Capítulo 13

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Olho pela janela do carro. O garoto não faz perguntas fáceis.

- Meu ex-namorado. Ficamos juntos por 8 meses.

Vejo de relance ele apertar as mãos no volante:
- E o que aconteceu?

- Ele me traiu com Evangeline. - digo, com meus olhos ardendo.

Não de tristeza, se tem alguma coisa que agradeço é por Michael ter me traído. Parece estranho dizer, mas é verdade. Eu só fico triste por ter esperado mais de uma grande amiga.

Eu menti para Evangeline. Ela não me livrou de um peso, me livrou de dois. Só hoje percebi como ela também fazia mal para mim.

Tratava Ander de uma maneira horrível, ignorando-o e chamando-o de pirralho, enquanto que Isabella o tratava como seu irmão.

Claro que na época não levei a sério. Achei que ela não fazia por mal.

- Sinto muito. - ele diz. - Você e Evangeline eram amigas?
Eu aceno com a cabeça.

A verdade é que eu e Evangeline éramos quase irmãs. Não nos desgrudávamos, só que Evangeline nunca havia ido muito com a cara de Isabella. Bem, o sentimento era recíproco.

- Sinto muito mesmo Anna. Foi por minha causa que ela foi para cima de você. Prometo que já dei um basta nisso e ela não vai mais lhe incomodar.

- Não precisa fazer nada para mim, Lucas. Eu sei me cuidar.

Ele sorri torto, e me lança um olhar travesso:
- Eu vi bem. O que aconteceu ali? Você parecia uma galerosa - ele diz rindo.

Eu dou uma gargalhada, lembrando de como disse que iria quebrar as pernas dela. Com certeza não fui muito simpática.
- Acho que fui muito cruel. - sussurro. - Eu disse coisas que, por mais que sejam verdades, não deveriam ser ditas.

Lucas coloca a mão no meu joelho e acaricia levemente, consolando-me. Sei que deveria impor limites, mas me sinto feliz ao sentir o calor que sua palma transmite para a minha perna. Parece um calmante para o sentimento de culpa.

- Anna, só pelo fato de estar com remorso, você não é cruel. Eu achei, na verdade, muito legal o que você fez.

Solto uma risada relaxante. - Só um idiota como você para me animar em uma hora dessas.

Ele parece refletir enquanto dirige. Resolvo deixa-lo com seus pensamentos e olho pela janela.

Fecho os olhos quando sinto o vento bater em meus cabelos.

Aquela sensação de paz que sempre sinto quando estou no carro com Lucas volta, só que melhor, por causa de sua mão, que só deixa meu joelho para trocar a marcha do carro.

Desvio meus olhos para seus grandes braços, a camisa preta um pouco colada no corpo, mas não daquele jeito gay, está mais para sexy - penso comigo mesma.
Subo para seu queixo quadrado, com a barba já aparecendo, e finalmente chego nos olhos azuis, cobertos pelo cabelo preto, todo bagunçado, como sempre.

Ele se declarou de uma maneira bem engraçada para mim hoje, o que me lembrou da sua apresentação, no dia em que nos conhecemos. E eu meio que dei um fora nele.

Eu só... não quero me machucar. Quero uma vida calma, com um relacionamento calmo. E Lucas parece oferecer o contrário de tudo o que preciso.

Também há o ponto de me mudar. Eu quero sair daqui o mais rápido possível, já Lucas veio para cá. Ele vai ficar aqui por causa da mãe.

Ele vira, e me pega encarando-o. Sinto meu rosto queimar e rapidamente olho para frente. Disfarço falando a primeira coisa que vem na mente:
- Então, você vai entrar para o time de vôlei masculino? Aa inscrições já estão abertas.

Ele ri um pouco, e me lança um olhar travesso. - Não sei, e você? Vai para o feminino?

A conversa parece um pouco forçada, mas eu não ligo. Realmente gosto de vôlei.

Reviro os olhos. - Eu já estou no time. Desde o ano retrasado. Sou líbero.

Ele pensa um pouco, e depois me olha impressionado:
- Ah, então é por isso que consegue carregar seu irmão com tanta facilidade! Você faz vôlei, deve ter força nos braços.

Me questiono sobre quando ele me viu carregando Ander, mas resolvo deixar para lá. Já não fico surpresa se ele me disser que colocou câmeras na minha casa.

- E nas pernas. - afirmo. - as pessoas pensam que só usamos braços. Mas boa parte do jogo vem dos movimentos das pernas. Vôlei é mais técnica, se você colocar uma criança para jogar futebol, ela com certeza irá pegar a manha, já no vôlei...-

- Tá tá, legal bocão. - ele me diz, usando a fala do filme A casa monstro.

Eu lhe mostro a minha língua, e ele ri. Passamos o resto do caminho falando sobre os testes no fim de semana.

Quando Lucas me deixa em casa. De repente não quero sair do carro. Sua mão não saiu no meu joelho a viagem inteira, e ele também parece muito feliz.

- Então - digo. - ainda vamos para a festa? É amanhã.

Seus olhos brilham com a menção da festa. Não sei porque, mas quero ir. Não saio direito desde os chifres que foram colocados na minha testa.

- Claro! Você ainda vai com Paul? Talvez eu posso te dar carona.
Junto minhas sobrancelhas. - Você não vai com aquela garota? A loira?

Ele me dá um sorrisinho. - Não mais. Desmarquei. Então? Que tal irmos juntos?

Resolvo que se formos só como amigos, tudo bem. Ainda não dei meu endereço para Paul, então vou só desmarcar com ele.

Sei que parece cruel, mas Lucas também fez isso e não ouvi que houve algum suicídio da garota.

- Seria ótimo. Até amanhã então.
- Até amanhã.

Nos encaramos por um longo tempo. Logo ele parece se dar conta de alguma coisa, e tira a mão da minha perna. O frio que me invadiu me acordou para sair do carro.

Ele fica do lado do carro enquanto entro em casa. Como se me esperasse entrar em casa para poder entrar na sua. Sorrio com seu comportamento. Lucas é um garoto peculiar.

De novo, como nas últimas noites, durmo pensando em seus olhos azuis, só que dessa vez acompanhados do sorriso torto, que parece ter sido feito para mim.

O segundo amor de Annabelle LouisOnde histórias criam vida. Descubra agora