Capítulo 9

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Acordo com o alarme gritando pelo quarto. Ander me pediu para ficar com ele noite passada, e por isso estou muito cansada até para abrir os olhos.

-Anna? Você está bem? -  abro os olhos. Minha mãe está parada na porta com um cesto de roupas sujas. Como essa mulher consegue lavar roupas tão cedo?

- Sim - sussurro.

- Então vá se arrumar, você está atrasada!

Ai.

Levanto da cama e me encaminho para o banho.

Quarenta minutos depois, de banho tomado, cabelo penteado e qualquer calça e camiseta que achei no armário, pego minha bolsa e estou abrindo a porta da frente quando ouço atrás de mim:

- Aleluia, achei que tivesse morrido no banho.

Me assusto, e quando viro, dou de cara com Lucas.

- Mas que diabos!..

Ele ri, e levanta as mãos em sinal de defesa. - Não me olhe assim, foi sua mãe quem me deixou entrar.

Desvio o olhar para minha mãe, que está dobrando as roupas calmamente no balcão, mas sei que está ouvindo tudo.

Solto um suspiro. - Okay, vamos. Tchau mãe.

- Thau. Juízo os dois. - dessa vez ela escuta.

Assim que entro no carro, Lucas liga o rádio, e uma música de balada começa a tocar. Sério? Ás 7 da manhã?

- Então -  ele desliga o rádio com um sorriso no rosto - onde está seu pai?

- Ele anda trabalhando duro em um projeto ultimamente, então sai mais cedo de casa para o escritório. - respondo, distraída com a imagem dos meus cabelos no retrovisor.

Fala sério, por que eles não podem ficar para baixo? Parece que têem vida própria.

Pego uma liga do meu pulso e os penteio com meus dedos, depois amarro em um coque frouxo.

Bem melhor. Sorrio.

Lucas tosse no volante, e me viro preocupada. Ele está com um pequeno rubor que vai até as orelhas, e que é engraçado para um garoto do seu tamanho.

- E o seu pai? - pergunto.

Ele sorri. - Eu sinceramente não sei o que ele anda fazendo agora, ou onde está.

Solto um suspiro triste. Conheço Lucas á pouco tempo, mas já o vejo como alguém especial. Ele não mereçe o pai do cenário triste que me mostrou ontem.

- É bom. - digo, enraivecida - se seu pai aparecer por aqui, coloco o babaca pra correr.

Por um momento, não escuto nada, e acho que Lucas está pensando sobre como me deixa zangada que seu próprio pai o tratou de forma inadequada.

Mas então, ele solta uma gargalhada, digna de poluição sonora, e me viro para questiona-lo sobre achar graça da minha ameaça.

- Como ousa? - estou indiganada. - estou falando sério!

Ele continua rindo, e depois eu me contagio, e começo a rir com ele. Por algum motivo, sua risada fica estranha, e vejo lágrimas nos seus olhos. Acho a cena ainda mais engraçada e rio mais alto.

Ficamos nessa coisa retardada até estacionarmos na escola, e todos estranham enquanto saímos rindo do carro.

- Você é um idiota. - digo sorrindo.

- Já me chamaram de coisa pior.
Reviro os olhos.

- Ei - ele me para. - Obrigado, de verdade.

Eu fico surpresa, mas logo me recomponho.

- Não tem de quê. Te vejo na hora do almoço?

Seus olhos brilham, provavelmente lembrando do que aconteceu da última vez que eu disse isso.

- Dessa vez, acho que sim.

E vai embora, dono de si. Me distraio com uma movimentação, e quando presto atenção, são algumas garotas, incluindo Evangeline, admirando Lucas de longe.

Então Evangeline se vira para mim. É a primeira vez que nota minha existência em seis meses, e fico estática. Ela fala alguma coisa para uma amiga do lado, e as duas começam a rir.

Reviro os olhos e começo a caminhada até minha sala, fervendo. Sempre imaginei que quando ele me visse, e lembrasse, pelo menos se sentiria triste. Mas não, ela foi a vaca que Isabella sempre disse que seria.

******************

Na hora do almoço, localizo o cabelo ondulado e escuro de Isabella, e ao mesmo tempo ela me acha, já que levanta os braços como se eu estivesse à 1 km de distância.

Sento ao seu lado, e ela cutuca a "coisa" que a tia colocou no nosso prato hoje.

- Não cutuque. - digo, pegando um garfo e separando  aquilo do que eu sei o que é.

- Seu gato gatoso está vindo em nossa direçãão. - ela canta.

Reviro os olhos, e realmente, Lucas chega com sua "coisa" no prato, e  se senta na minha frente.

- Oi. - ele me diz. Aceno com a cabeça, e Isabella dá um sorriso encantado.

- E aí! Sou Isabella, a amiga mais bonita da Anna. Prazer.

Ele ri. - Lucas Parker. - E os dois trocam um aperto de mão.

Lucas então, desafiando todas as leis da vida, pega o garfo e come a "coisa".

- Não! - Isabella grita, mas já é tarde demais. Ele já está mastigando.

Bufo ante à reação desesperada de Isabella. Fiquei surpresa, mas até agora ele não morreu, então acho que é comida.

- O que foi?? - ele pergunta, já pegando outra porção. Ignoro Isabella falando sobre vigilãncia sanitária, infecção alimentar e morte. E Lucas também parece ignorar, porque continua comendo.

Movo meus olhos pelo refeitório, e sinto olhos em mim. Me viro para ver Evangeline me encarando com um olhar mortal, e depois seus olhos se movem para a nuca de Lucas.

Okay, okay, até admito que me senti feliz de dar esse gostinho pra ela, não é todo dia que se pode dar o troco. Mas eu faço a minha melhor cara de inocente. Não tenho segundas intenções com Lucas, e quero deixar isso bem claro.

Mas acho que minha expressão a irritou mais ainda, porque ela bufa e vai embora.

Droga.

Deveria ser legal Evangeline me notar duas vezes em um único dia, mas não. Tenho uma sensação ruim na boca do estômago, como se coisa nada boa estivesse por vir.

O segundo amor de Annabelle LouisOnde histórias criam vida. Descubra agora