DEZOITO

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- Porque você começou a beber tanto e tão rápido do nada? - Aline me perguntou.
- Eu fico descontrolada com as coisas quando tô nervosa - respondi com a verdade, eu ficava mesmo e cerveja era o que tinha a fácil acesso para eu me encobrir meu nervosismo.
- Mas porque você tá nervosa? - porque eu tô nervosa? fiquei pensando por um tempinho, viajei com a música e ela me cutucou. Bebida me deixou muito aérea.
- Ai, amiga, acho que porque a gente ainda tá se conhecendo e agora ele vai conhecer mais duas pessoas das pessoas mais importantes da minha vida - ela continuou me encarando e esperando eu continuar - minha irmã ele já conhece, e parece que tá tudo indo muito rápido pra minha mente acompanhar, tô cheia de trabalho também e isso me desconcerta um pouco - bebi mais meia long neck de cerveja e prossegui - lembrando que tô nessa cidade com foco em trabalho, não era pra aparecer um jogador de futebol assim na minha vida, ainda é jogador - enfatizei e ela riu com meu desabafo.
- E daí? - não respondi mas bebi mais cerveja - Você veio aqui pra trabalhar mas é jovem e tem direito de ser feliz, parece que você tem dificuldade de aceitar que as coisas também podem ser leves e fáceis de lidar - agora eu queria chorar mas não posso aqui, pelo amor - Conhecer e curtir a vida com alguém não precisa ser um desafio, esquece seu ex, Gabi - queria chorar mais ainda agora.
- Não posso chorar e já tô ficando uma bêbada que fala demais e fica sensível - fui dar outro gole e ela tirou a cerveja da minha mão, fiquei paralisada encarando ela.
- Então chega, né, bebe uma água agora e relaxa - me abraçou e eu retribui, minhas amizades por perto fazem muita falta.
- Obrigada - saímos do abraço e peguei minha long neck de volta disfarçadamente- Eu só faria cagada na minha vida sem vocês duas por perto.
- Falando nisso, olha a Luana - olhei pra onde ela apontava, a nossa esquerda, e vimos ela beijando um carinha qualquer da balada, nos entreolhamos em seguida e demos risada.
- Ela sempre foi boa nisso - comentei ainda em meio às risadas.
- Você também, eu que sou e sempre fui a mais devagar - Aline falou fingindo uma cara de choro.
- É, eu causava por aí as vezes, não nego - meu passado não era obscuro mas foi bem aproveitado e traumatizante em alguns momentos também, faz parte do combo jovem do século XXI.
- Causava muito então? - Giorgian chegou, colocou os braços em volta da minha cintura e beijou minha bochecha - E aí? Tudo bem? - ele e Aline se cumprimentaram rapidamente, ela piscou pra mim e foi em direção a Luana.
- Me cumprimentar com beijo na bochecha é foda, parece que sou sua amiga - reclamei e ele riu.
- Você tá bêbada - ele afirmou.
- Eu não tô não, eu hein, uruguaio - franzi o cenho fazendo uma careta pra ele.
- Tem coisas que eu já sei que você não falaria sóbria - me colocou a frente dele e nos direcionou em direção ao bar.
- Tô ótima - começou a tocar trap no pub, o ambiente ficou mais intenso com as luzes e eu um pouco mais tonta porque realmente tava bêbada mas não precisava confessar nada, eu amava a música que tocava e cantei alto um trecho - Mas a vida é louca no mundão, nós só tá de passagem
Lembro dos quebrado que passei pra viver essa fase.

Pedi um gin tônica ao bar man, precisava mudar de drink porque tinha enjoado da cerveja e ela prejudica minha bexiga em grande quantidade, não daria certo. Giorgian bebeu suco, acho que por conta do trabalho no dia seguinte ele não deveria beber. E nem eu na verdade, não nessa quantidade pelo menos.

- Amanhã você não trabalha, né? - ele perguntou no meu ouvido, claramente lendo meus pensamentos.
- Pior que trabalho, não queria - abracei os ombros dele e sua mão direita foi em direção a minha cintura, enquanto bebia seu drink não alcoólico com a outra.

Filipe Ret começou a tocar no ambiente, eu cantava a música toda e ele cantarolava algumas partes e era fofo por conta do sotaque sempre evidente em qualquer fala, apesar do português quase perfeito.
Estávamos dançando mas meu drink havia terminado.

- Preciso de outro, isso tá muito bom - me virei e fui pedir, senti ele por trás de mim.
- Não tá na hora de ir mais devagar - eu me virei para trás para entender e ele apontou com os olhos para o gin cheio que estava em minhas mãos.
- Eu tô de boa - olhei em volta procurando minhas amigas com os olhos - Preciso achar as meninas, esse lugar lotou.
- Daqui a poucas horas você vai ter acordar bem e trabalhar - ele insistiu - Quer que eu pegue uma água ou suco pra você?
- Giorgian, não me enche o saco, sério - dei um passo para frente indo procurar as meninas, senti que ele não me acompanhou, virei para trás sentindo minha cabeça girar de novo e confirmei a informação, ele estava lá, parado - Vamos?

Ele ficou me olhando muito sério e depois de alguns segundos, minutos ou horas veio até mim, minha noção de tempo e espaço estava distorcida da realidade.
Encontramos elas depois de procurar um pouco, Luana que ainda não o conhecia me olhou e apresentei os dois, eles se cumprimentaram.
Dançamos e curtimos mais algumas músicas, eu não estava tão dedicada assim primeiramente porque não dançava bem mesmo e em segundo lugar porque eu tava ficando enjoada se me mexesse muito.

- Amiga, são quase três horas, a gente tem voo as 9h30 e você tem o escritório pra ir, vamos pro hotel? - assenti com a cabeça e fui em direção ao Giorgian.
- Vamos? - li nos lábios que ele disse sim mesmo sem ouvir nada e nós quatro caminhamos para sair do local.

Depois que pagamos a conta, saímos e ouvi a Luana falando que ia chamar um táxi, o Giorgian falou alguma coisa e fomos andando até eu ver um carro parecido com o dele. Eu tava em outro universo, bêbada. Mas consciente, eu não era de esquecer ou passar vergonha mesmo em estados piores que o dessa noite.
As meninas entraram no carro depois que eu o chamei pelo nome, caminhei em direção a ele para perto da porta do motorista.

- Você não me deu um beijinho hoje, tipo, nada - isso realmente me incomodou o tempo inteiro.
- Se soubesse que ficava assim quando bebe desse jeito, não tinha vindo - doeu.
- O que eu fiz? Eu sei que não é muito responsável porque trabalho mas queria curtir o último dia das minhas amigas aqui, foi o único dia que conseguimos sair, por favor, Giorgian - falei tudo enrolada e gesticulando demais, mas falei.
- Você tá certa - ele nem olhava na minha cara - Vamos?
- Não faz isso, eu tô tentando entender - choraminguei.
- É cansativo você sempre tentando me entender se é tudo óbvio - o tom de voz dele estava um tanto quanto grosseiro e desprovido de paciência.
- Você não precisa responder desse jeito - eu não queria isso porque iria chorar, eu não tenho autocontrole emocional quando tem álcool envolvido.
- Você não gosta mas fez igual ou pior comigo lá - apontou para o pub e continuou falando no mesmo tom.
(...)

Sirena | De ArrascaetaOnde histórias criam vida. Descubra agora