Capítulo Vinte e Sete

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Se Samantha quisesse me amarrar na cama e me bater, eu agradeceria e pediria por mais

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Se Samantha quisesse me amarrar na cama e me bater, eu agradeceria e pediria por mais. Não conseguia tirar meus olhos dela ou sequer fechar a boca.

Apesar de todo o trabalho dos últimos dias, sempre havia tempo para uma festa. Sam e eu fomos convidadas para o aniversário de Austin, que decidiu comemorar em plena quarta feira. Com dois dos meus projetos já entregues, estava um pouco mais tranquila e decidi que não tinha problemas irmos comemorar. O único, na verdade, era é que era festa fantasia. Quem em sã consciência faz uma festa fantasia no meio da semana? Aparentemente, Austin. Tinha insistido para que fôssemos de super-heroinas, mais especificamente de Super e Wonder girl, mas Sam recusou. Ridícula. Estávamos desde segunda-feira tentando encontrar uma coisa legal, no momento em que ela deu um pulo exasperada, dizendo que tinha uma ideia.

Passamos a noite de ontem no shopping, encontrando peças para compor nossas fantasias. Meus pés ainda estavam doloridos. Por mais vergonhoso e estranho que tenha sido, encontramos cintos com coldres em um Sex Shop. Pessoas podem ter fetiches estranhos, fazer o que. Depois, Samantha não economizou dinheiro com o resto das peças. Ainda estava me perguntando como ela foi tão certeira indo lá, ao invés de uma loja de fantasias convencionais.

— Ficou bom? — ela perguntou dando uma voltinha.

Pisquei duas vezes, saindo do transe, antes de responder:

— Você está incrível — e não era mentira.

— Alguma coisa eu tinha que aprender com minha mãe, não acha?

Samantha sorriu, iluminando mais ainda seu rosto. Ela passou a última noite quase inteira montando nossas fantasias e confesso que não tinha entendido muito bem, mas depois que ela me mostrou as composições, fiquei impressionada.

Basicamente, estamos vestidas para matar. Uma essência que ao mesmo tempo era parecida, não era. Eu estava vestida como uma mercenária toda moderna. Um macacão gola alta todo em cirre preto fosco e que, segundo Sam, me deixava boazuda. Seja de onde for que ela desenterrou essa palavra, queria dizer que o macacão ressaltava cada curva do meu corpo. Provavelmente pelo fato dela ter comprado um número a menos do que costumo usar. Ela teve que me ajudar a entrar nele. Para completar, prendi o cinto, enquanto ela desvendava como que prendia o coldre da perna e não era para meu rosto que a providência divina olhava cada vez que olhava para cima. Felizmente, tudo era preto, com excessão do colete de couro que também foi comprado. Ele ia até a cintura e era cinza escuro, dando para notar a diferença no tom. Quantos mais de nós resolvemos boicotar o trabalho  depois do almoço, ainda não tinha descoberto. Para finalizar, tinha colocado as luvas que iam do cotovelo até o início dos dedos, com buracos para cada um deles e botas caneladas com salto pequeno. Os cabelos estavam soltos como de costume.

Já Samantha, resolveu investir em um estilo misturado de Lara Croft e Ruby Roundhouse, ambas de jogos de ação e sobrevivência. Só as conheço por causa dos filmes e, mesmo assim, levei um tempo para me lembrar de quem se tratava. Usava o cropped vermelho de Ruby e o cinto cruzado que começava nas costas e terminava logo abaixo dos peitos. Se ela estava com frio, não reclamou de nada. Usava também uma calça cargô marrom esverdeada e coturnos que quase chegavam na panturrilha. Assim como eu, usava um cinto com coldre que, desta vez, eu a ajudei a prender. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo alto, embora algumas mechas estivessem soltas. As luvas eram como as minhas, embora as dela fossem apenas até o punho. Para completar, pegou minha jaqueta de couro surrada e uma gargantilha do mesmo tom que a blusa. Colocou o acessório e depois a blusa. Uma "Ruby Croft" algumas boas vezes mais limpa. E linda. E pensar que disso tudo, o que mais me surpreendia era saber que ela jogava ambos os jogos com o irmão.

— Amarro a bandana no braço? — Perguntou, me fazendo parar de comer ela com os olhos.

— Tem certeza de que temos mesmo que ir a essa festa? — olhei para a cama em uma proposta silenciosa.

Sam se aproximou de mim e agarrou-se em meu colete, me puxando para mais perto dela e deu um sorriso que aprendi a conhecer e entender perfeitamente o que significava. Definitivamente, um dos meus favoritos.

— Acha que você também não está irresistível nesse macacão? Se eu posso me conter, você também pode. E quem sabe, quando voltarmos, não te ajudo a tirá-lo? — ela roçou o nariz em meu queixo e beijou o canto da minha boca e, então, se afastou. — Alex... Acha mesmo que ninguém vai ficar olhando para nós? Não que eu esteja com vergonha, é só que...

Ela engoliu em seco e sorri para tranquilizar ela.

— É claro que vão olhar. Estamos lindas e gostosas — respirei fundo, deixando as brincadeiras de lado. — Escuta, algumas pessoas podem sim olhar, mas é só ignorar. É claro que sempre vai ter um ou outro, mas a maioria já nos conhece. Nossos colegas de trabalho.

— Eu sei. É só que eu nunca... Você sabe... Nunca sai na rua assumidamente com ninguém antes. E se algum colega do meu pai vir? E se ele próprio nos pegar? E se o pessoal começar a tirar sarro da minha cara depois de tudo o que aconteceu com Zach? E eu estou feliz com você. É só que... Sei lá, eu tenho medo.

Samantha se sentou na beirada na minha cama e suspirou. Entendia esse medo dela. Entendia de verdade e acreditava ser um dos medos mais comuns que temos. Mas também não pude deixar de pensar quantos desses medos não são culpa do pai dela, que vivia ameaçando tais coisas. Com a vida toda sendo oprimida, mesmo estando distante, agora que ela estava livre, a liberdade poderia ser assustadora. Me sentei ao lado dela e coloquei a mão sobre sua coxa.

— Se não estiver bem para ir, não vamos. Está tudo bem por mim, ou por você sentir medo. É normal, Sam — falei com a voz mais calma que consegui. — E não posso dizer para você que ninguém nunca vai rir, ou fazer comentários maldosos, porque isso vai acontecer. Não estou dizendo que hoje, ou amanhã, mas um dia isso vai acontecer. Mas cabe a você decidir se isso vai te afetar, ou não. Acontece que nem todos são ruins como ele — não precisei falar quem para que ela entendesse. — E quanto ao pessoal do escritório, é óbvio que eles vão falar. Imagina só! Até pouco tempo mal podíamos nos olhar na cara que já queríamos pular uma no pescoço da outra.

— E você não se importa?

— Hunf! É claro que não! Eu nunca fui uma pessoa santa e todos sabem muito bem disso. Aposto que nem vão ficar surpresos.

Sam se calou, provavelmente decidindo se iríamos, ou não.

Todos nós sabíamos que a decisão de uma festa no meio da semana era para boicotar Mitchell Stone. Lembro de Austin comentar que seria durante todo o final de semana, mas com a troca de chefes e a ditadura implantada na empresa, aposto que foi apenas com esse intuito. Como vamos levantar amanhã e ir trabalhar, é um mistério. Só espero que estejamos sóbrios o suficiente para escutar um sermão do dono da S.A.U.. Sorte teve a Sam, que saiu de lá antes que aquele lugar virasse o inferno.

— Vamos então. Não ficamos gostosas assim para ficarmos em casa — Samantha decidiu. Abri a boca para protestar, mas ela me calou antes de eu tentar. — Depois, Alex! Se estiver sóbria o bastante.

Com o sorriso que ela me deu, não tive coragem de protestar. Nos levantamos e pegamos nossas coisas, incluindo o presente do aniversariante, e saímos.

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