Capítulo 6

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Seis meses atrás, Michael França, meu namorado, me traiu em uma festa, na frente de toda escola, na minha frente.

Não posso dizer que não fiquei abalada. Era uma festa na piscina, na casa de Clara Oliveira, e todos estavam bebendo muito, inclusive eu.

Depois daquele dia, prometi à mim mesma nunca mais beber. Até porque não foi muito bom para Ander me ver entrando em casa chorando e vomitar no vaso sanitário, episódio que o fez me esperar na frente de casa todos os dias até hoje.

Eu me lembro de estar á procura do meu namorado, e de repente o encontro, só que não da maneira que eu esperava. Os dois estavam na piscina, e ela estava com as costas emprensadas contra a lateral direita, enquanto ele lhe beijava e passava as mãos por todas as partes de seu corpo. Mãos que graças a Deus não passaram pelo meu.

Acontece que eu não estava pronta, e ela estava mais do que madura. A minha maior raiva deveria ser direcionada à ele, que me colocou chifres, mas a traição dela foi o que mais pesou no meu coração.

Isso porque ela era minha amiga.

Evangeline.

Eu conheci Evangeline no quarto ano, e desde aí nos tornamos inseparáveis. Depois nos aproximamos de Isabella, na biblioteca na escola, e ela completou o que faltava na nossa vida. Isabella era inteligente e madura. Enquanto eu era calada e responsável.

Não sei como não percebi quem era realmente Evangeline até aquele dia. Ela falava mal de metade da escola, e dava em cima da outra metade. Talvez eu ainda visse aquela menina que subia nas árvores comigo e me ajudava a destruir o jardim da minha mãe.

Eu chorei pelo período de dois meses pela perda de uma amiga, e 2 semanas pela perda do meu namorado.

Realidade: ele era um imbecil.

Namorei com Michael porque o achei diferente das pessoas que viviam nessa cidade. Achei que ele era igual à mim, uma pessoa que vivia fora. Que não ligava. Com defeitos, claro, mas que não se preocupava com o defeito dos outros.

Mas não.

Ele só usava drogas.

Desde aí Evangeline nunca mais falou comigo. Ela nem sequer olhou na minha cara.

Engulo em seco minha maçã, e noto quando Lucas me encontra ao lado de Isabella, cerca de 3 minutos depois de ter Evangeline em sua cola.

Seus olhos brilham, e ele começa o movimento de pegar seu prato e vir na minha direção quando me levanto, assustando Isabella, e caminho com meu prato em direção ao lixo.

Não sei porque estou fugindo, mas não quero ter que ver algum futuro amigo meu se esfregando numa garota que eu não gosto. Não quero.
Sei que parece frescura, mas eu não ligo. Sou cheia de frescuras.

Nem a pau que vou passar por alguma coisa perto daquilo de novo.

Atravesso a porta do refeitório no momento em que Isabella me alcança.

- Ele não é o Michael, você sabe.

- Não, ele é pior. - retruco.

Ela pega meu braço, me virando de frente para si.

- Você precisa se deixar levar Anna! E não falo desse garoto, por mais que eu ache que vocês fariam um par muito mais bonito que ele e Evangeline... Acontece que eu não te vejo interessada em alguém a muito tempo, e então você conversa com esse garoto, e me aparece sorrindo igual uma idiota na sala...

Eu coro, percebendo que ela notou minha reação á conversa com Lucas mais cedo.

- Não foi isso, eu só o achei engraçado. - me defendo - e além do mais, você o viu com Evangeline! Ele não presta Isabella.

Ela suaviza sua expressão. - Eu sei, e acho que você não devia se machucar mais. Mas há tantos outros garotos interessados em você, e você nem liga! Anna, você tem que seguir em frente.

Eu afirmo com a cabeça. - Eu sei, só estou muito preocupada com Ander agora. Ele está melhorando, você sabe. Eu só quero me dedicar totalmente à ele antes.. - um nó se forma na minha garganta - .. de ir embora.

Ela acaricia meu braço - Tudo bem, eu entendo. Só pense no que eu estou falando. Vi Paulo, da aula de história mundial, te encarando durante o almoço. Quem sabe ele te chama pra sair?
Aceno, vencida pelo seu entusiasmo.

- Vou pensar.

E caminho em direção à aula de geometria.

****************

O último tempo foi um saco, e eu estou caminhando em direção ao portão de saída quando Lucas começa a andar ao meu lado.

- Então, o que você acha de parar numa lanchonete no caminho para casa? Eu pago. - ele me dá o sorriso.

- Eu não quero nada. Mas se você quiser ir, tudo bem, eu vou de ônibus. - digo, já feliz por não ter que ir para casa com ele.

- Não, minha tia disse para te levar para casa. Vamos, vou te deixar lá.

Resmungo, e caminhamos silenciosamente até seu carro. Assim que entramos, ele liga o som, e começa a tocar Infections of a diferent kind.

Eu amo essa música. E me deixo levar pela batida, até que vejo que não estamos seguindo a usual rota para casa.

- Pra onde estamos indo? - pergunto.

- Para uma lanchonete. Estou com fome.

Eu o encaro. - Pensei que tivesse dito que me levaria para casa.

Ele vira na esquina de uma lanchonete e desliga o motor do carro.

- Depois daqui eu te levo. Vamos.

Saio do carro, revirando os olhos e fazendo uma careta. Entramos e ele pega uma mesa no canto esquerdo. Estou me sentando enquanto ele pede hambúrgueres e batatas fritas com coca para a garçonete.

Assim que ela vai embora, ele se vira para mim.

- Então, porque você fugiu de mim na hora do almoço?

O segundo amor de Annabelle LouisOnde histórias criam vida. Descubra agora