VINTE E OITO

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Comprei as passagens pela internet e decidi que iríamos realmente hoje à noite e voltaríamos no domingo à tarde. Tinha dado a minha palavra sobre assistir o jogo dele e iria cumprir.

Até comentei que queria a presença dele, mas obviamente ele estaria concentrado para o jogo, adiamos o lance de conhecer minha família para outro momento oportuno.

- É muita maluquice eu namorando com ele em menos de dois meses, sendo que vim ao Rio por conta do trabalho? – perguntei para a Manu já no avião mas acabei falando sozinho já que a mais nova mamãe do pedaço dormiu em minutos – Tô falando sozinha, ótimo – sussurrei no meu monólogo.

(...)

Assim que chegamos em São Paulo, esperamos nossa mãe no aeroporto, ela nos buscou de carro e, para minha surpresa e felicidade, Luana e Aline também estavam presentes. Ficamos em casa, fofocando e comendo.

- Quero mais um – Manu e eu falamos juntas sobre o último pedaço de pizza que estava na mesa de centro.

- É meu – me abaixei e peguei o pedaço.

- Gabriella – minha mãe chamou minha atenção e apontou com os olhos para a barriga ainda sem nenhum volume da minha irmã.

- Droga – suspirei derrotada e entreguei a pizza – Toma.

- Você já comeu três pedaços, amiga – Aline comentou me olhando – Até estranhei porque você não é de fazer essas coisas.

- Acho que esse voo abriu meu apetite – comentei tranquila, mas por dentro já existia uma leve preocupação.

A Manu me encarou rapidamente de canto de olho e eu entendi exatamente o recado. Eu conto tudo, e ela sabia das minhas aventuras sem proteção com o Giorgian, esses dias estava mais sensível que o normal emocionalmente e com um apetite que eu nunca tive na vida. Fiquei viajando nos meus pensamentos enquanto as quatro conversavam a minha volta

- Quero saber exatamente como foi esse pedido de namoro viu dona Gabriella – Luana comentou me tirando do transe e eu sorri com a lembrança daquele momento.

- Foi de um jeito não muito romântico, um pouco confuso – fiz uma pausa e suspirei – Bem a nossa cara mesmo.

Contei mais sobre aquele dia apesar de não fazer muito sentido para elas, pelo menos eu acho.

- Foi um momento marcante mas que pertence mais a mim e a ele mesmo e de um jeito que só eu ele conseguimos entender perfeitamente como foi especial – minha mãe começou a rir muito e em seguida Luana, Aline e Manu fizeram exatamente o mesmo.

- Nunca te vi desse jeito, nem quando era com o Vi... – levantei a mão fazendo sinal para minha mãe cortar a fala ali mesmo e ela entendeu. Ainda bem, ninguém merece lembrar do ex enquanto conta de algo fofo com o atual.

Me deu uma vontade de chorar do nada e absolutamente por razão específica nenhuma. Se isso fosse realmente uma TPM iria surtar em pouco tempo. Fiquei na varanda junto com meu gato, o Astolffo, resolvi me distrair e postei algumas fotos dele no meu stories.

Alguns amigos responderam a publicação, inclusive meu ex ficante daqui de São Paulo, Felipe, que queria até me ver mas dispensei ele, até mesmo porque amanhã depois do almoço já não estaria mais aqui, e vim só para ficar perto de quem amo.

Minha mãe de repente apareceu ao meu lado e ficou me olhando de um jeito esquisito.

- Que foi, mãe? – perguntei enquanto acariciava os pelos do meu gato.

- Você não tá normal – ela respondeu com um olhar que parecia estar me lendo de fora pra dentro.

- Se eu disser que posso estar na mesma situação que a Manu, você me mata? – perguntei rápido e ela franziu o cenho. Talvez me matasse mas eu precisava desabafar com alguém e externalizar isso antes eu explodisse – Eu fui irresponsável algumas vezes com meu namorado e só hoje passou pela minha cabeça que realmente posso ter engravidado e isso me desespera porque não é o que eu quero pra minha vida agora.

- Não te mato – ela falou devagar – Nem te aplaudo porque foi irresponsável mesmo – assenti com a cabeça, nem tinha o que falar.

- Tudo bem – minha mãe sempre teve a capacidade de me deixar sem palavras com uma frase minúscula, e olha que é difícil me deixar sem palavras.

- Mas isso não diminuiria em nada o meu amor por você, assim como está sendo com sua irmã – ela estava até calma demais com a Manu – Você é minha filha mais velha, responsável e independente, nada daria errado mesmo se isso for verdade.

- Eu sei disso tudo, só não queria viver isso nesse momento – minha mãe abriu os braços e fez uma expressão de "e daí? Já fez merda".

Ela se aproximou de mim e me abraçou forte.

- Te amo e sinto muito sua falta – comecei a chorar, eu estava com um controle emocional zerado nesse momento – E ele também – rimos porque o Astolffo quis entrar no abraço e começou a miar.

Voltei para a cozinha, comi um brigadeiro que achei na geladeira e ficamos por um bom tempo conversando na sala. Eu comecei a sentir muito sono e decidi ir para "meu" quarto que nem sei se é realmente meu ainda, me despedi das meninas e fui deitar.

- Que merda – fiquei pensando em como falaria algo para o Giorgian caso minha suspeita se confirmasse, seria horrível.

Esses pensamentos ficaram rodando na minha mente, até que peguei no sono. Acordamos tão tarde que nem tomei café da manhã, resolvemos almoçar em um restaurante próximo de onde nossa mãe morava.

- O que você tem? Porque tá tão quieta – Luana, que estava sentada, ao meu lado perguntou.

- Eu nem sei te responder, tô me sentindo estranha e introspectiva até demais – bebi meu suco de abacaxi – Eu sei que tô muito chata.

- Que bom – ela assentiu e riu em seguida – O jogador vai sofrer depois do jogo, tadinho.

- Olha, vou te confessar que ele tem sido bem paciente em alguns momentos, mas mesmo assim as vezes discutimos.

- As vezes? – Manu interrompeu a conversa com um tom de voz mais alto que o normal – Ela discute de dois em dois dias, e o pior, as vezes ele nem sabe e ela tá puta em casa com algo que nem sabe se ele fez.

- Cala a boca, Manoela – não queria falar disso – Cuida da tua vida, pirralha.

- Não sou pirralha, tô grávida agora, tá?! – mostrei a língua e suspirei porque simplesmente não aguentava mais ouvir a palavra "grávida" e não piorar meu estado de choque só de pensar nessa possibilidade.

Conversamos por mais algum tempo, olhei no relógio e faltava 40 minutos para o nosso voo de volta ao Rio e na mesma hora meu celular tocou e apareceu a foto dele na tela. Me levantei da mesa, ficando de pé ao lado de fora do restaurante e atendi.

"Gabriella: Oi, lindo. Tudo bem por aí?
Giorgian: oi, meu amor"

Meu coração ficou disparado por uns 5 segundos com o novo apelido carinhoso que ganhei, sorri sozinha e quando percebi já tinha perdido a fala dele.

" Giorgian: Hein? R
Gabriella: O quê? Não ouvi, foi mal
Giorgian: Tá tudo bem?
Gabriella: Tô meio aérea desde ontem, mas tá tudo bem sim
Giorgian: Posso separar seu lugar no camarote?
Gabriella: Pode sim, jogador, estarei lá
Giorgian: Com a minha camisa
Gabriella: O respeito pelo meu time tá indo embora aos poucos desde que te conheci
Giorgian: Flamenguista você vai ser mais feliz
Gabriella: Aham, quero só ver
Giorgian: O que eu ganho se fizer gol?
Gabriella: O amor da sua torcida favorita
Giorgian: E de você? Minha torcedora favorita
Gabriella: Vou pensar e te falo quando não tiver mais almoçando com a minha família e amigas, tá, meu bem?!
Giorgian: Tabom, né...
Gabriella: Cara de pau – demos risada e resolvi me despedir
Gabriella: Já já tenho voo de volta pro Rio, te vejo depois do jogo?
Giorgian: Sim, me espera no camarote, vou pra lá depois de um tempo que acabar o jogo e aí saímos
Gabriella: Combinado. Bom jogo, lindo
Giorgian: Obrigada, beijo!"

Me despedi das minhas amigas, e com lágrimas nos olhos (de novo) dei tchau para minha mãe, era a pessoa que provavelmente levarei mais tempo para ver novamente.

(...)

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Sirena | De ArrascaetaOnde histórias criam vida. Descubra agora