QUARENTA E SETE

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Sentia que meu coração iria explodir com a velocidade em que palpitava. Depois de algum tempo, que não sei dimensionar o quanto, abri meus olhos e sentia meu estômago revirando.
Assim que olhei para o lado, vi minha irmã e senti que segurava minha mão.

- Respira fundo, tá tudo bem - fiz o que ela pediu, o médico ainda estava na sala, então deduzi que fazia pouco tempo que meu segundo desmaio em menos de 24 horas tinha ocorrido - Tá melhorando?

- Minha cabeça tá parando de rodar, pelo menos - apertei sua mão e em seguida soltei, coloquei as mãos ao lado do meu corpo e me levantei devagar.

- Gabriella? - ouvi a voz do médico que me deu essa notícia no momento mais inesperado, o olhei, já sentada - Tudo bem se eu falar agora?

- Aham - minha voz ainda estava falhando.

- A senhora está com quatro semanas de gestação, é muito recente e apesar do episódio com o excesso de bebida, avaliamos e está tudo certo com o feto - meus olhos começaram a lacrimejar, mas tentava segurar o choro.

- Não tô acreditando nisso, eu não teria bebido se soubesse, tô me sentindo irresponsável, além de surpresa com essa notícia - desabafei sem nenhum filtro, na verdade falava mais comigo que com qualquer um deles.

- Bom, podemos agendar uma ultrassonografia para a próxima semana? E assim, iniciamos oficialmente o pré natal - assenti com a cabeça e ele anotou algo na minha ficha.

Queria saber se o Giorgian já sabia da minha gravidez, como ele estava e porque não entrou em contato comigo. Meu desespero estava grande, mental, física e emocionalmente.
O médico falou mais alguma coisa e assenti, mas sinceramente, não ouvi absolutamente nada do que foi dito, a sorte era que a Manu estava atenta e respondendo a tudo que era dito ou perguntado.

- Ele já sabe? - perguntei ansiosa assim que o médico saiu do quarto.

- Você acha que ele não largaria tudo e correria até aqui se soubesse? - suspirei muito aliviada, até mesmo porque a decepção seria indescritível, se ele soubesse e não tivesse falado nada.

- Como eu vou contar pra ele? Eu já sei que ele vai ficar feliz, mas preciso de um plano pra tornar esse momento realmente inesquecível pra nós - a olhei séria.

- Você tá calma demais - ela me conhecia como ninguém.

- Eu acho que era algo que eu esperava tanto ouvir antes, que de certa forma me acostumei com essa ideia, óbvio que me assustei, mas não tô mais desesperada, sabe? - respirei fundo.

- E você sabe o pai maravilhoso que seu filho vai ter, isso nos tranquiliza muito como mães - ela me abraçou de lado e chorou, eu sabia que o início da gravidez dela tinha sido muito complicado por vários motivos.

- Mãe, eu vou ser mãe e ter um neném - precisava internalizar isso.

- E não derramou uma lágrima, enquanto eu não paro de chorar - passei a mão pela barriga em que estava minha sobrinha e fiquei assim por um tempo.

- Acho que eu nunca disse isso, mas tô me sentindo segura com essa nova fase - nunca imaginei que ficaria tão autorreflexiva com essa notícia na minha vida.

- Eu não tive nada, chá revelação ou tranquilidade no começo da minha gestação, vou fazer tudo isso e te proporcionar tudo isso, porque você merece - finalmente consegui levantar e nos abraçamos novamente, Manu seguia chorando e eu susurrei um "te amo" antes de nos soltarmos.

Fizemos toda a burocracia necessária antes de sairmos do hospital e o Victor buscou a Manu e me deixou no nosso apartamento, ou nosso antigo apartamento, eu nem sei mais.
Assim que cheguei, comi algo e comecei a organizar todas as minhas coisas, separei as coisas que não vivia sem de jeito nenhum e coloquei em três malas.
Meu celular tocou e atendi na mesma hora.

" Gabriella: Amor, eu tô bem e em casa já, acabei de voltar do hospital.
Giorgian: Calma, respira, mas que bom que está bem! Ainda tem fígado?
Gabriella: Palhaço, eu tô bem, tô ótima na verdade. Obrigada por ter ficado comigo até o horário do treino.
Giorgian: Eu iria ficar lá, mas sua irmã chegou e mandou eu ir.
Gabriella: Ah, foi melhor assim.
Giorgian: Porque?
Gabriella: Por nada, é que assim você não perde seu treino, né.
Giorgian: Eu não me importaria, mas sabia que você ficaria bem logo. Você tá em casa?
Gabriella: É, na minha casa, tô arrumando algumas coisas pra levar até a sua.
Giorgian: Vai ficar comigo hoje?
Gabriella: Sim, mais tarde chego lá."

Nos despedimos e decidi ir até o shopping comprar algumas coisas, e ao mesmo tempo, aproveitar para pensar em como o contaria sobre esse ou essa bebê. Aproveite que a Rafa ainda estava no Rio antes de voltar para a agenda maluca, e a chamei por mensagem.

"Gabriella: consegue ir no shopping comigo agora?
Gabriella: preciso conversar
Rafaella: nosso primeiro rolê sóbrias
Gabriella: os próximos serão assim hehe
Rafaella: você teve algo sério depois de ontem ou tá grávida?
Gabriella: me encontra lá as 16h?
Rafaella: meu Deus
Rafaella: você não vai me contar agora né
Rafaella: combinado, às 16h
Gabriella: beijos 😘"

Liguei para o Eduardo e expliquei toda a situação, pedi para voltar ao escritório só na próxima semana e contei que achava que estava grávida com todo o cuidado para entender sua reação, e, por mais estranho que fosse, ele não me pareceu preocupado com nada, apenas disse que se acontecesse iríamos organizar tudo da melhor forma possível e que daria certo. Pois é, acho que alguém trocou de lugar com ele nas últimas duas semanas, e que continuasse assim.
Logo depois da conversa, me arrumei, até demais só para ir ao shopping, e aproveitei o momento para tirar uma foto e postar, era um dos meus raros momentos ativos em redes sociais.

@gabriellavellasquez: 💫

@gabriellavellasquez: 💫

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Sirena | De ArrascaetaOnde histórias criam vida. Descubra agora