AnnabelleForam três dias.
Eu havia dito.
Três nunca foi meu número da sorte.
- Annabelle Rose Louis! Se você não levantar dessa cama agora, vai se ver comigo!
Abro meus olhos. A ideia de ir para a escola, de vê-los, já não me parece mais tão promissora do que setenta e duas horas atrás.
- Por favor, mãe, por favor, me deixe faltar hoje..-
- O quê?! Você faltou nos últimos três dias!
Teve aula nos últimos três dias? Merda, hoje é quinta.
Me levanto lentamente, sentindo a dor aguda nos ossos, fruto de horas deitada na mesma posição. Me encaminho para o banheiro e vejo meu reflexo no espelho.
A visão embaçada pelo inchaço nos olhos não me deixa ver muita coisa, além do ninho de rato que é meu cabelo e meu pijama de ursinhos, que coloquei ontem.
Olhe só para você. Está horrível.
Tiro a segunda pele e tomo um banho demorado de água fria. No quarto, escolher uma boa roupa é minha menor preocupação no momento.
O quê você quer? Voltar horrorosa para a escola? Quer se humilhar mais do que já foi humilhada?
Definitivamente não.
Coloco meus melhores jeans e botas de combate. O cabelo solto e despenteado despropositalmente me oferece um aspecto rebelde, e coloco uma camisa preta por cima.
Essa. Essa é você.
No banheiro, passo uma maquiagem básica, apenas para cobrir as olheiras, e pego minha mochila, saindo do quarto.
E congelo.
Ela está na frente do quarto de hóspedes, com sua mochila na mão. Olha para trás surpresa, e depois se distancia. - D-desculpe, achei que estivesse... que não fosse..
Franzo a testa. - Bem, eu vou.
Vejo a cor tomar conta das suas bochechas. - Eu.. hã.. acho melhor eu ir..-
Interrompo-a com uma mão, e encaro-a profundamente. - Fique o tempo que quiser, eu te chamei.
Dito isto, desço as escadas rapidamente, fugindo de sua resposta.
Desde o ocorrido, não tenho falado com ela. Aliás, não tenho falado com ninguém, e com o tempo, todos pararam: de bater na porta, de perguntar, de insistir. Acho que no fim, todos sabiam o que havia acontecido.
Ao contrário do que eu mesma previra, não senti raiva quando a vi. Não vomitei palavras de acusação contra minha melhor amiga, nem tentei arrancar seus cabelos. Eu só senti... tristeza, acho.
Achei que ela tivesse ido embora. Provavelmente está na casa deles. Sem mim, é claro.
Vejo o carro vermelho, e ando na direção contrária, como se ele fosse infeccioso. É quase cômico que a falta de carona por sua parte me lembre que passamos pela mesma coisa, uma vez, com Michael.
Bem, Michael parece um garoto de cinco anos comparado aos nossos problemas atuais.
Você não está mais no problema.
Ando em direção à floresta, sem me importar com o ponto de ônibus. Pelos meus cálculos, se eu andar rápido, poderei chegar antes do primeiro tempo.
Caminho inspirando pesadamente o ar úmido da floresta. Por que parece que estou indo em direção à guilhotina?
Se passaram três dias. Todos devem saber agora, ou pelo menos suspeitam. E a fofoca correrá mais rápido que um guepardo assim que não nos virem juntos. Nem almoçando, nem caminhando pelos corredores, muito menos indo para casa.
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O segundo amor de Annabelle Louis
Random"Pego-a pela cintura, assustando-a, e ela solta um gritinho, vindo para mais perto,me olhando com um sorriso travesso no rosto. Abaixo minha cabeça e encontro meus lábios nos dela. Ela fica na ponta dos pés e põe os braços ao redor do meu pescoço, e...