SESSENTA E TRÊS

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Aos sete meses e meio, minha barriga já estava gigantesca e eu me sentia linda como não imaginava que me sentiria durante essa fase. Todos os dias, ela parecia um pouco mais pesada, um pouco mais imponente. A cada movimento do meu filho dentro de mim, sentia a alegria se misturar com um nervosismo crescente. Eu sabia que logo, muito logo, ele estaria aqui. Mas, no fundo, o que mais me inquietava era a sensação de não estar 100% pronta para tudo o que vinha.

Eu já havia passado por inúmeras consultas médicas. Os exames estavam todos ok, e o médico sempre me tranquilizava, dizendo que estava tudo dentro do esperado. A única coisa que me causava um pouco de apreensão eram as contrações. Elas começaram a surgir de forma espaçada e, aparentemente, sem motivo, mas meu corpo parecia estar antecipando o que estava por vir. O médico me explicou que era normal, mas, claro, com essa gravidez nunca sabia o que esperar.

Manu, minha irmã, esteve mais presente do que nunca, apesar de ter um bebê recém-nascido para cuidar. Ela era uma verdadeira guerreira, dividindo o tempo entre amamentar, trocar fraldas e me apoiar como só ela sabia fazer. De fato, minha irmã mais nova está me ensinando muito mais coisas do que eu imaginei que ensinaria.
Tínhamos uma rotina de conversas diárias sobre tudo, desde os dilemas da maternidade até as pequenas coisas cotidianas. Sua presença sempre foi reconfortante, e, embora estivéssemos em diferentes estágios da maternidade, sentíamos que estávamos juntas nessa jornada. Sem contar que eu sabia como seria importante que eles crescessem. juntos, pois as idades seriam muito próximas.

No entanto, aquela manhã foi um pouco diferente. Estava acordada desde cedo, sentindo a barriga mais firme do que nunca e uma leve pressão na região inferior. Não era exatamente uma dor, mas algo que me fazia parar e prestar atenção no meu corpo. Passei as mãos pela barriga, massageando delicadamente. Talvez as contrações estivessem começando de verdade, mas não era o momento ideal para isso e eu sabia disso.

O relógio marcava 9h da manhã, e Giorgian já estava se aprontando para sair para o treino. A casa estava calma, mas sentia a tensão no ar. Ele me olhou preocupado ao me ver parada na sala, e não demorou para perceber que algo estava diferente.

— Amor, o que foi? — perguntou, aproximando-se e colocando a mão sobre minha barriga.

— Eu... não sei. Acho que estou tendo algumas contrações — falei, tentando manter a calma, mas ele percebeu o tom de incerteza na minha voz.

Giorgian franziu a testa e logo pegou o celular para ligar para o médico.

— Vou ligar para o Doutor e ver o que ele acha, tá bom? — perguntou já com o número do telefone na tela.

Eu senti uma leve angústia tomar conta de mim. Claro que sabia que não era a hora ainda, mas alguma coisa me dizia que o meu corpo estava se preparando de forma mais intensa para o que estava por vir. Eu estava a caminho da reta final, e, embora não fosse o que eu esperava, algo me dizia que talvez estivesse prestes a dar à luz antes do previsto.

Depois de alguns minutos, Giorgian desligou o telefone. Ele me olhou com os olhos apertados e uma expressão que tentava esconder a preocupação.

— O médico disse para eu ficar de olho nas contrações e, caso elas se intensifiquem ou fiquem mais próximas, devemos ir para o hospital — ele disse, tentando me tranquilizar,
mas eu já o conhecia bem o suficiente para notar seu nervosismo — Vamos monitorar. Não é nada para entrar em pânico, mas é bom ficar atenta, sirena.

Eu respirei fundo e me sentei no sofá, tentando relaxar. Giorgian se sentou ao meu lado, a mão em minha perna, e ficamos em silêncio por alguns minutos. Não havia necessidade de falar mais do que o necessário. Eu sabia o que ele estava pensando, e ele sabia o que eu sentia. Tudo estava prestes a mudar.

Sirena | De ArrascaetaOnde histórias criam vida. Descubra agora