Capítulo 7

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Faço uma careta.

- Não tem nada de melhor para falar? Depois você reclama que eu sou muito calada. Não quero falar sobre isso.

Ele suspira. - Você parecia extremamente irritada, e eu quero saber se foi comigo. Foi por causada garota? Como é mesmo o nome dela.. Evelyn..

- Evangeline. - digo, com a voz fria.

Ele dá um sorrisinho. - Ah, então era ela mesmo. Sabe, pensando bem, se te conhecesse bem, diria que ficou com ciúmes.

Eu faço outra careta. - Não?! Eu só acho que ela não presta. E já que somos "amigos" - levanto os dedos, fazendo um sinal de aspas - estou te aconselhando a não se envolver com ela.

Pronto, falei. Acho que a verdadeira abordagem sempre funciona melhor que desculpas esfarrapadas, e jogo logo o porque de ter me incomodado tanto.

A verdade é que ver Evangeline se esfregando em Lucas me deu um gosto ruim na boca, mas não acho que seja ciúmes, e sim indignação. É provável que ela tenha se insinuado para Lucas porque me viu falando com ele na entrada. E ele? Como ele pode dar em cima de 2 garotas ao mesmo tempo? Me deixa confusa.

Parece que os dois combinam.

Seus olhos brilham. - Você se importa um pouco com a situação, no entanto. Não sou um completo idiota.

Eu nego com a cabeça. - Eu ainda acho você um completo idiota.

Ele ri alto. - Você é teimosa, mas tudo bem. E para sua informação, - ele me olha nos olhos. - eu estou ciente de como é a tal da Evangeline.

Reviro os olhos. E o "nosso" pedido chega. Percebo que estou com fome, e pego uma batata frita para mim.

- Então. - começo - porque veio pra Elizabethtown? Me desculpe, não vejo um motivo para alguém querer vir para cá por vontade própria.

Ele sequer pisca quando explica:
- Eu não tinha uma boa relação com meu pai, só o aturava porque minha mãe morava lá, e então descobrimos que ela tinha câncer. Fiquei lá até que ela morresse. Depois decidi vir para cá, para a casa da irmã dela, minha tia. Não vi motivo para continuar com meu pai.

Eu lentamente assimilo as palavras. Ele falou rápido e cotidianamente coisas que uma pessoa normal falaria em uma hora perante um psicólogo. Fico com vergonha de ter feito uma pergunta tão pessoal, e coro.

Ele dá um sorrisinho. - Não precisa ficar com vergonha. No começo foi difícil, mas agora eu já me conformei.

Abaixo minha cabeça para as batatas fritas na minha frente, e ponho mais uma á boca. - Sim. - sussurro, mas logo me recomponho. - Mas porque Elizabethtown? Tipo, tem tantos lugares mais... legais.

Dessa vez ele fica sério:
- Primeiro porque a minha tia era a única parente viva da minha mãe, e segundo porque ela cresceu aqui. Ela brincou nessas florestas, e morou na mesma casa em que estou morando agora. Eu queria ver de perto o lugar que a fez ser quem ela era.

- Nenhuma pergunta pode ser impessoal para você? - eu brinco.

Eu me lança um sorriso fraco. Primeiro confuso
- Não. Parece que não nessa situação.

Ele de repente me devora com os olhos. É estranho como em um segundo estávamos falando de uma coisa séria e agora o garoto está encarando todas as minhas curvas.

Fico incomodada com seu olhar fixo.
- Você é um idiota. Não vou ficar com você, então pare de dar em cima de mim.

Ele pisca, e volta seu olhar para os meus olhos.

- Hã?

Faço a negativa. Lucas é realmente um garoto legal. Parece inteligente, mas tem que saber logo seus limites.

- Não estou gostando disso. Não gosto da maneira como me olha. Estou aqui para ajudá-lo, e não vou admitir outro comportamento.

Ele me olha nos olhos. Azuis e castanhos. Parece pensar profundamente em algo inalcansável para mim.

- Okay.

Meu coração salta. - Okay?

- Sim. Entendi. Não vou mais fazer isso.

Engulo em seco, e fico calada por um minuto enquanto ele come as batatas.

Dessa vez ele começa o assunto:
- E então, o que você quer ser quando crescer?

Reviro os olhos ante à sua pergunta de papaizinho.

- Quero fazer direito, e você? - pergunto.

- Não sei ainda...

Conversamos durante cerca de 40 minutos, e depois ele paga e caminhamos para o carro.

Quando entramos, pergunto quantos anos ele tem.

- 18.

Fico um pouco surpresa. 1 ano mais velho que eu. - Tenho 17.
Ele sorri. - Um bebê.

Eu dou um tapinha no seu pescoço, e ele não pode revidar, já que está dirigindo.

- Você vai pagar por isso.

Ele ri enquanto coloca alguma música no rádio. Dessa vez é uma desconhecida, mas possui uma letra bonita.

Ouvimos a lenta melodia, meio obscura, e depois Lucas me diz que é The Civil Wars. As vozes se confundem enquanto ele sussurra a letra.

Observo as árvores, e o vento bate nos meus cabelos. Sim... isso é bom. Fecho os olhos, e me sinto em paz, como a muito tempo não sentia.

Me viro para ver Lucas, e ele está olhando para mim, mas não do jeito da lanchonete. Está com um sorriso de felicidade no rosto, e enquanto ele vira seus olhos para a estrada novamente, percebo que está sentindo a mesma paz que eu.

*****************

Ele estaciona o carro na frente da minha casa, e dessa vez não pulo do carro, porque não estou com medo do "momento constrangedor". Eu dou um sorriso de agradecimento, e quando estou saindo do carro, ele me chama:

- Anna? - estremeço com o apelido.

- Sim? - respondo.

- Obrigado por ir lá comigo hoje, mesmo que não fosse a sua vontade. E obrigado por me ouvir.

Eu fico calada por um tempo.

- É pra isso que servem os amigos, certo? - sorrio para ele.

- Certo. - seus olhos brilham. - Bem, agora que eu te deixei em casa, segura, vou para a minha, adeus! - ele dá um tchau melodramático enquanto fecho a porta sem responder, rindo.

Logo ele acelera e anda cerca de 2 metros, até estar de frente para a casa dele, e desliga, saindo do carro. Eu rio, caminhando até a minha casa, e antes de entrar, o vejo parado ao lado do seu retrovisor, me observando.

Fecho a porta, e de novo percebo o sorriso idiota no rosto.

O segundo amor de Annabelle LouisOnde histórias criam vida. Descubra agora