na boca e tentei me concentrar para não vomitar ali naquela mesa mesmo.

- Gabi - ouvi ele me chamando de longe, sendo que na verdade, estava bem ao meu lado - Tá tudo bem?

- A gente pode ir embora? Eu não me sinto bem - ele assentiu mais rápido do que eu imaginava, pediu a conta e ficamos esperando por mais alguns instantes em silêncio.

No momento em que o garçom chegou com a conta em mãos, eu mesma peguei e fiz questão de pegar o dinheiro na minha bolsa, colocando-o dentro da comanda e entreguei de volta, agradecendo.
Ouvi o Giorgian murmurar algo, mas apenas me levantei e caminhei até o carro, já tinha tido o suficiente por aquela noite. Eu realmente não precisava ouvir mais nada, e meu enjoo não estava colaborando, só me deixou mais estressada e com vontade de ir embora.

- Eu não sei porque ela ficou falando essas coisas, disse que tinha te adorado - ele falava baixo ao meu lado, quando olhei para trás, percebi que ela estava um pouco afastada de nós dois.

- Imagina se tivesse me odiado - comecei a andar ainda mais rápido e ele me acompanhava afobado.

- Desculpa.

- Você não precisa me pedir desculpas, nao me fez nada - respondi com firmeza e ele pegou na minha mão enquanto caminhávamos, percebi que foi para me fazer andar mais devagar.

- Eu te conheço, o que você tem? Tá estranha há uns dias já - continuou falando baixo e finalmente observei o carro e agradeci porque já estava ficando cansada.

- Tô cansada - não era mentira, eu realmente estava exausta e já tinha percebido que esse começo de gestação seria estressante - Ela vai dormir em casa? Quer dizer, na sua casa?

- Vou deixar ela no hotel - não respondi, mas ele sabe que era tudo que eu queria ouvir - E é a nossa casa.

Não respondi nada e caminhei até a porta do passageiro. Ela parou ao meu lado e encarou minha mão na maçaneta.

- Eu vou atrás? - fechei os olhos e abri a boca mas antes que saísse qualquer palavra dela, ouvi a voz dele.

- Mãe, por favor - eu sabia que ela era muito mais agradável do que isso, mas estava me provocando, não sei se era algum tipo de teste, só sei que minha paciência não me permitiria ser aprovada nele, se fosse o caso.

Ele dirigiu rápido, como fazia se estava bravo, e rapidamente chegamos no hotel em que ela estava hospedada.
Assim que desceu do carro, foi até o lado da minha porta e abaixou um pouco.

- Adorei te conhecer, Gabi - deu um beijo na minha bochecha - Você é uma boa garota.

Eles se despediram e eu fiquei com cara de interrogação. Assim que o carro deu a partida, o olhei com a testa franzida.

- Ela é bipolar? - perguntei e ele riu baixinho.

- Ela só é difícil no começo, mas fica tranquila - respondeu de forma calma.

Coloquei as mãos na altura do estômago, ainda sentindo tudo se remexer lá dentro e percebi que ele olhava a cena.

- Você tá doente? - neguei com a cabeça sem falar nada - Quer passar na farmácia e comprar um remédio para o estômago? - eu até queria, mas sabia que não podia então apenas repeti o gesto de antes para respondê-lo.

Ele suspirou e sabia que essa situação mal resolvida entre a gente estava tornando as coisas desgastantes.

- Tem um presente pra você em casa - eu sorri de canto e ele fez o mesmo assim que me olhou.

- Eu tô com saudade - passou a mão pelo meu queixo - Você ainda tá com essa greve de sexo idiota?

- Ainda não completou duas semanas do seu castigo - levantei os ombros como se não pudesse fazer nada para resolver aquilo e ri baixinho.

- Eu prometo que nunca mais faço aquilo - neguei com a cabeça ainda rindo da cara dele - Por favor?

- Eu vou pensar no seu caso - ele sabia que eu também estava morrendo de saudades dele - Mas o presente que eu tô falando é outro, tá no quarto.

- Que quarto? - fiz careta porque não havia entendido a pergunta dele.

- No seu, é claro - respondi o óbvio.

- Não é meu - o olhei de novo e entendi o que ele queria que eu dissesse.

- Tabom - suspirei e revirei os olhos - Tá no nosso quarto, Arrascaeta.

Ele sorriu novamente e estacionou o carro na vaga dele.

- Eu te amo - disse e agarrei seus ombros, o beijando com um desejo que surgiu de repente, já que há quinze minutos estava extremamente irritada com tudo.

Sirena | De ArrascaetaOnde histórias criam vida. Descubra agora