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APOLLONIA

Milão
27, fevereiro 1997

Após ver o carro de Al se afastar de sua antiga casa, Apollonia decidiu entrar para ver como estava as coisas. No dia anterior, ele havia avisado aos poucos empregados que continuavam preservando a casa Palermo, de que a herdeira voltaria a morar lá, por decorrência a motivos pessoais.

A pedido dela, Fredo também não esqueceu de avisa-los de que não haveria necessidade de continuarem lá, então, a casa estava completamente vazia. Depois de quase 20 anos sem pisar os pés em tal casa, sentiu um cheiro familiar, daqueles que não se podem explicar. Estava em casa de novo.

Então, já conhecendo o caminho de cor, Apollonia foi de cômodo em cômodo, relembrando momento por momento.

Chegou primeiro á sala de estar. Tudo estava limpo e bem arejado, os sofás intactos, cortinas abertas e as janelas também. Depois foi à cozinha, ao quarto de seu pai, seguido do que anos atrás era o seu. E por último, chegou ao escritório.

Ela não suportou a emoção. Transbordava nela a vontade de se jogar no chão encerado e chorar lágrimas de saudades até seu último dia de vida. Mas ela não o fez. Primeiramente, ela olhou ao seu redor, observando cada parte das prateleiras e das janelas e para qual vista elas proporcionavam. Depois olhou para frente. Para a mesa de seu pai e os porta retratos que ele mantinha lá.

Haviam vários, quase não havia lugar na escrivaninha nem mesmo para colocar um pedaço de papel, se quer. No total eram 7. Quatro de Apollonia e seu pai, 2 de momentos memoráveis em sua carreira como o lugar na elite Italiana como a família mandante e mais 1, esse 1 que mexeu totalmente com suas lembranças mais empoeiradas.

Bastou ver tal foto, que saiu inquieta à procurar o que desejava. Com o porta retrato nas mãos, correu até o início do corredor, que dava acesso ao seu quarto. Procurou nas gavetas, em caixas grandes e pequenas, atrás do guarda-roupas e dentro dele. Pensou ter o perdido, junto com as lembranças de um amor esquecido e a felicidade de saber que era amada, ou pelo menos pensar que era.

X

Milão, 1984

Demorou um tempo para que cumprimentassem todos que chegavam de uma só vez, lhe dar os parabéns pelos 15 anos de idade e começo da carreira como fotógrafa, apesar que sempre tentavam a influenciar para seguir carreira como mafiosa. Porém, ela era mais ágil e esperta que eles, adultos de 40 anos.

Os últimos a chegarem foram a família Moretti. Vincenzo cumprimentou primeiro seu pai, dando os parabéns pelo feito na semana passada. Ela não sabia naquela época, mas seu pai havia se tornado um dos homens mais poderoso da Itália.

Aléssii foi o primeira a lhe parabenizar, seguido do ragazzo Marco, que na época tinha apenas 8 anos. A família havia lhe dado um presente por todos os integrantes, porém não era nada simples e humilde, se pensa isso. Na realidade era nada mais do que um cheque num valor abundante. 300 mil liras.

Fredo optou por ser o último a dar os parabéns. Ele pegou em sua mão, a levou para perto da boca e beijou sem que muitos reparassem nisso. Mas foi o suficiente para tirar um sorriso dela. E além disso, ele dizia trazer consigo um presente separado da sua família, já que tinha prometido isso alguns dias antes.

Buon compleanno, Lônia.- disse ele quase que impossível de ouvir. Fredo sempre teve a voz baixa como a de um médico.

Ele olhou para a pequena caixa que trazia consigo e entregou para a amada que agradecia pelo presente.

Ela sabia que mesmo indo para Nova Ioque, ou viajando pelo mundo inteiro, acabaria voltando para visitar Fredo em alguma folga que ele tivesse como militar, apesar de sua família não apoiar. Apollonia torcia para que ele conseguisse o que queria, e parecia realmente estar cada vez mais perto de conseguir. Mas ao mesmo tempo, tinha medo de que nunca mais o visse. O exército dá férias, claro. Mas a morte não.

Da mesma forma, manteve esperança de que o colar humilde de diamantes possa a deixar mais perto dele.

X

Ela simplesmente não aceitava o fato de ter perdido o colar ou presente mais sentimental que uma vez havia ganhado. Procurou não só em seu quarto, mas também no resto dos cômodos da casa, tentando ao mesmo tempo se lembrar de onde havia deixado quando se mudou para Nova Iorque.

Mas ai ela se sentou, respirou e deixou que o desânimo a consumisse por pelo menos aquele momento. Mas ai ela mirou seus olhos á sua frente, viu na sala de longe, uma pequena caixa preta com seu nome. Sem criar expectativa, deu aproximadamente 6 ou 7 passos largos, e abriu. Estava lá.

Os Solitários de 1997Onde histórias criam vida. Descubra agora