Sirena | De Arrascaeta

CINQUENTA E NOVE

Ouvi o celular despertar ás 7h00 e virei para o lado tentando pegar no sono novamente, não conseguia pensar na possibilidade de levantar naquele horário para fazer qualquer coisa.
Coloquei as mãos ao lado da cama procurando pelo meu namorado, mas não o encontrei, então agarrei o travesseiro dele ao meu corpo e segui com os olhos fechados.

- Ei - senti pingos de água no meu rosto e abri os olhos com o cenho franzido - Não me mata, linda - ele riu e jogou mais água em mim com os dedos, provavelmente tinha acabado de sair do banho.

- Vou ligar para o meu obstetra e dizer que é impossível levar uma vida com estresse mínimo ao seu lado - cobri a cabeça e segui tentando recuperar meu sono, apesar de saber que seria muito improvável.

- Tá dormindo muito, acorda - puxou a coberta do meu corpo e eu suspirei, desistindo de voltar a dormir e me negando a xingá-lo mais uma vez.

- O que você quer de mim? Sou só uma grávida indefesa - ele riu alto e subiu em cima do meu corpo, deu beijinho de bom dia e voltou para trocar de roupa.

- Vou passar na fisioterapia e em seguida ir para o treino se a Alice me liberar - ele fez referência a tal de fisioterapeuta que ele conversava no whatsapp e me irritava profundamente.

- Alice bla bla bla - resmunguei e ele me olhou com um sorrisinho sacana de lado - Não gosto dessa mulher, ela te quer.

- Olha o que você tá falando, nem se conhecem - ele riu abafado e eu fiquei o encarando e esperando alguma outra reação - Para de ser maluca.

- Maluca, né?! Deixa que logo logo eu jogo o interesse dela bem no meio da sua cara, e olha aqui - ele acabou de vestir a camiseta e voltou a me encarar - Se ela vier com qualquer gracinha, eu quero que você me conte no mesmo dia!

- Sim senhora, combinado - ele bateu continência em forma de brincadeira e eu levantei de uma vez da cama, indo ao banheiro para fazer minha higiene matinal.

Pouco tempo depois ele saiu para a caminho do CT e eu resolvi o levar até lá dirigindo.

- Toma cuidado com meu bebê, por favor - ele estava com uma cara de desespero enquanto me via dirigindo o brinquedinho dele e eu estava rindo por dentro.

- Seu bebê tá dentro de mim, isso aqui é só um carro - ele colocou a mão no peito como se estivesse ofendido e rimos em seguida.

- Não menospreza ele - ficamos em silêncio por alguns segundos até que ele deu continuidade - O Gabi vai fazer um churrasco na casa dele hoje a noite, você anda ficando enjoada as vezes, deixei pra confirmar com ele depois se nós iríamos.

- Podemos ir sim, comida fácil e de graça é sempre bem vinda né, jogador - fiz um breve carinho na barba dele e voltei atenção ao volante, antes que ele infartasse achando que bateria o bebezinho dele enquanto dirigia.

(...)
- Eu amava ela e sei que ela me amava também, mas é uma situação muito complicado porque nós não conseguimos achar um meio termo para as coisas ficarem leves e a parada fluir numa boa - Gabigol estava realmente desabafando comigo em relação ao namoro dele com a Rafaella e eu realmente não entendi o motivo disso, o amigo dele era o Giorgia, e não eu.

- Você sabe que eu sou amiga dela, né? - ele deu de ombros assentiu - É pra esse papo chegar aos ouvidos dela?

- Não, mano, não - ele colocou as duas mãos nos meus ombros e me olhou firme - Tô falando isso porque te acho madura pra caralho e confio no teu ponto de vista, mas nada a ver, o lance com ela acabou e respeito a amizade que nasceu entre vocês duas.

- Acho que é a primeira vez que posso dizer que vi o famoso Gabigol botar em jogo seu lado maduro, pelo menos comigo- rimos de leve.

- 26 anos de idade, preciso crescer e tenho você e o uruguaio como exemplo, tão construindo uma família linda, porra - ele me abraçou de lado e eu retribui - Isso é uma parada foda demais, é lindo e eu sei que minha hora vai chegar.

- É só escolher a pessoa que seu coração mandar, Gabriel... mesmo que em vários momentos a razão venha se intrometer nessa história, você tem que insistir no coração, ele sabe das coisas, mesmo que te faça sofrer - ele me olhava atento e com os olhos marejados - Em vários momentos, a proteção que a razão te oferece não compensa os momentos de amor que você vive, só se joga, aprendo isso dia a dia e é desafiador e lindo ao mesmo tempo.

- Você é demais, sério - ele fez carinho em meu braço e me abraçou novamente - Fico feliz pelo meu amigo ter encontrado uma mina responsa igual a tu.

- Tamo junto - deitei a cabeça em seu ombro e seguimos conversando sobre a vida e o dia a dia.

Vi Giorgian chegar com um suco vermelho em sua mão esquerda e uma cerveja na mão direita.

- Obrigada - levantei minha cabeça do ombro de Gabriel e peguei o suco de suas mãos - É de que, amor?

- Frutas vermelhas que eu sei que gosta - assenti e beberiquei - Vamos pegar alguma coisa pra comer? - ele perguntou me olhando enquanto o Gabriel seguia parado olhando para o outro lado.

- Gabi - o cutuquei para que ele tirasse o braço dos meus ombros e eu pudesse acompanhar meu namorado.

- Ah mas tá tão bom ficar aqui, eu tô carente e precisando de uma conselheira, uruguaio - Gabriel respondeu rindo e olhando em direção ao Giorgian.

- Aí você precisa arrumar uma namorada que te ajude, essa é minha - estendeu a mão em minha direção e eu peguei, levantei o mais rápido possível para evitar uma discussão idiota.

- Irmão, eu vejo ela como uma irmã também e ela tava só me dando uns papo sobre relacionamento, relaxa ai, tá?! Pilhou por nada - Gabriel levantou também e falou sério encarando o Giorgian.

- Isso não tem pé nem cabeça né, crianças? - encarei os dois peguei na mão do Giorgian - Pelo amor de Deus, vocês não vão ficar de cara feia por causa disso, ok?

Os dois continuaram se encarando com expressões que eu não entendi, mas pareciam dois idiotas e o momento exalava masculinidade frágil para os dois lados.

- Ok? - repeti mais alto e vi o Gabriel abraçar o amigo rapidamente, apertei a mão de Giorgian e ele retribuiu o abraço e saímos dali em direção ao local em que estavam as carnes.

- Cê tá doido, amor? Que isso? - claro que questionei a cena sem nexo que ele começou - O que foi isso agora, hein?

- Muitos abracinhos, muita mão em cima de você e muita proximidade - ele respondeu ainda com o maxilar travado e com cara de bravo.

- Quanta besteira, gente do céu - ele me olhou e continuei - A gente tava falando da ex namorada que é minha amiga e depois ele tava dizendo que somos um casal lindo e que temos sorte pelo que estamos construindo.

- Tabom, mas não precisava ficar abraçado e com a cabeça no ombro dele - ele não ouviu nada do que eu disse, é isso.

- Vou esperar sua crise de ciúmes do seu amigo passar porque não tô afim de discutir por absolutamente nada - enfatizei a última parte e soltei da mão dele para pegar um prato e algumas comidas.

Ele fez o mesmo e logo em seguida sentamos numa mesa com Éverton Ribeiro e Marília, sua esposa.

- Que cara de marrento é essa do seu boy? - Marília questionou em meu ouvido e esbocei um sorriso.

- Bateu uma crise idiota de ciúmes e eu não tô afim de dar atenção, sabe?! Lance nada a ver - respondi num tom baixo e ela assentiu.

Seguimos comendo e conversando até que eu olho para o lado e vejo a irmã do Gabriel e sua incrível amiga, Vitória, ao lado do Giorgian, puxando assunto com ele.

E lá vamos nós novamente.

- Oi, querida, como vai? - me levantei e estendi minha mão na frente daquela loira aguada