Sem novidade alguma, estava extremamente calor no Rio de Janeiro, voltei ao trabalho presencial e acabei passando do meu horário por conta da alta demanda de novas entradas de processos, semana nada tranquila entre meu acidente com o tornozelo, meu ficante confuso e a notícia de que eu seria tia em alguns meses.O trabalho ter me ocupado muito acabou sendo ótimo no fim das contas, já que nem pensei no Giorgian hoje durante o dia, não por falta de vontade, mas por falta de tempo. Quando esse pensamento passou pela minha cabeça, olhei no relógio do meu computador que marcava 19h18, tinha marcado de chegar às 19h na casa dele, então o atraso já era uma realidade. Fechei meu computador e sai praticamente correndo da minha sala. Ou pelo menos tentei.
- Tudo bem, Gabi? - meu chefe me chamou enquanto eu fechava a porta da minha sala e quase dei um pulo, tamanho o susto que levei.
- Oi - dei um sorriso fraco porque tudo que queria era sair correndo até a casa dele - Bem e você?
- Você sabe como tá o andamento do processo da Mariana Silva? - ah não.
- Sei sim, ele tá em fase de liquidação e amanhã eu já consigo te mandar um e-mail com toda a atualização sobre ele, pode ser? - falei acelerada para que ele percebesse que eu realmente estava com pressa e queria ir embora dali logo.
- Pode, tudo certo - deu uns três passos em direção a minha sala que ficava logo na frente da dele - Eu quase nunca consigo conversa com você, a gente se encontra raramente e acabamos trocando duas palavras só.
- Pois é - olhei para o chão e fiquei tentando achar algum ponto fixo que me deixasse menos desconfortável - Talvez nos vejamos mais agora que você vai ficar mais por aqui, né?
- Com certeza, Gabi - sorriu de lado me encarando da cabeça aos pés - Eu irei achar ótimo, te garanto.
Só dei uma risadinha claramente sem graça e acenei em direção a ele.
- Tchau, Eduardo. Até amanhã e bom descanso.
- Você quer carona até sua casa? - falou antes que eu acabasse de descer as escadas.
Claro que eu não pediria carona para meu chefe, que acho que acabou de dar em cima de mim, me levar até a casa do cara que eu tô pegando.
- Pode deixar, Eduardo, já pedi um táxi - olhei rapidamente pra ele - Mas muito obrigada.
Espero que essa tentativa de proximidade dê errado, não estava afim de problema. Mesmo que eu estivesse completamente sozinha, não me envolveria com meu patrão, e dar o fora em quem paga meu salário seria chato e muito desagradável. No geral, muitas vezes era desagradável ser mulher, mas vida que segue.
Assim que entrei no táxi que tinha pedido, conferi as mensagens e o Giorgian não tinha falado nada, mas pelo que conheço dele, possivelmente estaria chateado com meu atraso, até mesmo porque eu não avisei nada, me distrai com o trabalho e perdi mais uns minutos com uma conversa que julguei como 100% desnecessária.
Quando estava chegando na porta da casa dele, enviei uma mensagem para que ele abrisse e vi que eu estava exatamente 45 minutos a frente do horário que eu mesma marquei com ele.
Em menos de 2 minutos da mensagem, ouvi a fechadura da porta a minha frente.- E aí? – abri um sorriso assim que vi ele abrir a porta, sem camisa e descalço, apenas com uma bermuda preta.
- Entra – abriu espaço para que entrasse.
Antes de entrar completamente pela porta, parei ao seu lado e fiz um bico esperando um selinho, ele demorou uns segundos e me selou rapidamente, continuando com a mesma expressão séria. Ele realmente estava meio chateado.
- Me desculpa – entrei e ele fechou e trancou a porta – Acabei perdendo a noção do tempo com o trabalho e depois meu chefe veio falar comigo e aí atrasei mais alguns minutos.
- Achei que fosse isso – deixei minha bolsa e meu blazer no sofá e ele foi até a cozinha beber água – Quer?
- Não, valeu – me encostei no balcão e fiquei olhando-o mexer nas panelas, pelo que vi era alguma massa e o molho estava cheiroso – É macarrão?
- Sim, com molho branco – ele não olhou na minha cara e estava sendo educado, mas seco, acho que é o jeito dele demonstrar que algo está errado pelo que percebi, me incomodava um pouco a falta de diálogo em qualquer tipo de relação, mesmo que ela seja baseada em sexo.
- Meu pedido de desculpas foi sincero, viu?! Eu não gosto de atrasos e sinto o mesmo sobre me atrasar – ele assentiu e me olhou dessa vez.
- Só me manda mensagem quando acontecer, essas coisas são normais mesmo – voltou a mexer nas panelas.
- Mandarei – resolvi ir até ele e tentar ser carinhosa, as vezes tinha algum bloqueio com essas coisas.
Coloquei minhas mãos em volta dos ombros dele, o abraçando, e dei um beijinho em sua bochecha.
- Sua comida tá bem cheirosa – apoiei meu rosto nos ombros dele e continuei na posição em que estava.
Ele pegou uma colherzinha, colocou um pouco do molho, o assoprou e se virou para que eu provasse. Abri a boca e até me surpreendi porque ele cozinhava muito bem.
- Não imaginava seus dotes culinários, jogador, tá muito gostoso – ele sorriu sem mostrar os dentes.
- Tudo que eu faço é gostoso, Gabizinha – revirei os olhos na mesma hora e dei um tapinha de leve no ombro dele.
- Sua mudança de humor é estranha as vezes, seu convencido. Você tava bravo, né?
- Achei que tinha esquecido – ele disse e eu fiz uma careta de indignação que ele não viu mas percebeu no meu tom de voz provavelmente.
- Esquecido de você? – perguntei quase rindo – Jamais.
- Da gente – a vontade de rir passou e meu coração até errou uma ou duas batidas.
- Existe "a gente"? – fiz aspas no ar e ele viu porque foi ao lado da cabeça dele, já que eu seguia agarrada nele.
- Não sei – virou a cabeça para o lado e virou os olhos em minha direção – Você quer que exista?
- Se eu não quisesse, nem estaria aqui – soltei seus ombros e fiquei ao seu lado, dei essa resposta de imediato, apesar de estar muito nervosa.
Ele abriu e fechou a boca umas duas vezes e eu segui firme meu olhar no dele. Minha ansiedade agradecia ele ter começado essa conversa antes mesmo do nosso jantar.
Ele desligou o fogo do molho e o despejou na massa, que já estava em uma travessa média e depois se virou completamente para mim.- Eu não costumo propor isso se não tô levando a sério de verdade – continuamos nos encarando de perto – Mas eu quero mesmo algo mais sério contigo.
Minha mão começou a transpirar muito e meu coração parecia que batia em uma velocidade nada saudável. Encarei o chão por alguns segundos e em seguida olhei em seus olhos.
- Mas isso seria tipo um namoro? – perguntei gaguejando e sentindo que minha insegurança poderia começar a responder por mim.
- Se você quiser...eu não sei – ele respirou fundo e colocou as mãos nos meus ombros – Sei que não é o melhor jeito de falar isso e nem queria que fosse no fogão mas eu me apaixonei – eu estava imóvel – já faz um tempo e queria que isso ficasse claro entre nós, eu cansei das coisas mal entendidas e mal resolvidas o tempo todo.
- Eu não esperava tudo isso – foi, ao mesmo tempo, a melhor e a pior resposta que eu consegui dar, ele ficou me olhando, esperando que continuasse e eu fechei os olhos e tentei me concentrar no momento e não nos meus pensamentos para conseguir falar – Também tô apaixonada – ele sorriu fraco.
- Tem um "mas" na sua resposta? – ele me perguntou e percebi que também estava nervoso porque apertou um pouco meus ombros.
- Eu não sei se tô pronta pra viver um relacionamento sério nesse momento – ele voltou com a expressão mais fechada de antes e assentiu com a cabeça.
Eu tinha sido sincera mas estaria mentindo se dissesse que não me importava de abrir mão daquele homem, continuamos na mesma posição em que estávamos e fiquei pensando da melhor forma de falar o que eu queria.
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Sirena | De Arrascaeta
FanfictionAté onde o amor pode sustentar uma relação? * Conteúdo meramente fictício.